Sobre captação, descaptação e recaptação de eventos

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  • Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2019 às 04:46

- Atualizado há um ano

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Na segunda-feira, 13 de maio, por volta das 8h, a International Congress and Convention Association (ICCA), maior entidade mundial do turismo de eventos técnico-científicos, divulgou seu ranking anual de países e cidades com melhor desempenho no setor. O Brasil caiu para a 17ª colocação. Já era esperado, pois, embora tenhamos nos mantido entre os  dez  melhores por nada menos que sete anos seguidos (2007 a 2014), em 2015 deixamos esse grupo de elite e o título de primeiro – mas ainda único - país latino-americano a figurar entre os dez melhores do mundo na história do ranking.

Na contramão dessa tendência, a capital baiana, retomando o crescimento de tempos atrás, avançou da 8ª posição em 2016 para a 5ª em 2018 entre as cidades brasileiras que mais sediaram eventos internacionais, provando que Salvador está viva ainda lá. Importante citar que, em 2007, a ICCA registrou 27 eventos desse tipo por aqui, mostrando que com método e foco o destino pode – e deve – captar mais.

No final da tarde do mesmo 13 de maio, um revés. O governo federal anunciou o cancelamento de um evento para três mil pessoas da ONU sobre o clima em Salvador, a ONU Climate Week, conforme noticiado pelo site O Globo. Ao mesmo jornal, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, explicou os motivos: “Não apoiamos uma reunião organizada antes de nossa gestão, com uma pauta distinta da que estamos preferindo”. 

Esta não foi a primeira vez que o Brasil cancelou um evento internacional já confirmado. Em novembro de 2018, a COP25, outro evento também da ONU, foi cancelada pelo país que, ao que parece, inaugura, e já lidera, o ranking de descaptação de eventos internacionais com dois exemplos em apenas sete meses.

A ICCA, que tem sede na Holanda e divulga o ranking internacional desde 1963, monitora o turismo de congressos e convenções e aponta que o segmento cresce – no presente mesmo – à taxa de 10% ao ano no mundo. Um participante de congresso internacional como esses que o governo federal espantou gasta, em média, 330 dólares por dia, de acordo com estudo da FGV/Embratur; quatro vezes mais que um turista baixo clero que viaja em busca de ‘transar com nossas (lá deles) mulheres’.

Os eventos que fizeram o Brasil figurar no Top 10 do Ranking ICCA foram confirmados vários anos antes de acontecerem de fato. Quem entende do traçado sabe o que digo. O Congresso Mundial de Odontologia, o maior evento científico que Salvador já acolheu, reuniu 10 mil participantes do mundo todo e aconteceu em setembro/2010. Os trabalhos de captação duraram mais de 5 anos e envolveram um sem-número de viagens, visitas de inspeção, envio de documentos oficiais, audiências com autoridades locais e empresariais, sem citar a acirrada  concorrência. 

Disputamos e captamos o evento em detrimento de destinos como (ora veja!) nada menos que Nova York! Captado no governo Paulo Souto (DEM), o congresso aconteceu no governo Jacques Wagner (PT), mostrando que, para além de política ou ideologias, há a compreensão de que a atração de eventos atrai desenvolvimento, progresso e injeção de recursos na economia.

O turismo como principal atividade econômica de Salvador e fonte geradora de emprego e renda está presente de forma transversal em diversos aspectos da economia local. Prestes a inaugurar um novo Centro de Convenções justamente para atrair, e não afugentar, congressos, sediar outro evento da ONU é primordial. Nesse contexto, posicionar-se firme e institucionalmente contra o cancelamento e a favor da realização da Climate Week, no que já pode ser chamado de case de (re)captação desse evento em nossa cidade, como fez o prefeito ACM Neto, é, no mínimo, uma atitude inteligente e visionária. Portanto, merecedora de toda loa.

Os esforços surtiram efeito e, em nota divulgada dia 19 de maio, o Ministério de Meio Ambiente decide manter o evento em Salvador. No passado, o turismo vanguardista da Bahia de Paulo Gaudenzi traçou tendências e pioneirismos para o setor no resto do Brasil. Hoje, Salvador novamente se destaca em relação ao país, investindo e acreditando no turismo de eventos. Tenhamos foco, método e políticas para continuar evoluindo pelos próximos anos. Por aqui, o clima está favorável.

* Silvana Gomes é consultora em turismo, especialista em marketing de destinos e atuou na captação de mais de 800 eventos para Salvador.