Tá osso. Osso duro de roer

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  • Da Redação

Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 17:11

- Atualizado há um ano

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A gente cai em tentação porque “a carne é fraca” – ainda mais quando tem “carne nova” no pedaço, hã? Lidar com gente difícil é pior que comer “carne de pescoço”. Mas quando o crush enche os olhos e a situação é favorável, aí é só “filé”. De leotria com carne o vocabulário do brasileiro tá cheio. Já a mesa...

Jogue a palavra no Google pra você ver. É notícia de prefeito fixando preço via ofício, é o povo apelando pra compra parcelada no cartão de crédito. A Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carnes Industrializadas (Abiec) já mandou dizer que é daí pra pior: a alta de preços vai entrar em 2020 lépida e saltitante.

A disparada na cotação da arroba do boi é um recorte preocupante do cenário político-econômico-ambiental no qual o Brasil está mergulhado. Mas é também um convite à reflexão sobre essa tara que a gente tem por uma tora de carne vermelha no prato.

A despeito de tendências que defendem uma alimentação mais saudável, sugerindo parcimônia no consumo ou mesmo abstinência de proteína animal, comer carne é um ato simbólico enraizado na nossa cultura alimentar. Para uns, significa sustança. Para outros, prazer. Para outros tantos, agora mais do que nunca, status.

Ok, o lance é ancestral. Nossos antepassados se lançaram ao prazer de assar a caça quando descobriram que podiam controlar o fogo. De lá pra cá, o ato de brincar com chama e brasa transmutou-se em inúmeras tendências que volta e meia vão beber lá na fonte do homem das cavernas pra lançar “novidades”. Sei.

Se, de um lado, há o time dos veganos, das dietas detox e das “segundas sem carne”, de outro, está uma horda de carnívoros convictos que sentem o olhinho brilhar e o coração bater mais forte quando passa aquela peça de picanha no espeto do rodízio.

Os comedores de carne estão por toda parte. Nas clínicas de nutrição que receitam dietas revolucionárias focadas quase exclusivamente no consumo da dita cuja, nas hamburguerias gourmet com seus blends especiais, nos eventos estrelados por chefs assadores – essa, a novidade das novidades. Nada mais primitivo. Logo, nada mais contemporâneo.

Mas eis que a brincadeira ficou cara. Partiu refazer a lista da ceia de Natal e pensar direitinho se a confra de fim de ano vai ser mesmo naquele boteco top que tem cada espetinho... (o preço no cardápio não é mais aquele, olha a cara dele). Churrasco pra festejar o Réveillon? Ah, vá.

Saudade do carro do ovo, que vendia 30 por 10. Eu vou repetir só pra você lembrar daquela voz no megafone: trinta ovos, dez reais. E haja meme pra transformar tudo isso em graça, quando o prefixo ‘des’ tá ali, nos espiando.

A gente ri, mas é de nervoso.

Tá osso. Osso duro de roer.

 Daniela Castro é jornalista, gastrônoma e mestre em cultura e sociedade, autora do perfil @pimentaecominho

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