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Miro Palma
Publicado em 25 de julho de 2019 às 17:35
- Atualizado há um ano
“Eu sou funcionário do Bahia, cara”, repetiu, por diversas vezes, com um sorriso orgulhoso, o auxiliar administrativo do Bahia, Adherbal Amaral, ou simplesmente seu Adherbal. E era. Mas não era qualquer funcionário. Seu Adherbal era “O” funcionário. Uma figura que, há mais de três décadas, personificava o clube. Quis o destino que, na manhã desta quinta-feira (25), após 17 anos lutando contra um câncer, o velhinho descansasse.
A função de auxiliar administrativo poucas vezes ganha destaque em um clube de futebol. No entanto, mais uma vez, seu Adherbal não era qualquer auxiliar administrativo. Ele era o cara que se fazia presente em todos os cantos daquele Fazendão. Era quem buscava os novos jogadores e novos técnicos no aeroporto e lhes mostrava as primeiras cores de Salvador. Era, também, quem saía em busca de um lar para que todos os recém-chegados e suas famílias se sentissem em casa. Já foi até uma espécie de cegonha quando levou a esposa do jogador Alison para dar à luz no hospital.
E não parava por aí. Adherbal era o amuleto do tricolor. Em algumas oportunidades, era presença no avião para que o time, então, pudesse partir para uma nova disputa. Era o intrépido das apostas inusitadas e o dono dos “puxões de orelha” mais bem-humorados. “Olha, você tá perdendo gol, cara”, dizia entre risos. Dele e do atleta.
Com os jornalistas, seu Adherbal sempre foi uma figura. Se faltava um lanchinho na sala de imprensa, era o primeiro a dizer: “Vou ligar para os caras para mandar trazer agora”. Não demorava muito a chegar o biscoito maisena e aquele suquinho que forravam o estômago. Era a resenha divertida durante a espera pelo fim dos treinos para então começar a entrevista coletiva. Era pura alegria. Passei seis dos meus 11 anos de profissão indo ao Fazendão com frequência e nunca vi seu Adherbal sem um sorriso no rosto. Nos cinco anos restantes, cruzei com ele algumas vezes na Fonte Nova e lá estava a simpatia de sempre.
O velhinho era a cara do Bahia. Foi o “capitão” escolhido pelos jogadores para levantar a taça do último título do Esquadrão, o 48º estadual, em maio deste ano. E era um torcedor apaixonado pelo tricolor. Era da equipe e da torcida. Seu Adherbal era o próprio clube. E, por isso, sua partida esteja sendo tão sentida. Não se encontram mais “Adherbais” por aí com tanta facilidade. Pessoas que dedicam sua vida a um clube – ou qualquer outra causa – por décadas a fio. Que escolhem ver a vida por um prisma positivo, mesmo quando ela insiste em lhe apresentar inúmeros obstáculos.
Por fim, seu Adherbal era um exemplo. Era não, é. É e sempre será um exemplo de um amante do futebol. Daqueles para se admirar. Daqueles que viram histórias para contar aos filhos e netos. Um exemplo que todo torcedor, especialmente o do Bahia, tem orgulho de lembrar. Um verdadeiro ídolo. Sim, porque ídolos não precisam vir, necessariamente, de dentro dos campos. Precisam, apenas, honrar a camisa. E isso, seu Adherbal fez com maestria por décadas. Vá em paz, grande tricolor. Sua missão por aqui foi cumprida, e o Bahia ganhou mais uma estrela.
Miro Palma é subeditor de Esporte