Seu dinheiro: 10 coisas para saber sobre as fintechs

Juros menores e custo zero de manutenção são algumas das vantagens prometidas pelas startups financeiras

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  • Priscila Natividade

Publicado em 27 de agosto de 2018 às 05:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Morgana Miranda/ CORREIO

O modelo de banco no qual o consumidor precisava se deslocar até a agência para abrir uma conta ou resolver pendências está mudando: cada vez é menos físico e mais digital. Esta transformação atende pelo nome de fintechs, que são companhias de tecnologia voltadas para o mundo financeiro. Essas empresas estão no mercado para dar novas alternativas na relação banco e cliente e acirrar a disputa pela oferta de crédito, prometendo taxas menores e ganhos maiores. 

Por isso, a reportagem listou 10 pontos importantes que o consumidor precisa saber antes de colocar o dinheiro dele em uma fintech. Seja na contratação de um crédito ou na aplicação em um investimento, as fintechs apostam em vantagens como taxa zero na manutenção da conta, custos reduzidos na operação de investimentos e juros no cheque especial a partir de 2,03% (veja no tira-dúvidas abaixo).

Por outro lado, as taxas de empréstimo pessoal são maiores que as cobradas pelos bancos tradicionais, 4,82%, em média, face a 3,59% dos bancos físicos. O comparativo foi feito pelo educador financeiro e colunista do CORREIO, Edísio Freire, que vê como vantagem a agilidade das plataformas financeiras digitais, mas alerta que o consumidor pode não encontrar um atendimento tão personalizado. “Os critérios de avaliação de crédito são mais impessoais, o que aumenta as chances de negativa”, diz.

Alternativa Os atrativos levaram o universitário Roberto Paim a trocar o cartão de crédito do banco por um de uma fintech. Além do cartão, ele também optou pela conta digital. “Eu tinha sempre dificuldade de saber qual valor da minha fatura antes dela ser fechada. Além disso, nos cartões convencionais, é uma burocracia chata pra resolver qualquer questão, por menor que seja”, justifica. 

Esta desburocratização, como destaca o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel de Oliveira, tem aumentado a popularidade das startups financeiras. “É um segmento que tende a crescer não só com a entrada de novas empresas no mercado, mas pelos próprios bancos que já se movimentam e estão criando bancos digitais com receio de perder sua importância e espaço”. 

Para o educador financeiro da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Cassio Motomura, outro motivo que tem levado o consumidor a sair do tradicional é o de ter um poder maior na hora de gerir sua conta. “O alto nível tecnológico torna o acesso a esses serviços mais rápido, fácil e com um custo menor, o que dá mais autonomia para acompanhar suas finanças”. 

São confiáveis? Atualmente, as fintechs têm autorização do Banco Central (BC) para movimentação de uma conta, utilização de cartões, concessão de crédito ou aplicação financeira. Inclusive, elas passaram a operar como conta salário, mercado que até o último mês era exclusivo dos bancos tradicionais. 

Segundo a economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Ione Amorim, antes de abrir uma conta ou contratar um produto ou serviço de uma fintech, o consumidor precisa verificar se a empresa está autorizada a funcionar pelo Banco Central e conferir sua reputação nos órgãos de defesa do consumidor e em sites na internet. 

“Muitas empresas ainda estão em fase inicial de operação no mercado e podem não oferecer todos os serviços. Algumas só permitem que os cartões sejam utilizados para saques, outras que só permitem a realização de pagamentos ou ainda não possuem ampla aceitação no mercado. O consumidor deve estar atento a isso”, completa a especialista. 

Uma das maiores preocupações com as fintechs é se elas dispõem de capital suficiente para garantir a remuneração dos seus clientes.De acordo com a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), 75% dessas empresas registraram crescimento no último ano. Para metade delas, o aumento passou dos 30%. Números e percentuais que indicam que as fintechs vieram para ficar. 

Tire suas dúvidas sobre as fintechs

Por que as fintechs estão chamando a atenção do consumidor e do mercado? As fintechs oferecem produtos e serviços financeiros que antes eram restritos aos bancos de varejo, como por exemplo o mais básico deles: a conta- corrente. A diferença é que o acesso a esses serviços é mais rápido e fácil, além do custo para  ter acesso a eles ser menor em relação aos grandes bancos.

Quais são os principais diferenciais competitivos das fintechs em comparação com os bancos comuns? A principal vantagem das fintechs É o alto nível tecnológico, que justifica uma estrutura enxuta e de baixíssimo custo. Com gastos muito menores, as fintechs podem oferecer produtos e serviços com condições mais vantajosas para os clientes.

Como funcionam as Fintechs? As fintechs funcionam como empresas que aliam setores da tecnologia e serviços financeiros, que adotam modelos de negócios  escalonáveis e inovam em produtos e serviços que buscam preencher a lacuna deixada por instituições financeiras tradicionais, como os bancos, por exemplo.

De que maneira os bancos tradicionais estão reagindo às fintechs? Os players atuais estão direcionando seu foco para a inovação e assim  aumentar sua eficiência operacional e expandir. tudo isso muito estimulado pelo o espaço que as fintechs vem ocupando no mercado. Outro ponto nesta disputa está na adequação de custo das taxas e de produtos.

O que ainda é um desafio para fintechs?  As fintechs ainda tÊm dificuldades para conquistar clientes. Por isso estão reformulando a experiência com o usuário e acertando o ritmo de inovação. Agregam valor também com relação ao baixo  custo dos serviços, maior retorno em investimentos e taxas de juros mais atrativas do que as dos bancos tradicionais.

Existe algum fator impeditivo da atuação das fintechs no Brasil? Desde abril, as fintechs de crédito estão amparadas por regulamentação específica: a resolução nº 4.656 do Banco Central. As regras destacam as condições para as fintechs que irão operar a oferta de crédito como Sociedade de Crédito Direto (SCD) e Sociedade de Empréstimos entre Pessoas(SEP). A SCD opera com recursos próprios e não pode captar no mercado, enquanto a SEP liga quem tem recursos para emprestar a quem necessita de crédito.

As fintechs vão tomar o lugar dos bancos? A modernização do mercado financeiro é caminho sem volta. As fintechs defendem a integração com o sistema financeiro e as empresas tradicionais, a partir de parceria com bancos, na qual elas  acabam vendendo esta tecnologia no aprimoramento do serviço financeiro. A fase é de amadurecimento.

O que elas trazem de inovação para o consumidor? As soluções têm como base tecnologias como inteligência artificial, blockchain, big data, nuvem, IoT, cloud, mobile e robotização. Essa reinvenção tecnológica constante será decisiva para que as fintechs continuem se diferenciando no mercado, já que muitos dos grandes bancos por meio de investimentos, parcerias ou aquisições estão avançando no processo.

O que o consumidor precisa saber antes de colocar o seu dinheiro em uma fintech? É preciso conferir se a empresa está autorizada a funcionar com base nas normas do Conselho Monetário Nacional (CMN), que são convertidas em resoluções e circulares por meio do Banco Central, órgão regulador do sistema financeiro nacional.

As fintechs acirram a competitividade entre os bancos tradicionais? Além de se apresentar como uma alternativa ao sistema tradicional, as fintechs permitem a redução nos custos e maior poder de barganha  ao consumidor para pressionar os bancos na renegociação de contas e operações de crédito, e também na redução nos custos de administração de investimentos.

Bancos X Fintechs

Juros do cheque especial

Bancos tradicionais: 6,91% a 14,61% Fintechs:  2,03% a 11,99%

Tarifas bancárias e manutenção de conta 

Bancos tradicionais: Em média, R$ 29,90  Fintechs:  Taxa zero

Juros do rotativo do cartão de crédito

Bancos tradicionais: 9,39% a 14,73%  Fintechs:  6,54% a 13,71%

Custo para operações de investimento

Bancos tradicionais:  0,5% a 3%  Fintechs:  0,49% a 1,15%

Juros do empréstimo pessoal

Bancos tradicionais: 3,59% Fintechs:  4,82%

 Fonte: Comparativo elaborado pelo colunista do CORREIO, Edísio Freire, tendo como base dados do Banco Central