Sentimentos e câncer: qual a relação entre esses dois?

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  • Da Redação

Publicado em 10 de julho de 2019 às 14:35

- Atualizado há um ano

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O câncer é carregado de estigmas e preconceitos, sendo visto como um vilão, para muitas pessoas. Há quem fique muito assustado ao pensar nisso. Porque há uma tendência de se enxergar apenas o prejuízo que esse diagnóstico causa. Costumo dizer que uma parte desse temor é legítimo, porque afinal de contas, quando o câncer chega, há muitas mudanças desagradáveis e ameaçadoras. Perdas de partes do corpo, alteração da rotina, adiamento de alguns planos, nova rotina de exames e consultas, efeitos colaterais, novas decisões a tomar... Enfim, um novo cenário se instala, junto com uma turbulência emocional sofrida. Isso é real e humano. Vale a pena frisar que não é frescura nem fraqueza. E tudo isso merece um acolhimento afetivo e efetivo de um psicólogo e da família.

Já acompanhei pessoas que através dessa vivência dolorosa, conseguiram renascer e rever a sua vida, porque conseguiram enxergar a doença com bons olhos. Eu sempre digo que trabalhando com Psico-oncologia há 14 anos, o câncer me ensinou que ele pode ser uma oportunidade de transformação positiva, se a pessoa desejar e se comprometer com isso. Mas para isso, é importante que ela enxergue além do prejuízo que o câncer pode causar.

Então, ao olharmos além da parte negativa do câncer, nos daremos conta de que estamos falando de uma doença multifatorial. Ou seja, não acontece do nada e nem cai do céu. E gente, não é azar, tá? E a pessoa não tem culpa de ter ficado doente, viu? É uma doença construída por cada ser humano dentro do seu próprio corpo. Ou seja, é responsável e não culpado. Porque tudo que nos acontece, temos responsabilidade por isso, mesmo que não saibamos qual. Talvez, eu esteja te decepcionando ou te incomodando com essa informação, mas você pode saber disso. Segue aqui comigo que você vai entender do que estou falando.

Há muitos fatores que desencadeiam o câncer, quando associados entre si. Quais são? Tabagismo, alcoolismo, maus hábitos alimentares, estresse, sedentarismo e genética. Exceto esse último, os outros fatores passam pelas escolhas de cada pessoa. O que você introduz no seu corpo, como você cuida do seu corpo, quais sentimentos você carrega, como você lida com os desafios da vida e com os eventos nefastos e difíceis. Assim, tudo isso pode levar ao desenvolvimento do câncer.

Agora vou me deter a um desses fatores, que é o estresse. Como ele acontece? Através de uma sobrecarga física e emocional intensa diante de algum acontecimento muito negativo ou a repetição desse. Pode ser um evento traumático

ou alguns casos de depressão e de ansiedade também. A Psico-oncologia e a Psiconeuroendocrinoimunologia já identificaram que quando o estresse, o trauma, a depressão ou a ansiedade (de maneira intensiva e a longo prazo) acontecem, o sistema imunológico (a defesa do corpo humano) diminui devido a liberação excessiva e frequente de substâncias nocivas. Se a pessoa possui um ou mais daqueles outros fatores que citei acima, isso se associa a baixa imunidade, abrindo portas para o desenvolvimento do câncer. Aqui estou escrevendo de maneira resumida, é claro, porque esse processo é muito mais complexo. Mas ele se dá de maneira silenciosa e pode levar anos se desenvolvendo lentamente. Um tempo depois, a pessoa descobre o câncer através de sintomas ou exames.

Além disso, há outro caminho possível de construção do câncer, já identificado pelas Constelações Familiares e Sistêmicas. Este diz respeito a emaranhamentos familiares. O que isso significa? Quando ocorre algum evento nefasto na família atual ou ancestral, tempos depois, um descendente desenvolve o câncer, de maneira inconsciente, para que a doença represente um membro familiar ou um movimento em direção àquele parente que sofreu o evento nefasto. Tudo isso ocorre de maneira oculta e invisível, tá? Ou seja, a pessoa que desenvolve câncer não tem culpa alguma! Na verdade, são escolhas conscientes e/ou inconscientes que todos fazemos diante dos eventos marcantes da vida e isso pode gerar desdobramentos bons e ruins. E assim, o corpo é atingido, desenvolvendo o câncer ou outras doenças.

É forte isso, né? Principalmente, porque em geral, as pessoas não tomam consciência dos seus hábitos e das suas escolhas. Caminham na vida sem auto-percepção, ligadas no automático. E é verdade que é mais fácil seguir na vida sem olhar pra dentro e viver superficialmente. Bem mais fácil. Mas isso tem um preço também, como toda escolha tem consequências.

Quando chega o câncer, há aquele impacto enorme! E com razão, é claro! E é legítimo vivenciar o sofrimento, nesse momento.

Mas calma, nem tudo está perdido! Se a pessoa desejar, há muito o que fazer para desfazer esse caminho doentio. Diversos tipos de ciências podem ajudar, porque já se sabe atualmente, o caminho inverso que precisa ser feito na direção da vida saudável. Processos psicológicos, energéticos e de caminhos nocivos dentro do corpo podem ser superados e refeitos. Não estou falando de cura do câncer, porque isso é uma questão bem mais complexa. Mas sim, é possível desfazer as dinâmicas psíquicas e sistêmicas ocultas que alimentam o câncer. E consequentemente o caminho neuroendócrinoimunologico pode ser modificado na direção da saúde.

Essa perspectiva que estou trazendo diz respeito à visão sistêmica sobre tudo o que acontece. Ou seja, uma pedra que cai no mar provoca ondas ao seu redor.

Assim como, toda e qualquer mudança no corpo, altera o corpo de alguma forma, mesmo que sem você perceber.

Pois bem. Do mesmo jeito que a pessoa é responsável pelo desenvolvimento da doença, ela é responsável pelo desenvolvimento da saúde. Porque responsável? Porque tudo o que acontece com você diz respeito a você. Então, está ao seu alcance. Como assim? Através dos hábitos, do estilo de vida, das escolhas, do autoconhecimento e da conscientização de tudo isso.

Aí você me pergunta: “Mas Sabrina, o que eu posso fazer para estar mais consciente e fazer escolhas melhores na direção de uma vida mais saudável?” Eu lhe respondo: “Ótima pergunta porque há tantas coisas possíveis! Irei te responder.”

A primeira resposta é tenha hábitos saudáveis. Parece ser simples, mas eu sei que não é. Porque é mais fácil permanecer na zona de conforto. Porém, hábitos saudáveis, como uma boa noite de sono, refeições com alimentos nutritivos, atividade física regular, rotina de trabalho dentro do seu limite individual, trabalhar com o que gosta, ter momentos de lazer e de prazer, cuidar da espiritualidade, meditar, cultivar relacionamentos saudáveis, ter contato com a natureza, tudo isso pode te preencher de vida e de saúde. E já se sabe que tudo isso previne o câncer e outras doenças. Porque previne? Porque todos esses hábitos promovem substâncias saudáveis dentro do seu corpo, equilibram o sistema imunológico e não sobrecarregam seus órgãos.

Segunda resposta. Cuidar do estilo de vida é fundamental. Avaliar com quem você se relaciona, se você se sente integrado à vida, se vê sentido em viver, se tem esperança e prazer nos seus relacionamentos e sonhos. Você acorda com vontade de viver o seu dia? Sente-se com energia para encarar os desafios ou não? Ou se sente sempre cansado, dezenergizado? Como anda o seu humor? Você dá risadas? Tem motivos para rir e se alegrar? Consegue rir das dificuldades e dos desafios também? Ou é pessimista e nunca vê luz no fim do túnel?

Terceira resposta. Os sentimentos e pensamentos que passam por nós são muito mais importantes do que você pode imaginar. Eles nos influenciam de maneira significativa, corporal e energeticamente. Vale a pena e é útil para sua saúde e bem estar, prestar atenção nessa parte que também lhe compõe. Então, faço mais algumas perguntas para você e aproveite a oportunidade para responder pra si mesmo.

Quais escolhas você faz diante de cada situação vivenciada? Perante as tarefas mais chatas que tem que realizar, como você escolhe encará-las? Quando surgem desafios grandes e difíceis, perdas com sofrimento, como você escolhe encará-los? Quando você sente ameaça diante de uma situação muito nefasta, como você lida com isso? Você presta atenção nos sentimentos? Você engole ou aceita

seus sentimentos? Você os identifica, mas finge que nem está sentindo medo, raiva, tristeza, por exemplo? Quando está diante de uma situação muito difícil, com esses sentimentos, você afirma pra si mesmo: “Não vou pensar nisso, se não, vou atrair”; “Tenho que esquecer isso”; “Preciso mudar o foco e pronto”; “Não, isso é coisa da minha cabeça. Não é nada!” ou outros pensamentos semelhantes? Você escolhe dormir e não pensar em nada ou mudar de assunto e se distrair com outras coisas, quando está numa situação estressante? Você se permite ter medo, raiva e tristeza e se acolhe? Tem empatia consigo mesmo? Dá um tempo para processar internamente o que está sentindo?

Eu sempre digo que se o sentimento passou por você mesmo em qualquer intensidade, significa que ele já está aí dentro. Sei que muitas vezes, é difícil senti-lo. É mesmo. Dói, aperta, incomoda, atrapalha, distancia, preocupa. Sempre queremos nos afastar de tudo isso. Porque nossa tendência humana é muito mais para buscar o prazer e viver o conforto (o que é muito bom!). Mas faz parte da vida também ter medo, raiva, tristeza, inveja, impotência, frustação, ansiedade e tantos outros sentimentos. Isso tudo compõe a vida.

E quando esses sentimentos desconfortáveis ficam aí dentro de você, sem reconhecimento e consciência deles, na verdade, eles tomam mais força e crescem silenciosamente. Isso pode favorecer um processo de desmagnetização energética das células do seu corpo, em alguma parte. E isso leva ao adoecimento físico, com o passar do tempo.

Bert Hellinger, o criador das Constelações Familiares e Sistêmicas, diz que tudo que aceitamos perde força e se apazigua. Então, a tomada de consciência dos sentimentos, identificando-os e aceitando, leva à diminuição desses até o desaparecimento. Mas quando falo em aceitar, não quero dizer que você tem que ficar com medo pra sempre, por exemplo. É o contrário. Na verdade, é reconhecer: “Sim, estou com medo do câncer”, por exemplo. É reconhecer a verdade que está dentro de você naquele momento. Com isso, você pode se cuidar e buscar ajuda, na direção do que você precisa para superar o desconforto do sentimento. Não é negando a verdade do seu sentimento que isso vai passar. É assumindo a verdade. Essa atitude interna te leva na direção da paz interior. E assim seu corpo se apazigua, vibra uma frequência energética bem melhor e libera substâncias mais saudáveis.

Bom, agora eu te convido a respirar fundo. Você leu muitas informações mobilizadoras. Reconheço. Deve estar com um monte de pensamentos, perguntas e sentimentos aí dentro. Então, toma um tempo só pra você. Respira fundo novamente. Fica em silêncio e se permita olhar para dentro. Apenas se dando conta do que está passando por você nesse exato momento. Respira fundo de novo. Sente o ar entrando e saindo pelo nariz e pela boca. Se puder e desejar, te sugiro voltar naquelas perguntas que eu te fiz acima sobre seu estilo de vida, suas escolhas, sua

lida diante dos desafios. Avalia bem suas respostas. Anota num caderno ou bloco de notas. Pode crer, o tempo que você dá (e não gasta) a si mesmo vale ouro! E isso trás tanta saúde pra dentro de você, que você nem imagina. Estar conectado com a vida é o caminho para a prevenção do câncer ou para o enfrentamento dele, caso ele esteja aí com você também.

* Sabrina Costa é psicóloga especialista em Psico-oncologia e Consteladora Familiar e Sistêmica