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Estudo do IBGE aponta que crise econômica fez com que trabalhadores empreendessem mais
Mario Bitencourt
Publicado em 18 de outubro de 2019 às 07:20
- Atualizado há um ano
De profissional contratada por uma empresa a terceirizada. Essa mudança, que muita gente vê como irreversível, ainda está sendo assimilada pela contadora Elisângela Coutinho da Silva, moradora de Vitória da Conquista, sudoeste da Bahia, e que em 2016 se viu obrigada a virar microempreendedora individual (MEI) para não ficar sem trabalhar.
Mudanças profissionais como esta fazem parte da pesquisa Demografia das Empresas e Estatísticas do Empreendedorismo 2017, divulgada nessa quinta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Tinha salário de R$ 3.500 numa empresa de contabilidade que prestava serviços para prefeituras. Por conta da crise, os clientes caíram para mais da metade. Então, eu e mais três colegas tivemos de sair. Com dois meses, abri minha empresa e passei a prestar serviços de casa para essa mesma empresa, a R$ 2.000, e para outras duas que cobro o mesmo valor. Passei a ganhar mais, só que sem direitos trabalhistas”, resumiu Elisângela.
A pesquisa do IBGE mostrou também que, em 2017, a “natalidade" empresarial voltou a crescer na Bahia, após três quedas consecutivas. Foram criadas no ano 27.198 unidades locais de empresas no estado, número 9,6% maior que o verificado em 2016, quando haviam sido criadas 24.809 unidades locais.
Ainda assim, em 2017, o número de unidades empresariais que começaram a atuar na Bahia foi o menor desde 2014 (29.145) e ficou 33,3% abaixo do registrado em 2010, ano em que o estado viveu seu pico de criação de empresas, com 40.761 novos empreendimentos.
A "taxa de natalidade" de unidades locais empresariais na Bahia, em 2017, ficou em 12,1%, mostrando também a primeira aceleração depois de três anos. Mas, mesmo acima da média nacional (11,4%), essa taxa na Bahia ficou abaixo da verificada no Nordeste (12,5%) e foi a 17ª entre os 27 estados.
Além de terem sido criadas mais unidades locais de empresas na Bahia em 2017, também houve uma leve queda no fechamento delas (-1,9%), de 37.206 encerradas em 2016 para 36.506 em 2017.
Saldo positivo Com mais empresas "nascendo" e menos "morrendo", em 2017, o número de unidades locais teve um leve aumento no estado (+0,2%), chegando a 225.537, o que representou um saldo positivo de mais 561 empresas na Bahia, em um ano.
Assim, a Bahia se manteve, em 2017, com o 7º maior parque empresarial do país, ranking que é liderado por São Paulo (1.464.544 de unidades locais de empresas), Minas Gerais (526.543) e Paraná (411.669).
O número de empresas sobreviventes na Bahia (que estavam ativas há pelo menos dois anos) teve uma ligeira queda de 2016 para 2017, passando de 189.002 para 188.465 (-0,3%).
Com isso, a taxa de sobrevivência empresarial no estado mostrou uma discreta retração, de 84,0% para 83,6%, ficando um pouco acima da média do Nordeste (83,0%), mas abaixo da verificada no Brasil como um todo (84,8%)
Entre os estados, Rio Grande do Sul (87,4%) e Santa Catarina (87,2%) tinham as maiores taxas de sobrevivência empresarial, enquanto Maranhão (80,1%) e Amazonas (78,5%) tinham as menores. A Bahia ficava na 13ª posição.
Atividades O estudo mostra que, pela primeira vez em dez anos, a abertura de empresas ligadas a atividades profissionais, científicas e técnicas, seguidas de saúde humana e serviços sociais, superou as que atuam no ramo de alojamento (hotéis, pousadas e albergues) e alimentação.
No ramo de atividades profissionais, científicas e técnicas foram 1.987 empresas criadas (7,3% do total) e por saúde humana e serviços sociais 1.962 novas empresas, o que corresponde a 7,2% do total. Alojamento e alimentação ficou apenas em 4º lugar, com 1.827 nascimentos (6,7% do total).
As atividades profissionais, científicas e técnicas compreendem, por exemplo, atividades jurídicas e cartórios; de contabilidade, consultoria e auditoria contábil e tributária; consultoria em gestão empresarial; arquitetura e engenharia; pesquisa e desenvolvimento científico; publicidade; design e decoração; e veterinária.
Na seção saúde humana e serviços sociais estão unidades de atendimento hospitalar; serviços móveis de atendimento a urgências; clínicas ou ambulatórios médicos e odontológicos; assistência a idosos e/ou deficientes físicos; assistência psicossocial e à saúde a portadores de distúrbios psíquicos, deficiência mental e dependência química, dentre outros.
Influência De acordo com a analista do IBGE, Mariana Viveiros, não há uma separação, na pesquisa, sobre a quantidade de abertura de empresas de microempreendedores individuais, “mas é certo que a abertura de empresas desse tipo teve influência na pesquisa”, ela disse.
Para o consultor econômico da Fecomercio (entidade que agrega vários setores de negócios na Bahia), Guilherme Dietze, a abertura dos MEIs é uma mostra das mudanças das relações tanto de trabalho quanto da própria economia em si, “algo que é irreversível”.
“Hoje, qualquer profissional pode ser um MEI e buscar fazer seus serviços. Quanto ele vai ganhar depende de como serão suas relações de negócios ou profissionais. E isso faz a economia girar”, comentou o economista.
Historicamente, o ranking da abertura de empresas é liderado pelo segmento de comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas, que reúnem pouco mais da metade das unidades locais de empresas no estado (116.629, ou 51,7% do total).
Em termos absolutos, este seguimento ficou com quase metade dos nascimentos (12.591 em 2017, 46,3% do total), mortes (19.122, 52,4% do total) e unidades locais empresariais sobreviventes (99.227, 52,7% do total) na Bahia.
Juntas, comércio, atividades profissionais e saúde responderam por 6 em cada 10 unidades locais de empresas que começaram a funcionar na Bahia em 2017 (60,8% do total de 27.198).