Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 30 de abril de 2019 às 15:07
- Atualizado há 2 anos
O Hospital da Criança de Brasília fez no último fim de semana uma cirurgia de 20 horas para separação das gêmeas Lis e Mel, que nasceram ligadas pelo crânio em junho do ano passado. O estado delas ainda é considerado muito delicado, mas, de acordo com a equipe médica, a recuperação das pacientes supera as expectativas.>
Lis já foi retirada do coma induzido. "Há ainda um longo período pela frente, mas o resultado obtido até o momento é muito bom. Estamos confiantes", afirmou o anestesiologista da equipe, Luciano Alves Fares. Casos de gêmeos que nascem ligados pelo crânio (definidos pela ciência como craniópagos) são raríssimos. A estimativa é de que ocorra um em cada 2,5 milhões de nascimentos. O diagnóstico da má-formação foi feito ainda na 10ª semana de gestação.>
Quinze dias depois, uma equipe multidisciplinar, liderada pelo neurocirurgião Benício Oton de Lima, começou a ser formada para acompanhar o caso. "Foi a primeira e provavelmente a última cirurgia desse tipo que vou fazer na minha vida. Esse é um caso muito raro", contou Oton de Lima. >
A ideia de fazer a cirurgia de separação vinha sendo trabalhada desde a gestação. Mas a estratégia cirúrgica foi definida apenas no primeiro mês de vida dos bebês, quando exames descartaram o risco de drenagem venosa compartilhada. Isso significava que o sistema venoso de cada uma das gêmeas era independente, o que permitia que a cirurgia fosse feita em apenas uma etapa.>
As crianças nasceram com a parte frontal direita ligada uma a outra. Como a distância entre os crânios era muito pequena, foi necessária a realização de fisioterapia e uma série de procedimentos preparatórios para a operação.>
Em janeiro, por exemplo, uma cirurgia foi feita para implantação de cinco extensores de silicone. O objetivo era expandir a pele da face das crianças que mais tarde seria usada para cobrir a cicatriz da cirurgia na região frontal. A equipe, com cerca de 50 integrantes, enfrentou uma maratona de encontros para planejamento da cirurgia e treinamento dos procedimentos que seriam realizados.>
Cinco profissionais estrangeiros, ligados ao The Children's Hospital at Montefiore, dos Estados Unidos, que já tinham experiência nesse tipo de caso, foram convidados para acompanhar a operação. A equipe de convidados, três médicos e duas enfermeiras, assistiu a cirurgia "O planejamento foi fundamental. Avaliamos todas as etapas, todos os riscos. Ainda há muito pela frente, mas tudo está caminhando como o imaginado", afirmou o cirurgião plástico da equipe, Ricardo Machado Homem. Não há ainda como saber se haverá sequelas nos bebês. Mas Oton Lima afirma haver chances de boa recuperação.>
Em primeiro lugar, porque a cirurgia foi feita ainda no primeiro ano de vida dos bebês, quando a neuroplasticidade (capacidade de recuperação) é mais acentuada. Além disso, a ligação dos crânios ocorreu no lobo frontal, onde há menos riscos de sequelas. As gêmeas são as primeiras filhas do casal Camila Vieira Neves, de 25 anos, e Rodrigo Martins Aragão, de 30 anos. "Meu sonho é agora levá-las para passear. Fazer coisas simples, que ainda não conseguimos fazer." A expectativa é de que as meninas permaneçam mais 15 dias no hospital antes da alta.>
O casal mora em Ceilândia, cidade nas proximidades de Brasília. "Ver as duas separadas foi um sonho que se realizou. Uma espera que acabou e a certeza de que a gente ganhou uma guerra. Sabemos que teremos outras batalhas, mas a gente vai vencer." A cirurgia foi feita em duas etapas, com duas salas de apoio. Equipes também eram distintas. O grupo encarregado de atender Mel estava equipado com toucas, máscaras e luvas amarelas. A equipe que atuou com Lis, usou rosa.>
"Tudo foi separado, instrumentos, insumos, com cores específicas de cada uma", contou o anestesiologista. "Estamos muito otimistas e nos preparando para, no dia 1º de junho, comemorar o aniversário de 1 ano das meninas com um bolo e uma festa", completou.>