Socorro, Toshiro Mifune! – o Brasil precisa de heróis. Eu, de samurais

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  • Da Redação

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O alemão Bertolt Brecht dizia: - Infeliz o país que precisa de heróis. O infeliz Brasil precisa desesperadamente de heróis. De um herói a cada esquina, na soleira de todas as portas, ao lado das nossas camas enquanto dormimos ou tentamos dormir. Este jornalista-escritor, enfiado até o pescoço no lamaçal existencial, político e social deste país chinfrim não precisa de heróis. Eu preciso de samurais, de um Toshiro Mifune para chamar de meu e me proteger de todo o mal, amém!

[Já o descobri, já o localizei, já o cobicei em rede nacional de tevê. Também já intuí: esse ‘meu’ sonhado samurai poderá ser alçado à condição de herói nacional, estampar capas de revistas, virar avatares nas redes sociais e se tornar tema de deslumbradas ‘reportagens’ que o enalteçam, como é de praxe nesse metiê de fabricar celebridades]. . [Intermezzo tragicômico. Domingo, 23 de janeiro, um dos dias mais desoladores de minha vida, e da vida de milhões de brasileiros que ainda tenham algum vestígio de caráter. Ainda processava (e ainda processo) o luto de viver em país que produz tragédias criminosas seriais. Como se tudo isso não bastasse, as três vizinhas faladeiras e comezinhas que habitam nas minhas cercanias, resolveram sair da toca, depois de dois meses de trégua. O trio – mãe quase octogenária e duas filhas 'cinquentãs' – estava por perto, mas apenas Madame B. – vamos chamá-la assim – interpretava show-solo aterrador. Sentada na calçada da porta de casa, dançava feito pata choca, cheirava cocaína, fumava, e bebia cerveja em lata no gargalo (vez em quando a ‘mãenada’ se aproximava e, também bêbada, gargalhava feito gralha velha).

Nada contra paraísos artificiais, cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, até mesmo essa pobre-diaba. O abominável era que essa bruaca sórdida colocava para tocar em altíssimos decibéis as músicas mais execráveis de todas as galáxias.] [Era tarde tórrida. Insuportável. As casas vizinhas tinham portas e janelas lacradas. Só havia o sol abrasador por testemunha. Até os cachorros magros e murchos escafederam-se].

Fazer o quê? Então lancei mão do estoicismo herdado do meu pai, que tinha essa capacidade inata de suportar com vigor as diatribes da vida-tragédia que todos nós somos obrigados a engolir. Resolvi ‘fingir’ que aquele fato não ocorria, abstraí, e mergulhei na cobertura televisiva de nossa + recente tragédia].

Olhos e ouvidos atentos, em tentativa desesperadora de ignorar a performance da pobre-diaba cada vez mais bêbada e cheirada e estridente, a tela da tevê virou minha segunda pele. Então percebi  jovem bombeiro de rosto que parecia esculpido por algum discípulo de Rodin. Lindo. Tinha olhos amendoados que lhe revelavam a ascendência nipônica, e era acuado por dezenas de microfones disparados por jornalistas. Falava com extraordinária objetividade sobre a tragédia em curso. [Delirei: estava ali o ‘meu’ samurai’, aquele que me livraria para todo o sempre daquela bruaca sórdida e desta tarde-pesadelo que parece nunca ter fim]