Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2022 às 05:00
Um indicador da Secretaria Municipal de Salvador (SMS) vem chamando atenção nos últimos quatro dias: os leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) pediátricos para covid-19 estão totalmente ocupados na capital baiana desde a quinta-feira (12). Mas somente os dados não dão conta de explicar a real condição sanitária na cidade. A regulação de crianças infectadas pelo coronavírus é pequena e as síndromes respiratórias agudas são as grandes responsáveis pelas internações nessa faixa etária. >
“Nas últimas semanas sequer estamos registrando regulação para a covid. É importante lembrar que nós estamos no período de síndromes respiratórias agudas e, de fato, há uma grande procura em nossas unidades por conta delas”, explica o secretário de saúde de Salvador Décio Martins. Ou seja, pacientes que não foram diagnosticados ou que testaram negativo para a covid também estão fazendo o uso dos leitos.>
Atualmente, são 10 leitos de UTI disponíveis na capital para internação pediátrica. O número representa a metade do que estava sendo disponibilizado até o final de abril, quando eram 20 ao total. Apesar do fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional ter sido anunciado pelo Governo Federal no dia 17 abril, o secretário de saúde afirma que desde fevereiro houve uma diminuição significativa no financiamento para os leitos destinados à covid-19. >
“Houve um desfinanciamento dos leitos covid desde o final do mês de fevereiro e nós da Secretaria de Saúde seguramos os leitos pediátricos e adultos abertos até o final de abril. Mas agora não está havendo financiamento federal para esses leitos, o que não significa que eles não sejam importantes”, diz Décio Martins. >
Além dos leitos de UTIs no Hospital Municipal de Salvador (HMS) e no Martagão Gesteira, existem ainda outros 20 de enfermaria e quatro de sala vermelha no gripário dos Barris. Sendo essas últimas destinadas aos pacientes que necessitam de cuidados e vigilância intensivos e que podem ser utilizadas por crianças. >
Apesar do controle maior do número de casos e mortes da pandemia, o pediatra e imunologista Celso Sant’Anna é cauteloso e detaca que os diagnósticos das reais causas das síndromes respiratórias podem ser demorados. Segundo o médico, entre as crianças internadas podem haver casos de infecções por covid-19 não identificados. >
“Existe uma combinação de fatores que está causando a alta de pacientes nas UTIs pediátricas. Em parte, é sim por conta de casos da covid-19, que podem estar eventualmente em processo de elucidação diagnóstica. O diagnóstico de covid-19 não é imediato, ainda mais no caso de pacientes que evoluem de forma rápida. Para se fazer o diagnóstico viral de uma Influenza também pode demorar por volta de 15 dias”, ressalta Celso Sant’Anna. >
Outros fatores que podem estar atrelados ao aumento de crianças internadas nesses leitos são a baixa cobertura vacinal e o despreparo imunológico dos mais novos, de acordo com o especialista.“Muitas crianças ficaram em casa nos últimos dois anos e o sistema imunológico delas está menos treinado para combater as infecções. Elas estão sofrendo os efeitos dessa tempestade de vírus que estamos vendo, especialmente em abril”, diz. As síndromes respiratórias >
As doenças respiratórias graves costumam ser mais frequentes nas estações do outono e inverno, o que pode ajudar a explicar a explosão atual de casos na capital baiana. As condições são mais preocupantes quando afetam as crianças mais jovens e que ainda estão sendo amamentadas, como explica a pediatra Ana Patrícia Almeida. >
“As doenças acometem não somente a via aérea superior, mas comprometem os pulmões causando inflamação, obstrução e diminuição da oxigenação. O que leva o pequeno paciente a fadiga pelo esforço respiratório”, afirma a média. Quando isso acontece, o paciente pode precisas fazer o uso de suplementação de oxigênio através de dispositivos e fisioterapia respiratória intensiva. >
Ana Patrícia indica ainda que pais e responsáveis observem a evolução de quadros que contenham sintomas gripais. “Quando uma criança apresenta quadro febril, tosse, espirros e dor de garganta, é importante hidratar o paciente, realizar limpeza nasal frequente e medicar para febre ou dor. Raramente precisam de outras intervenções, mas se a criança persistir com sintomas intensos, o correto é levar para uma avaliação médica”, recomenda. >
O imunologista Celso Sant’Anna também reforça que em cerca de 97% dos casos as crianças se recuperam sem terem complicações mais graves. “Mas existe um número reduzido de casos que evoluem de uma forma mais grave para a insuficiência respiratória. Isso depende da condição do paciente e da agressividade do microrganismo, sendo vírus ou bactéria”, explica. >
Campanha de vacinação >
Pacientes com idade mais jovem e com condições de saúde pré-existentes, tais como asma, doenças cardíacas e câncer, são os mais vulneráveis a terem complicações pelas síndromes. Além disso, os que possuem vacinas em atraso ou não estão imunizados também correm mais riscos, como explica a médica Ana Patrícia. >
Até o dia 3 de junho, Salvador estará na segunda fase da campanha contra a gripe. O público alvo é formado por crianças de 6 meses a menores de 5 anos e também gestantes, puérperas, pessoas com deficiência, caminhoneiros, agentes de força de segurança, professores e pessoas com comorbidades. A campanha abrange a vacinação contra o sarampo. Todas as 156 salas de vacina montadas nos postos de saúde da Atenção Básica estão atendendo o público elegível. >
O secretário municipal de saúde chama atenção para que pais e responsáveis levem as crianças às unidades de saúde para que elas sejam imunizadas o quanto antes. “Pedimos que os pais levem os filhos para se vacinar não só para a covid-19, mas também contra a gripe e o sarampo”, diz Décio Martins. >
A cobertura vacinal da primeira dose contra o coronavírus para o público de 5 a 11 anos está em 76%, com mais de 146 mil crianças vacinadas. Já as aplicações da segunda dose patinam na capital baiana e apenas 31% dos mais novos retornaram para completar a imunização.“Sabemos que o retorno das aulas contribui para a disseminação das síndromes respiratórias, então é necessário que os pais e mães se conscientizem”, acrescenta o secretário.*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.>