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Da Redação
Publicado em 10 de janeiro de 2022 às 11:23
- Atualizado há 2 anos
Uma via de mão dupla, termo que define bem a relação entre mudança do clima e produção de alimentos. Enquanto a crise climática impacta a produção de alimentos, o agronegócio é responsável por 30% das emissões mundiais de gases de efeito estufa e 70% do consumo de água, de acordo com relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Climáticas - IPCC. >
A população mundial cresce e a produção de alimentos também, em que pese os problemas de distribuição não democrática. Para tanto, 40% das terras usadas no mundo são destinadas ao agro, segundo o IPCC. >
As perspectivas principais sobre as mudanças no clima atualmente giram em torno da transição das fontes fósseis para as renováveis. Esperávamos que a transição energética fosse rápida e nos acudisse do carma pelas décadas de negligência climática, mas a história nos mostra que as transições do passado duraram décadas. >
Esperávamos, também, que as mudanças climáticas seriam sentidas pelas futuras gerações, mas ela já bate na porta, já chega de forma cada vez mais extrema e nos impõe não só a mitigação como a adaptação urgente.>
Levantamentos do Mapbiomas demonstram que o Cerrado é o bioma de maior crescimento da agricultura, mas também um dos mais vulneráveis ao desmatamento da Amazônia, que tem provocado alteração no regime de chuvas na região do Cerrado. >
Se confirmada a previsão do IPCC, que enxerga uma redução de 20% nas chuvas e elevação na temperatura em 4 a 5°C, a região sofrerá ainda mais, incluído sua produção agrícola. >
A Bahia se insere nesse cenário, por ter boa parte de seu território agraciado com esse bioma. Além disso, o estado tem um ingrato protagonismo, junto aos seus vizinhos que compõem o Matopiba - área que compreende territórios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia: é a área onde o maior percentual (76%) do avanço da agricultura ocorreu sobre vegetação nativa, entre 2000 e 2020. >
Os sistemas agrícolas afetam e estão sendo afetados pelo clima. O que se tem visto nestas áreas são períodos prolongados de seca, que enfraquecem e reduzem a fertilidade dos solos, elevados volumes de chuvas em curtos períodos, favorecendo o escoamento superficial e não a infiltração, além dos impactos nas infraestruturas e populações. >
Os fenômenos naturais eventuais estão se tornando frequentes, como o El Niño e o La Niña. Os regimes de chuva alterados também têm comprometido o uso da água para irrigação e aumentado a concorrência com a produção hidroelétrica. Áreas semiáridas se tornando áridas e áreas áridas tendendo à desertificação. >
Diante da via de mão dupla, a opção de caminho sustentável é o equilíbrio entre produzir alimentos e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Além desse desafio o setor agrícola ainda deverá se adaptar às mudanças em curso para se tornar cada vez mais resiliente.>
*Victor Menezes Vieira, Engenheiro Ambiental, Doutor em Geologia, Professor Pesquisador – UNIFACS, Coordenador no Painel Salvador de Mudança do Clima>