Síndrome da Cabana: O desafio de resgatar o direito de voltar à rua após a pandemia

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  • Andreia Santana

Publicado em 31 de julho de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Estudantes do ensino médio da rede estadual de educação em Salvador se sentem pressionados por dois medos: de um lado, a volta às aulas presenciais, reiniciadas na segunda (26) e o risco de se contaminar com a covid-19; e, do outro, a pressão pelo prazo curto para se preparar para as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021, marcadas para novembro, daqui a menos de quatro meses. 

Em Tóquio, a ginasta norte-americana Simone Biles, 22, uma das estrelas mundiais do esporte, também sucumbiu à pressão. Se em Salvador, poucos estudantes compareceram ao primeiro dia de aula; no Japão, a atleta desistiu de competir, na quarta (28), temendo o impacto da Olimpíada em sua saúde mental.

Nos dois casos, o dos estudantes baianos que faltaram aula por se sentirem inseguros – a vacinação ainda não chegou no grupo de 18 anos e nem em quem tem menos idade - e o da atleta que desistiu da medalha de ouro, os efeitos psicológicos da pandemia são parte da explicação.

Síndrome da Cabana (saiba mais no final do texto) é o nome dado a esse receio paralisante de sair de casa depois de longos períodos de isolamento. Uma escola, mesmo que com todos os protocolos, e uma Olímpiada, com delegações do mundo inteiro, podem parecer ameaçadoras para quem se ‘acostumou’, depois de quase um ano e meio de distanciamento social, a interagir só com a própria família. Movimento de volta às aulas presenciais na rede estadual foi abaixo do esperado (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Embora muitos saiam de casa desde a chegada da covid-19 ao Brasil, em março de 2020, porque suas atividades profissionais não pararam e nem permitiam home-office, a verdade é que, quanto mais gente se vacina, mais os serviços voltam ao normal e mais gente volta a circular nas ruas, o que pode intimidar quem está cumprindo o isolamento à risca. 

Em um primeiro momento, o desconfinamento pode provocar crises agudas de estresse, inclusive com sintomas físicos. Ao menos é o que dizem especialistas da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática. Nos primeiros meses do isolamento, as duas entidades haviam alertado que a retomada da convivência em grupo e a reocupação das ruas não seria fácil e tão natural para todas as pessoas, que muitas precisariam de ajuda profissional para vencer a Síndrome da Cabana.

Simone Biles, em entrevista após desistir de Tóquio, confirmou ser difícil para ela competir nessa Olimpíada, ou seja, nos jogos da pandemia. Além das pressões do esporte, o medo de se contaminar e a própria atmosfera, com as máscaras e protocolos, foram demais para ela lidar. 

Por aqui, as escolas que estão acolhendo esses adolescentes duplamente pressionados pelo vírus e pelo Enem, também precisam dar atenção à saúde mental dos estudantes. 

SAIBA MAIS: SÍNDROME DA CABANA*

O que é - A Síndrome da Cabana é um quadro de ansiedade aguda gerada quando, após longos períodos de confinamento, uma pessoa precisa deixar o ambiente doméstico para as tarefas diárias e interagir com outras pessoas;  A história - O termo foi descrito pela primeira vez nos anos 1900, por conta das pessoas que passavam longos períodos em isolamento, em campos de caça situados em lugares remotos. Ao voltarem para o convívio social, elas não se adaptavam;  O que causa - Fobia de sair de casa e/ou se relacionar com outras pessoas; picos de estresse e ansiedade com sintomas como taquicardia e dor no peito; insegurança e angústia; desequilíbrio do ciclo de sono  Como evitar - Cuide da saúde mental; busque apoio psicológico se perceber que o receio de sair gera crise de ansiedade; caso ainda não tenha, adote uma rotina diária, dividindo o tempo das tarefas domésticas, do trabalho/estudo e das atividades de lazer; evite a armadilha do 'Se'... (e se eu me contaminar, e se eu perder o emprego...). É importante ser prevenido contra o coronavírus, mas não crie barreiras que podem paralisar sua vida;

*Fonte: Associação Brasileira de Medicina Psicossomática Simone disse sentir 'o peso do mundo nos ombros' (Foto: Reprodução/Instagram) ATO DE CORAGEM"Temos que proteger nossas mentes e nossos corpos e não apenas sair e fazer o que o mundo quer que façamos, Simone Biles"Ginasta norte-americana de 22 anos, ao desistir da final por equipes e da competição individual de ginástica artística na Olimpíada de Tóquio, alegando precisar se afastar para cuidar de sua saúde mental.

OUTROS DESTAQUES DO NOTICIÁRIO

Luto no humor No centenário de Orlando Drummond, em 2019, nova Escolinha do Professor Raimundo homenageou o icônico Seu Peru (Foto: TV Globo/Divulgação) O ator, humorista e dublador Orlando Drummond, o inesquecível Seu Peru da Escolinha do Professor Raimundo, programa de Chico Anysio exibido na Globo nos anos 1990, morreu na terça-feira (27), no Rio de Janeiro, aos 101 anos. O artista, que dublou personagens como Scooby Doo, por mais de 35 anos, Alf – O Eteimoso, Vingador e Gargamel, estava internado desde maio devido a uma infecção urinária. Em 2019, no seu centenário, Orlando - e o icônico Seu Peru - foi homenageado pela nova versão da Escolinha por humoristas da nova geração.

Vacina para menores Crianças e adolescentes de 12 a 17 anos, com comorbidades ou deficiências, começaram a ser cadastrados desde a quarta (28), em Salvador, para serem vacinadas contra a covid-19. Segundo a prefeitura, a ideia é que esse público seja imunizado assim que houver autorização por parte do Ministério da Saúde (MS). Em junho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), autorizou que menores a partir de 12 anos sejam vacinados com as doses da Pfizer, a única vacina autorizada a ser aplicada em gente abaixo dos 18 anos no Brasil.

PARA REFLETIR Zezé Motta terminou de gravar filme e estará em duas séries da Globo (Foto: Daryan Dornelles/Divulgação) "O que não podemos deixar é de bater na tecla de que cada pessoa discriminada tem que reagir. Quem sofre racismo não pode engolir sapo, tem que denunciar, Zezé MotaEm entrevista na segunda-feira (26), atriz falou sobre sua participação em duas novas minisséries da Globo, ‘Fim’, inspirada no livro homônimo de Fernanda Torres, e na segunda temporada de ‘Arcanjo Renegado’. Ela também comentou sobre sua atuação na militância do movimento negro e da luta contra o racismo.