Suspeito mandou convidados limparem sangue de Daniel, diz testemunha

A jovem desmentiu a versão de que Cristiana pediu socorro por ser atacada

  • D
  • Da Redação

Publicado em 13 de novembro de 2018 às 15:49

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

Uma testemunha de 19 anos contou à polícia que Edison Brittes ordenou que os convidados limpassem a casa do sangue que ficou espalhado após a surra dada no jogador Daniel. Edison confessou ter assassinado o jogador depois de uma festa na sua casa. Após apanhar, Daniel foi levado de carro até um matagal, onde ainda recebeu golpes de faca que quase o degolaram e teve o pênis decepado.

Evellyn Brisola 'ficou' com Daniel na festa, que celebrava os 18 anos de Allana Brittes, filha de Edison. Ela contou à polícia que as agressões a Daniel deixaram a casa suja de sangue. Uma convidada chamada Thais limpou o sangue na área externa. Edison ordenou que Evellyn e outros convidados lavassem o quarto para retirar as marcas. Allana e Cristiana, mulher de de Edison, também participaram da limpeza. O grupo rasgou o colchão da cama para retirar as manchas e depois queimou junto com os documentos do atleta, de acordo com o depoimento de Evellyn.

A jovem desmentiu a versão de que Cristiana pediu socorro por ser atacada por Daniel e afirmou que a mulher tentou impedir as agressões ao jogador, mas foi repreendida pelo marido. Ainda segundo ela, depois que Edison saiu e voltou, Allana quis saber o que ele tinha feito com Daniel. "Matei ele", teria respondido o empresário. A jovem quis saber como, mas o pai não falou.

Um dos suspeitos presos, Eduardo Henrique da Silva, 19 anos, também foi ouvido ontem. Ele é primo de Cristiana. Eduardo contou que depois da festa de Allana na boate, foi pra casa dela, onde estava hospedado. Ao chegar, foi logo dormir e acordou com os gritos de Cristiana pedindo ajuda, afirmando que "o Junior (Edison) está batendo nele (Daniel), porque ele estava mexendo em mim".  Cristiana e Edison (Foto: Reprodução) Ao entrar no quarto, Eduardo contou que viu dois rapazes, Ygor King e David Silva, e Edison agredindo Daniel com socos e chutes. Ele também passou a bater no jogador. Eduardo contou ainda que Edison dizia que ia mutilar Daniel e pediu que os rapazes fossem com ele no carro. O empresário pegou uma faca na cozinha e mexia a todo momento no celular de Daniel. Eles seguiram até uma estrada de chão.

Ygor King e David Silva, que também estão presos, deram depoimento diferente. Na versão deles, só Eduardo desceu do carro no matagal em que Daniel foi morto e viu o que aconteceu com ele. Já Eduardo disse que todos desceram. Segundo ele, no matagal Edison tirou Daniel do carro e passou a faca em seu pescoço. Depois, arrastou Daniel para trás de uma árvore, onde fez movimentos repetidos, como se cortasse algo. Ele então voltou sujo de sangue e com a faca na mão para o carro. "Conta pormenorizado a participação de cada um, todos desceram do carro, todos com mesmo desígnio. Entretando, deixa bem claro que se soubesse que era para matar ele não teria participadO", diz o advogado de Eduardo, Edson Stadler.

"É natural, já era esperado que alguma versão acabaria vindo, diferente", minimizou Robson Domacoski, advogado de Ygor e David. Já o defensor de Edison Brittes propõe que a polícia faça uma acareação entre os suspeitos, diante das contradições nos depoimentos.

Ao voltar para casa, Edison chamou a mulher e a filha e contou que havia matado Daniel. Nos dias seguintes, tentaria combinar com as testemunhas uma versão para acobertar a morte.

Posteriormente, dias após o corpo ser encontrado e identificado, Edison confessou o crime e disse que agiu porque o jogador tentou estuprar Cristiana. O delegado responsável pelo caso, Amadeu Trevisan, disse que não houve tentativa de estupro e que a família Brittes está mentindo.

Balada e festa na casa A comemoração do aniversário de Allana se iniciou na camorte da casa norturna Shed, em Curitiba. Segundo Evellyn, ela e Daniel não se conheciam anteriormente e que ela o beijou apenas na boate. Os dois conversaram na festa sobre alguns assunto em comum, como o fato de ambos terem filhos. (Foto: Reprodução) A testemunha contou que Daniel foi à casa da família Brittes sem ser convidado, seguindo com o pequeno grupo que continuaria a festa. Ele "não aparentava estar embriagado" e conversava tranquilamente. 

A jovem contou que estava dormindo antes da surra em Daniel começar. Contou que não ouviu nenhum pedido de socorro da parte de Cristiana e disse que não ouviu dela nenhum momento a afirmação de que o jogador tinha abusado dela de alguma maneira.Durante o depoimento, a jovem também falou que viu Cristiana Brittes chamando Allana Brittes e dizendo: "Ajuda, desce, senão seu pai vai matar o menino".Contou também que viu Edison segurando Daniel pelo pescoço no quarto do casal e que nesse momento ele já não falava nada.A testemunha ainda viu Edison dar tapas no rosto da mulher. Ele então ordenou e Allana fechou a porta do quarto.

Eduardo, Ygor e David entraram no quarto depois. "Que, enquanto estava na sala, ouvia de dentro do quarto Júnior dizendo 'Seu vagabundo, quem mandou mexer com mulher casada, no meu quarto, com a minha mulher'", diz trecho do depoimento.

A testemunha diz que Edison mandou que ela não pedisse ajuda a ninguém e que quando ela implorou para que parasse de bater em Daniel ouviu dele que ela estava na "casa dele e ela não mandava ali". Ela contou que um viu um convidado - que não foi preso - pegar uma faca na cozinha.

Ao ouvir Cristiana pedindo que eles impedissem Edison de seguir com as agressões, o marido afirmou que ela estava "defendendo esse vagabundo". Depois da surra, Daniel foi colocado em um cobertor no porta-malas do carro.

A testemunha também contou que Edison comentou que "havia matado o gambá" e que não iria "aguentar" Daniel depois de vê-lo na cama com a mulher. Ela encerrou o depoimento afirmando que Edison a orientou para dizer à polícia que viu Daniel ir embora sem comentar nada. Ele pediu que ela fosse ao seu cencontro no shopping, mas ela ficou com medo e não foi.

Catorze pessoas foram ouvidas até agora. Seis suspeitos estão presos.

Cronologia do crime Sexta (26): Daniel chega a Curitiba. Ele vai a duas festas, inclusive o aniversário de Allana em boate Sábado (27): A festa continua na casa da família de Allana, em São José. O crime aconteceu este dia. O corpo foi achado neste mesmo dia em um matagal. Segunda (29): Amigo reocnhece o corpo de Daniel Quarta (31): Corpo de Daniel foi velado em Minas Gerais Quinta (1): Suspeito de matar Daniel é preso e confessa crime. Mulher e filha também foram presas Sexta (2): Perícia é feita na casa onde Daniel foi espancado

Linha do tempo (com informações da TV Globo) 21h30: Daniel chegou a Curitiba na sexta à noite, por volta das 21h30. Ele deixou as malas na casa de um amigo, com quem iria se hospedar, e saiu depois de um banho para uma festa, a primeira da noite.

00h: Por volta de meia-noite, ele e o amigo seguiram para o aniversário de Allana, em uma boate da cidade. Eles tinham convites para a festa, entregues pelo próprio pai da aniversariante.

05h40: O amigo de Daniel vai embora da boate. O jogador prefere ficar e diz que vai seguir para a casa de Allana, na Região Metropolitana, onde a festa seguiria

06h36: Daniel avisa ao amigo por mensagem que já estava na casa de Allana. Uma testemunha  contou à polícia que os convidados estavam ouvindo música e bebendo. Cristiana, que segundo a família não estava bem, foi a primeira a ir deitar. Outras pessoas também se recolheram. Ficaram na festa Daniel, Edison e outras oito pessoas

08h07: Daniel começou uma conversa com outro amigo. Ele contou que estava em uma festa, com várias pessoas dormindo. Por áudio, ele respondeu ao amigo, que perguntou se estava bêbado, e disse que "não muito". Ele falou também que tinha uma "coroa" na casa, que era a mãe da aniversariante, e que faria sexo com ela. Afirmou ainda que o pai estava junto. O amigo diz para ele se cuidar e que poderia ser expulso da casa. Daniel mandou uma foto ao lado de Cristiana, que aparenta estar dormindo. O amigo quer saber se ele fará sexo com ela acordada ou dormindo

 08h34: Daniel manda uma nova foto ao lado de Cristiana para o amigo e diz que fez sexo com ela. Depois, ele manda a seguinte mensagem, a última: "O que aparecer amanhã é nóis". O amigo quer saber o que isso quer dizer, mas Daniel não responde mais. Posteriormente, o amigo disse à polícia que ele, Daniel e outros dois colegas tinham um grupo de WhatsApp onde mandavam fotos das "conquistas" amorosas, geralmente quando a mulher estava dormindo

10h30: Corpo do jogador é encontrado, ainda sem identificação, em um matagal, com mutilações, marcas de faca e sinais de tortura. 

À noite: O amigo que hospedou Daniel fica preocupado porque ele não deu mais notícias e eles tinham um compromisso. Ele manda mensagem para Allana, que afirma que o jogador foi embora sozinho da casa dela. Este amigo foi quem reconheceu o corpo do jogador, dois dias depois.