Somos todos abolicionistas

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  • Nelson Cadena

Publicado em 14 de maio de 2020 às 09:39

- Atualizado há um ano

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Esse foi mais ou menos o espírito reinante da maior parte da imprensa brasileira e baiana, em relação à causa da libertação dos escravos, já na década de 1880, quando era eminente que mais cedo, ou mais tarde, a abolição seria uma realidade. Porém, antes disso, raras foram as publicações e poucos os jornalistas que de fato se engajaram na causa e assumiram posições libertárias que iam na contramão dos interesses sociais-econômicos das elites. O surgimento das sociedades criadas com o objetivo de alforriar escravos, mesmo que a conta-gotas, foi o início desse processo, não preponderante.

“O Abolicionista”, impresso inicialmente na tipografia do Diário da Bahia, jornal liberal, então, sob a direção do Conselheiro Manoel Pinto de Souza Dantas e direção de Pedro Leão Veloso, foi um pioneiro na matéria. Propriedade da Sociedade Libertadora Sete de Setembro, a mais importante das três que atuavam na época, circulava de quinze em quinze dias; no expediente anunciava como redatores Frederico Marinho de Araújo e Augusto Alvares Guimarães, mas os artigos mais contundentes e críticos eram da lavra do Dr. Belarmino Barreto.

A importância de “O Abolicionista” está em assumir o nome e o escopo de sua área de atuação. Não conheço nenhum outro jornal baiano que tenha tido foco exclusivo na abolição. O Asteroide de Cachoeira, que surge em 1887, abolicionista militante, logo se transformou num jornal comercial com 2/3 de seu espaço destinados à publicidade. Já a Gazeta da Tarde (1880-89) de Pânfilo de Santa Cruz era um jornal diário com grande variedade de temas editoriais, para citar apenas os mais engajados na causa.

O Diário da Bahia também foi abolicionista atuante, órgão oficial do Partido Liberal, desde 1868. Liderou o protocolo assinado por cinco jornais baianos, em 1872, comprometendo-se a não publicar anúncios de escravos. Mas foi o primeiro a quebrar a regras. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. O Rio de Janeiro também teve um O Abolicionista em 1880, órgão da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão, presidida por Joaquim Nabuco e que tinha entre seus fundadores os jornalistas baianos Joaquim Alves Branco Muniz Barreto ex-redator do Correio Mercantil do Rio de Janeiro e o cachoeirense André Pinto Rebouças.

Também foram lançados com esse nome de O Abolicionista, jornais no Recife, Belém e São Luiz do Maranhão, em inícios da década de 80. O fato é que durante os três anos em que o jornal baiano circulou, entre 1871 e 1874, foi a única tribuna no país a ter como foco editorial, exclusivamente, a questão da causa em favor da libertação dos cativos. Não há notícias da existência de nenhum outro veículo em toda a década de 1870 com esse propósito. Na década seguinte a defesa da causa passa a ser prioridade de pauta de alguns grandes jornais brasileiros, independe de cor partidária, liberais ou conservadores, alguns mais atuantes do que outros.

Na Bahia tivemos nessa linha O Alabama e O Faísca, entre os periódicos, digamos, alternativos, e entre os específicos O Homem (1881); O Pensamento (1882-84) e Luiz Gama (1883), os dois últimos redigidos por Salustiano Pedro; O Cohorte (1883); Castro Alves (1884) redigido também por Salustiano Pedro em parceria com Alexandre Gonçalves. E ainda O Socialista (1882) ostentando a epígrafe: “Antes os espinhos da liberdade, do que as flores da escravidão”. Outros tantos a partir de 87 quando todos já eramos abolicionistas, a Lei Áurea batendo na porta.