Taxistas com medo: primeiro semestre foi o mais violento dos últimos 3 anos

De janeiro a junho desse ano foram registrados 214 assaltos

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  • Bruno Wendel

Publicado em 6 de agosto de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Quando foi obrigado a descer um matagal no Centro Industrial de Aratu (CIA), por volta das 21h, o taxista A.B.C, 39, teve a pior experiência de sua vida. Foram 10 segundos que pareciam intermináveis, ao som das vozes de três assaltantes (dois homens e uma mulher), que o ordenavam a caminhar reto, sem olhar para trás. “Pensei que ia morrer, que um deles pudesse atirar por trás”, declarou.

Ele relata o que lhe aconteceu no dia 31 de maio deste ano, após aceitar uma corrida do Caminho das Árvores para a Barra, local onde o trio anunciou o assalto. O taxista entrevistado pelo CORREIO é mais um de tantos que endossam os dados referente à insegurança aos motoristas de táxi. O primeiro semestre de 2020 foi o mais violento em três anos para a categoria.

De janeiro a junho desse ano, foram registrados 214 assaltos, sendo três motoristas espancados, seis veículos tomados de assalto e um latrocínio. No mesmo período em 2017 foram 156; em 2018, o total foi de 178 e em 2019, 184 casos. As informações são da Associação Geral dos Taxistas (AGT), uma vez que a Secretaria de Segurança Pública ainda não faz esse tipo de recorte em seus dados estatísticos.“A cidade ficou mais vulnerável por causa da pandemia. Veio redução dos policiais, pois muitos deles adoeceram e bandidos foram liberados pela justiça devido ao risco de contaminação da covid”, declarou Denis Paim, presidente da AGT.De acordo com a associação, 251 taxistas foram assaltados este ano, sendo que 37 deles tiveram os carros levados e seis taxistas foram assassinados.  “Os criminosos estão usando os carros da categoria para fazer arrastões em ponto de ônibus. Um táxi é todo padronizado e não chama a atenção de ninguém, inclusive da polícia ”, disse Denis. Segundo a AGT, 12 mil taxistas rodam em Salvador.

Assalto O taxista A.B.C roda em Salvador há 16 anos e, até do dia 31 de maio, nunca tinha sido assaltado. “Sempre tem a primeira vez, mas a minha foi muito traumatizante, pensei por segundos que havia chegado o meu fim”, contou. Ele contou ao CORREIO que no dia atendeu ao chamado feito por um aplicativo: “Era a minha tática de segurança, pois acreditava que era mais difícil ser vítima de bandidos” No primeiro semestre deste ano, foram 214 assaltOs a taxistas em Salvador(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)   Ao chegar para atender, por volta das 19h, uma surpresa: a corrida, pedida por um homem, era para mais um casal. “Os três estavam bem vestidos e pareciam que tinham acabado de sair da loja, porque seguravam o lanche. Estavam de máscaras, por causa da pandemia. Pediram a corrida para a Barra e foram o tempo todo comendo, mas nem liguei”, contou. 

Quando chegou ao destino, na Rua 8 de Dezembro, o local estava deserto. Foi quando o motorista sentiu uma faca encostada à barriga. “O cara que estava ao meu lado armado, me obrigou a passar para o banco de trás. Ele veio junto comigo e o casal passou para a frente, sendo que o homem, assumiu o volante”, detalhou.

Foram para o Cia, onde o carro parou e o trio mandou o taxista sair. “Achei que um deles poderia estar com um revólver e atirar. Nessa hora passa um monte de coisa na nossa cabeça”, contou a vítima, que foi deixado no local e teve o carro, celulares e outros pertences levados. Outros casos Além dos assaltos que ocorrem com frequência durante as corridas, os taxistas estão sendo vítimas de arrastões. Em julho deste ano, a categoria foi vítima em um ponto na Rua Carlos Gomes, no Centro. O taxista Clóvis Júnior passava na hora e viu tudo: “Transitava em velocidade baixa, quando, pelo menos cinco homens, surgiram entres as pessoas e começaram a roubar todos os taxistas que estavam parados no ponto. No meio da confusão, aproveitaram para roubar também as pessoas que passavam”. Categoria se queixa que promessas feitas pela SSP não foram cumpridas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Presidente da AGT, Denis Paim disse que a última reunião que teve com a Secretaria de Segurança Pública, há seis meses, ficou acordado uma série de medidas na tentativa de minimizar a insegurança da categoria. Entre elas: abordagem dos táxis, principalmente, no transporte de passageiros; prioridades dos taxistas para registro de boletins de ocorrência; agilidade para a realização da perícia dos táxis tomados de assalto; atendimento com brevidade no 190, e prioridade nos crimes apurados nas delegacias de bairros contra os taxistas.

 “Tudo isso ficou só na promessa. Os táxis com passageiros não estão sendo abordados nas blitze, os taxistas padecem nas delegacias para registrar ocorrência de roubo e o carro demora até dois dias para fazer a perícia A gente demora até meia hora para comunicar um roubo de um táxi no 190. Nosso pleito maior é uma delegacia especializada para a categoria. Este ano tivemos seis taxistas assassinados e nenhum dos crimes foram elucidados”, revela Denis.

O presidente da AGT citou como exemplo dois casos de taxistas assassinados este ano sem solução. Depois de 20 dias internado no Hospital Geral do Estado (HGE), após ter sido baleado numa tentativa de assalto no bairro de São Cristóvão, o taxista Leonardo Santos dos Prazeres, 37 anos, veio a óbito no mês de maio. Em março, um taxista de 48 anos, identificado como Márcio Melo Silva, foi assassinado na tarde desta quinta-feira no bairro do Saboeiro.  

Por meio de nota, a SSP-BA disse que no primeiro semestre de 2020, cerca de 80 mil táxis foram abordados na Bahia. Destaca que o serviço do 190 tem dado prioridade nas demandas e que as delegacias estão orientadas a priorizar o atendimento. Acrescenta ainda que repassará as demandas indicadas para as polícias Militar e Civil aperfeiçoarem as ações preventivas e repressivas.