Spotify não permitirá que artistas publiquem suas músicas na plataforma

Músicos e bandas independentes, que terão que usar gravadoras ou distribuidoras, veem prós e contras em medida

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 9 de julho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Shutterstock/Reprodução

Há quase um ano, o Spotify liberou a versão beta (em estágio de desenvolvimento) de um programa dedicado aos artistas independentes. Usando a ferramenta, cantores e bandas podiam fazer o upload de suas próprias músicas na plataforma, sem precisar terceirizar o processo.

Porém, isso mudará em breve: o serviço de streeming anunciou que encerrará o projeto no fim deste mês. Segundo a empresa, essa decisão foi tomada a partir de feedbacks dos próprios participantes da versão beta.“A maneira mais impactante de melhorar a experiência de fornecer música ao Spotify para o maior número possível de artistas e gravadoras é se apoiar no excelente trabalho que nossos parceiros de distribuição já estão fazendo para atender à comunidade artística”, disse, em um comunicado oficial. Assim, depois do dia 30 deste mês, uma gravadora ou uma distribuidora será necessária para fazer o upload do material. O serviço de streeming garante que ajudará em todo o processo de transição - incluindo até dar códigos de desconto, em empresas parceiras, para quem era adepto do programa que acabará.

A ferramenta era internacional - e a resolução do seu encerramento repercutiu no mundo inteiro. No Brasil, artistas independentes veem a decisão tanto com lados positivos quanto negativos.“Se, por um lado, a gente perde autonomia com essa decisão, por outro, pode haver a profissionalização da classe. Muita gente que queria colocar coisas caseiras ali agora vai ser forçada a estabelecer um relacionamento com uma gravadora ou distribuidora”, fala o cantor Filipe Lorenzo. Filipe Lorenzo (Foto: Tamires Maia/Divulgação) A artista Aiace também enxerga prós e contras no fim da versão do programa.

“Acho que essa flexibilização do upload, sem a necessidade de outros agregadores, pode ser um passo importante para que nós tenhamos controle sobre o que arrecadamos a partir dos nossos trabalhos - podendo receber essas receitas integralmente, sem descontos de gravadoras ou de distribuidoras”, comenta a cantora.  Aiace (Foto: Matheus Leite/Divulgação) "Ao mesmo tempo, acredito que esse pode ser um caminho para que pensemos sobre a democratização do acesso aos meios de divulgação, permitindo que outras pessoas, que antes talvez não pensassem em utilizar o aplicativo porque seriam barradas pela burocracia - talvez necessária - do aplicativo, possam usar a ferramenta e ampliar o alcance de suas músicas", segue.Além da profissionalização ‘forçada’, lembrada por Filipe, a cantora aponta ainda a duplicação de arquivos que podem existir no Spotify com o upload direto - e que dificultam o sistema de arrecadação. “Vejo isso acontecer em plataformas como SoundCloud, por exemplo, onde qualquer pessoa cadastrada pode subir sua música sem intermediários”.

Equilíbrio Com lados bons e ruins na necessidade de uma parceria para subir música para o Spotify,  seja com distribuidora ou gravadora, os artistas concordam: é preciso que haja uma harmonia entre todo mundo.  

“Cada dia, é mais fácil consumir música - e esses serviços como o Spotify devem ser nossos parceiros, colaborar com o que a gente faz. Dificultar o acesso à música, ainda mais de independentes, que nem sempre têm todas as informações, pode ser um pouco complicado. Precisa haver um equilíbrio nesta parceria”, fala a cantora Aila Menezes. Aila Menezes (Foto: Divulgação) “As empresas têm que estar sempre trabalhando para não se deixarem perder artistas. Um protocolo muito extenso fica complicado para nós, independentes”, concorda Marlon Brazil, cantor da banda Criando Caso.  

Para Aiace, esse tipo de discussão é sempre válido.

“Acho que essa flexibilização por parte da plataforma, repensando a sua relação com os artistas - e, mais ainda, a provocação sobre o assunto - são necessárias para que possamos encontrar um caminho onde os investimentos que fazemos retornem para nós artistas. Acredito que o papel das distribuidoras é importante e hoje, dentro dos espaços que temos e dos milhares de funções que nós artistas independentes já acumulamos, ainda é necessária. Mas estar repensando os modelos, para encontrar um novo caminho, é sempre importante".

Ajuda na internet Atualmente, já há distribuidoras que prestam serviços online. Três delas são indicadas pelo próprio Spotify - e cobram uma taxa, que varia de acordo com cada empresa e serviço prestado. Mas há também opção, muito usada por artistas independentes brasileiros, que oferece pacote de distribuição gratuito.

Confira, abaixo, um pouco mais sobre essas quatro empresas:

CD Baby A empresa é uma das parceiras do Spotify. Há dois planos disponíveis: Standard (com distribuição mundial) e o Pro (que adiciona arrecadação de direitos autorais). No primeiro, o preço é de US$ 9,95 (cerca de R$ 38) por single e de US$ 49 (R$ 187) por álbum. No segundo, os valores são de US$ 34,95 (R$ 133) e US$ 89 (R$ 339), respectivamente.

Em todos, a CD Baby garante que há distribuição para Spotify, Apple Music, Google Play, Amazon, entre outros - mas há o pagamento de uma comissão de 9% das vendas digitais. O site está disponível em português. 

EmuBands O site não tem versão em português - só em inglês ou espanhol -, mas a empresa garante que qualquer artista, com residência em qualquer lugar do mundo, pode se associar e distribuir suas músicas.

Há três opções de plano. O mais simples, single, garante de uma a duas faixas, com suporte vitalício e 100% dos royalties, por US$ 42,50 (R$ 162). O EP garante os mesmos benefícios, mas para de três a cinco canções, por US$ 59,95 (R$ 229). E o álbum, para de 6 a 20 músicas, por US$ 84,95 (R$ 324).

A EmuBands também é indicada pelo Spotify e, além deles, distribui o trabalho para serviços como Deezer, Musical.ly, Apple Music e Google Play.

DistroKid Diferente das anteriores, o pagamento não é pela quantidade de música - com a empresa, dá para fazer o upload ilimitado de canções e álbuns em planos a partir de US$ 19,99 (R$ 76) por ano. A DistroKid também é indicada pelo Spotify e tem como parceiros Tidal, Apple Music, Google Play, Amazon, Deezer, entre outros. 

OneRpm Disponível com versão em português, a empresa é uma das queridinhas dos artistas brasileiros justamente por oferecer pacote de distribuição gratuito. Porém, só é repassado ao cantor ou banda 85% do valor das vendas e streamings. A parceria do OneRpm (onerpm.com) é com Spotify, Tidal, SoundCloud, Shazam, Deezer, entre outros.