Tarifa do gás natural veicular cai em 7,12%; taxistas reclamam de preço nas bombas

Medida começou a valer no dia 1 de janeiro de 2020; redução ainda não está visível nas bombas

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  • Eduardo Dias

Publicado em 9 de janeiro de 2020 às 18:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: (Foto: Eduardo Dias/CORREIO)

A notícia tinha tudo para agradar a quem trabalha dirigindo, mas a alegria ficou só na teoria. Apesar de a Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás) ter anunciado a redução de 7,12% no valor da tarifa do Gás Natural Veicular (GNV), o repasse do desconto ainda não foi notado pelos taxistas, que reclamam dos valores cobrados pelos postos de combustíveis. Nesta quinta-feira (9), profissionais relataram ao CORREIO que ainda não viram diferença nas bombas após o anúncio da redução, praticada desde 1º de janeiro.

Em novembro de 2019, a Bahiagás já havia anunciado uma outra redução, de 4,36%. Esses dois decréscimos foram decorrentes de um regramento de preços firmado entre a companhia e a Petrobras. Com a segunda queda de tarifas em menos de dois meses, os motoristas de táxis, que são a maioria dos usuários deste tipo de combustível, continuam insatisfeitos.

O CORREIO percorreu alguns postos de combustíveis de Salvador nesta quinta e notou que a média do valor cobrado nas bombas desde o ano passado é de R$ 3,19, salvo exceção de um posto na Av. Bonocô, que mantém o preço em R$ 3,16.

Acostumado a abastecer sempre com o GNV, o taxista Jair Lima, 38 anos, que roda na cidade há 20 anos, contou que desde que soube do anúncio da redução, já abasteceu o veículo duas vezes, mas ainda não notou a diferença na prática de preços.

“Até o momento, essa redução de tarifa ainda não chegou nas bombas para a gente. Continuo pagando o mesmo valor desde o ano passado. Ainda não notei diferença em nenhum posto que abasteci, desde o dia do anúncio dessa redução”, afirmou o taxista. Jair Lima reclama de preço do GNV (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) O também taxista Francisco Vieira, 60, dirige pela cidade desde 1999. Segundo ele, a redução ainda é pequena se comparada à cobrança feita pelos postos em outras cidades.

“Eu não estava sabendo da redução, mas, pelo que tenho visto, não teve nenhuma alteração. A maioria dos postos permanece com os mesmos preços do ano passado. Fui em Feira de Santana recentemente e abasteci por lá, o preço é muito mais baixo que em Salvador. Por isso eu ainda acho a redução pouca, pois o gás deveria ser bem mais barato por aqui, já que estamos mais perto das refinarias, diferente das outras cidades”, avaliou o motorista, que lembrou que quando iniciou a carreira como taxista, o valor do GNV custava menos da metade da gasolina na época.

“Lembro que quando comecei rodar, coloquei logo o GNV no meu carro e o valor do metro cúbico não era nem 30% do preço da gasolina, isso é um abuso”, completou.  

Já o também taxista, Genivaldo Cerqueira, 48, acredita que ele e os companheiros de profissão estão pagando mais pelo gás e diminuindo a quilometragem. Ele, que já possui 18 anos na profissão, admitiu que pretende mudar para o álcool, caso o valor não tenha realmente uma redução significativa.

“Estamos pagando, em média, R$ 3,19 o metro cúbico, mas não está mais valendo a pena. Hoje, a preferência ainda é rodar com gás, mas para quem já tem o kit. Se for um carro novo e tiver que instalar tudo novo, não vale mais a pena, é melhor rodar no álcool. Quando eu comecei a rodar com gás, o preço era muito abaixo do combustível normal, cerca de metade do valor, mas agora a variação está quase a mesma”, disse o motorista. Genivaldo cogita abastecer carro com álcool (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) O presidente da Associação Geral dos Taxistas (AGT), Dênis Paim, lamentou a situação. Segundo ele, os valores do gás veicular têm aumentado ano a ano. Paim disse que há oito anos o preço ficava em torno de R$ 1,55, subindo para cerca de R$ 2,95 em 2016.  

"Está fora da realidade. Os empresários de postos deveriam acatar o desconto, dividir o pão com a população, com os usuários de gás, praticando a redução para o consumidor final. Os taxistas foram uns dos primeiros a usar esse sistema GNV e estamos sendo prejudicados cada vez mais, porque os valores vêm aumentando ano a ano", criticou.  

Reajuste Segundo a Bahiagás, o reajuste da tarifa do GNV é aplicado sobre o valor do energético comercializado pela concessionária aos postos de combustíveis, e que cada um deles é livre para definir o preço que praticará aos seus respectivos consumidores, não tendo a companhia, portanto, controle sobre a definição de tal valor.

De acordo com o gerente comercial de grandes clientes da companhia, Elismar Correia, a Petrobras separa o preço do gás em valor da molécula e do transporte até chegar aos locais de venda. "O gás não se acumula. Ele é distribuído através de rede [canalizada], não é armazenado. O nosso cliente é o proprietário de posto, nós repassamos o valor para eles, mas não interferimos nos preços praticados na bomba. Não há como precisar porque o desconto não está chegando ao consumidor, pode ser por questões operacionais", afirmou.

Ainda segundo a companhia, o gás natural é um energético que proporciona uma série de vantagens aos usuários por ser considerado um combustível versátil, seguro, econômico e ambientalmente mais correto. "A gente tem um compromisso de buscar a melhor tarifa, sabendo da relevância que o gás veicular tem para a sociedade baiana, principlamente por causa da questão da chegada das corridas por aplicativos porque a sociedade necessida dessas novas formas de transporte", disse Correia.

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier