Teimosos vão às ruas de São Marcos no primeiro dia de medida restritiva no bairro

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, são 230 casos de covid-19 na região

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  • Bruno Wendel

Publicado em 6 de junho de 2020 às 14:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

“Vá para casa! O coronavírus está causando a morte em todo mundo”. Isso era o que dizia, na manhã deste sábado (6), o alerta de um carro de som da Prefeitura de Salvador na rua principal de São Marcos. É o primeiro dia em que o bairro passa por medida restritiva regionalizada. No entanto, o aviso soava indiferente para algumas pessoas que circulavam na região sem necessidade extrema - e, inclusive, sem a máscara. 

O comportamento irresponsável custa caro. Segundo os dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), são 230 casos de covid-19 em São Marcos - 215 nos últimos 30 dias e 156 nos últimos sete dias. O bairro ainda contabiliza sete mortes pela doença. A princípio, as medidas durarão sete dias na localidade. Caso não haja melhora, podem ser renovadas.

O CORREIO circulou por São Marcos e, por volta das 8h, encontrou o auxiliar de serviços Roberto Miranda dos Santos, 46, em altos papos com a vizinha, a empregada doméstica Wilma dos Santos, 33. Eles estavam em uma distância curta um do outro, inferior ao distanciamento social de a 1,5 metro recomendado pelas autoridades de saúde, para impedir o contágio da covid-19. Ambos comentavam justamente as consequências das aglomerações na pandemia quando foram abordados pela reportagem.  Roberto e Wilma papeavam enquanto ela esparava o ônibus (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) “Falava aqui da quantidade de gente na rua. É um absurdo. Todo mundo correndo o risco de pegar a doença”, disse ele, que, logo em seguida, ficou sem graça ao ser questionado sobre o porquê de não estar em casa.

“Eu saí porque vim comprar uma tinta para pintar uma parede. No caminho, encontrei ela, que, muito mais que minha vizinha, é uma irmã, e estou fazendo companhia até o ônibus dela chegar. Depois, ainda vou lá em cima ver a tinta”, justificou Roberto entre uma gargalhada e outra. “Eu só saio de casa porque não tem jeito. Preciso trabalhar”, se defendeu Wilma. 

Com dois filhotes de poodle nos braços, Aldecir Santos Rocha, 47, aguardava a chegada da irmã. A dona de casa estava parada mais de meia hora no local para entregar os animais, que tinham acabado de tomar banho.

“Ela está vindo de carro, disse que era rápido e, até agora, nada. Ela tinha até dito que parava (o carro) na porta de casa, mas insisti em vir à rua, aproveitar para ver o momento, mas já me arrependi", disse ela, olhando para o relógio.

Aldacir admitiu que poderia ter ficado em casa. “Sei que não estou agindo corretamente, que só deveria sair para algo extremo, mas achava que uma saidinha rápida não haveria problema. Assim que minha irmã chegar, vou pra casa”, afirmou.  Aldecir esperava a irmã chegar para entregrar os filhotes de poodle (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Sem máscaras Além de encontrar pessoas que não tinham necessidade extrema para estarem rua, o CORREIO flagrou moradores sem máscara, elevando ainda mais o risco de contágio do novo coronavírus. Uma dessas pessoas foi o comerciante Alex Nogueira, 45. A máscara dele estava posicionada abaixo do queixo.

“Pus aqui porque não dá para usar enquanto estiver na moto. A máscara dá agonia no rosto quando a gente coloca o capacete. Então, quando estou de moto, só uso quando preciso entrar em um local que é exigida a proteção”, disse ele, tranquilamente.  Algumas pessoas não se importavam em andar sem as máscaras (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Logo após, dois rapazes circulavam pela calçada sem as máscaras. Questionados, um deles respondeu que tinha o item de proteção no bolso e que havia esquecido de colocar. “Foi a agonia. Saí de casa com muita pressa, pois soube que a fila da lotérica está grande”, declarou.

Perguntado sobre o risco de contaminação, já que ia para um local de possível aglomeração, ele debochou: “Lá, peço pego de alguém emprestado” 

Filas As filas não foram poucas em São Marcos: tinha fila para entrar em supermercado, açougue... Mas o maior número de gente estava no entorno das lotéricas e dos caixas eletrônicos espalhados pelo bairro.

“A gente está aqui porque precisa do auxílio emergencial. Mas dá para ver que não tem ninguém aqui um colado no outro e está todo mundo de máscara”, disse o pedreiro Francisco Martins Costa, 55, uma das pessoas na fila da lotérica. 

No mesmo local, a autônoma Maria das Graças Oliveira, 45, esperava a vez para também sacar o auxílio. “A situação aqui já esteve pior. Outras vezes era um monte gente, uma aglomeração danada. Hoje, está mais tranquilo, sem agonia, as pessoas respeitando umas às outras”, declarou.  Fiscais da Sedur interditaram oficina em São Marcos (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Ações Ainda no primeiro dia restrição no bairro, a Prefeitura de Salvador fez diversas açõe. Dentre elas, a realização de testes rápidos para detectar o novo cononavírus. Os exames eram realizados na Escola Municipal Clériston Andrade, na Rua Djalma Sanches. Até às 10h, havia mais de 200 pessoas em uma fila. 

Fiscais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) foram às ruas do bairro monitorar o cumprimento das medidas de prevenção e controle do coronavírus. Entre os estabelecimentos interditados, estava a oficina Auto Dias.

“Não sabia que não podia abrir, mas entendo a ação da prefeitura. Todo isso é para reduzir o número de infectados no bairro”, declarou o dono da oficina, Paulo Henrique Pinheiro Dias, 28.