Tempo de degustação de panetones

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  • Kátia Borges

Publicado em 17 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Julho passou voando nesse ano intenso. Entramos em agosto exaustos. A padaria do bairro já oferece degustação de panetones. Escuto Velvet Underground cantar All Tomorrow`s Parties. Muito em breve, luzes de todas as cores acenderão a cidade. Já não somos os mesmos. As moças do supermercado, supliciadas com as canções de sempre, ostentarão gorros vermelhos (azuis, quem sabe).

Complementam esse cenário de alegrias uniformes, as notícias sobre o trânsito. Passarelas engarrafadas por filas de consumidores em direção ao shopping center. Também seguirá sem retoque a queima de estoques nas lojas. E o movimento de quem foge, carros velozes brilhando nos radares dos centros de controle. Os últimos natais têm sido de lembrancinhas, comentam os experts.

Busco, no meu coração de FM, alguma música que nos resgate, um presente. Possível e doce, apesar da aparente inutilidade. Nunca faço planos, confesso com sinceridade ao amigo que me pede um rumo. Siga e o destino acontece, insisto. Mas nem é verdade. Respire e é tudo, ele não entende. Então há o futuro, admito. Não consulte os seus guias sobre ele. Então há o futuro, essa esfinge.

Daqui a quatro meses, Vênus entrará no signo de Aquário, a Lua estará minguante, Marte ficará em harmonia com Plutão. E é certo que precisaremos de uma nova árvore, checaremos com muito cuidado as pequenas lâmpadas de LED dentro das caixas, você bem sabe como me comove. Nunca mais seremos os mesmos de antes. Até 2052, seguiremos no Ciclo de Saturno, soturno zênite.

Daqui a quatro meses, como se estivéssemos no meio do set de um filme, seremos reféns de um cenário kitsch outra vez. Verskitchen. Assim os alemães chamavam as imitações das obras de arte. Logo eles, que dizem que o diabo mora nos detalhes. Talvez se referissem aos pequenos enfeites. O presente é, sim, o Grinch, chegarmos ao tempo da degustação de panetones como se fôssemos os Whos de Whoville, obrigados de algum modo a ser infelizes, depois que a festa passa.