Tênis: um bom exemplo para convivência?

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Publicado em 25 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Percebo no tênis (quadra ou mesa), dentro da tetralogia que escrevo, o exemplo mais claro da relação que devemos evitar em qualquer convivência: uma disputa intensa e acirrada. São dois adversários em extrema competição e, ainda, ambos constantemente tentando dificultar o jogo (a vida) do outro em todas as possibilidades. Tudo por uma conquista e benefício individual.  

A origem da palavra comum vem de duas: “como” e “um”. São dois (ou mais) pensando como um, com objetivo comum. No tênis, a única coisa em comum são as regras – tal qual existe em qualquer grupo. Todo o resto é concorrência belicosa declarada. Como todo esporte individual, são dois atletas em confronto, em que só um vencerá – inexiste interação colaborativa, empatia, tampouco sinergia.

Será o tênis um bom exemplo para a convivência?

O embate pessoal, nessa modalidade de esporte, é tão difícil que é vetada entre as partes a comunicação direta – a ferramenta mais necessária e poderosa de qualquer relação –, ocorre através de um terceiro. Este é o que julga, o que avalia, o que decide pelas regras e, assim, numa analogia, é o juiz de um cenário típico de uma audiência judicial.

Ter o seu certo grau de individualidade é fundamental para a sobrevivência e evolução. Competir e concorrer em assuntos específicos, bem abalizados é necessário, moral e salutar – fazem parte do “jogo da vida”. São condições do tênis e da convivência: a busca por mais conhecimento técnico, processos seletivos, profissionalização, conquistas de posições, ter reconhecimento meritório, etc. 

O que não deve acontecer em disputas são desonestidades, privilégios, assim como, provocações emocionais para o desequilíbrio do adversário. Os êxitos têm que vir somente pelo mérito pessoal, intransferível e irretratável. Um mau exemplo são os privilegiados em suas “carreiras”, que, sem idoneidade, invadem pela “janela” (parental ou fraternal) para confiscarem, em detrimento de outros cidadãos, cargos da coisa pública pela usucapião, como fruto da leniência dos seus pares – muitos, piamente, até bravos defensores da ética e da moralidade. Esses não têm a moral e as virtudes para uma justa esportividade, leia-se, convivência.

Em nossas relações, seja familiar, conjugal, filial ou fraternal, não deve ocorrer qualquer concorrência. Mas, caso ocorra, é necessário ter uma DR (Dedicação à Relação) utilizando-se da melhor ferramenta, com toda boa-vontade – procurando compreender a compreensão do outro. Cuidando um dos outros. Ninguém solta ninguém! 

No labor diário, devemos ter clareza de que nos traga a paz ao coração, e ele só a sente plena quando está apaziguado pela consciência serena e bem nutrida, por termos feito o nosso melhor, dentro de uma conduta empenhada em edificar relações justas e virtuosas. Se errarmos, que seja porque somos humanos com as nossas limitações, mas em constante processo de reconhecimentos, descobertas e aperfeiçoamentos. Tenha o sono dos justos. O mais sábio, evolutivo e menos danoso, é não se propor a errar. Tente também aprender através dos erros das outras pessoas – os notórios “maus-exemplos”.

Sugiro que exercite fazer projeção: imagine como você estaria se sentindo mal no lugar de alguém que cometeu um determinado erro evitável. Refletiu? Conseguiu? Sentiu asco e aversão? Compreendeu a precisão desse aprendizado? Ou para ter consciência e aprender a prática correta ainda tem a necessidade de experimentar essa dor em sua vida? Tenha certeza de que todo erro pode gerar sofrimentos e decepções imensuráveis para, além de você mesmo, para sua família (seu porto-seguro), suas amizades e a quem você ama. Com suas escolhas, assuma todas as suas responsabilidades e se preserve honrando a si, perante a seus próximos. Empenhe-se por nobreza em seus atos.

O merecimento é inevitável, atemporal e imensurável – e, quando a nós chegar, seja altivo ou seja penoso, que venha pleno de experiência e conhecimento pela aprendizagem vivenciada. Interpretando assim, a todo momento nós nos fortaleceremos e ganharemos algo, nunca perderemos os “jogos”. Com essa atitude, sairemos com as nossas vitórias e glórias pessoais em todas as situações. Compreendeu a jogada de mestre?!

É mais ou menos assim: “Vivendo e aprendendo a jogar. Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando. Nem sempre perdendo. Mas aprendendo a jogar.“ – conforme nos (en)canta Elis Regina, na música “Aprendendo a jogar.”, de Guilherme Arantes.

É confortante ter consciência de que a clareza que encandeia o nosso caminho próspero é a mesma que nas dificuldades reitera a esperança, no esforço cotidiano para aceitação da realidade, bem como a que fomenta a resiliência e a perseverança para agirmos, de forma ainda mais corretiva e assertiva, em nossas escolhas.

Clareza também bastante para nos motivar às mudanças necessárias, e a suportar as dores, caso ocorram (os inclementes reveses da vida, aos quais, todos estamos vulneráveis). Aceite-as. Ciente que tudo passa e somente fica a experiência. Dor não mata. Contudo é um aviso preciso e poderoso. Observe o seu merecimento e o que tem para aprender. Algumas fazem parte do processo evolutivo; outras podem ter sido meros incômodos ou adequações ocasionadas pelas suas transformações e saídas da zona de conforto.

O esporte pode ser individual – assim, como na vida são os seus desafios. As pressões que chegam devem, em todo o momento, ser trabalhadas para os reequilíbrios, a serem buscados de modo constante. 

“A vida é doce e dura, que nem rapadura”. Esse ditado popular traduz a possibilidade de fazer o trocadilho: a vida tem muita “doçura” e temos o dever de reconhecer isso; mas ela também, com “dureza”, é bastante exigente com todos. O equilíbrio entre “doçura” e “dureza” será conforme o caráter de nossa conduta. Fique atento, pois todo jogo é duro – alguns até doces, um “chocolate”.

Contudo, estamos expostos a possíveis jogos “brutos”, aqueles em que os adversários extrapolam o razoável e o respeito ao próximo – por vezes, até o legal e o honesto. Quando estiver em um desses embates, mantenha sua retidão no agasalho das regras e fortaleça a dureza da exigência. Se necessário for, reclame atenção de um intermediador.

Essa conduta vale para quaisquer esportes, exercícios físicos, tratamentos, estudos ou atividades profissionais; bem como para dinâmica de organizar grupos, fazer e manter amizades; e, além de tudo isso, ainda vale para conciliar conflitos entre desamor e afeto, rudeza e agrado, medo e coragem. 

Com as simbologias e as exigências do tênis, venho aprendendo a ter mais disciplina, a exercitar a subordinação às regras, a me concentrar mais em minhas habilidades e potenciais, a estudar os comportamentos alheios – sendo mais perspicaz. Como também a ser mais compreensivo com as limitações com quem labuto, posto que tenho as minhas, perdoando mais, com a sutileza da humildade, da paciência e da tolerância. Jamais guardar mágoas. Tentando praticar um dos ensinamentos para o perdão: oferecer outra face, reagindo de forma positiva, resolutiva e apaziguadora – se sofrer de outrem o egoísmo, pratique o altruísmo; se, ofensa, a dignidade; se, arbitrariedade, a justiça; se a ruindade, a boa vontade; se, ódio, o amor.

Ciente, sigo empenhado para que o resultado de minhas ações individuais seja o mais positivo que puder oferecer, posto que elas refletirão no grupo no qual eu estiver inserido. Assim, através do exercício da cidadania, é preciso ser exigente quanto à equidade de forças, priorizando os mais desassistidos e necessitados, agindo atento aos direitos e deveres comuns aos cidadãos na sociedade.

A todo momento, pratico o ensinamento e a legitimidade social mais imprescindível: o de conviver respeitosamente com as diferenças.

Busco praticar o exemplo (o melhor conselho que se tem) de Gilberto Gil – o qual reconheço como o mais completo, entre os seres humanos. De suas mensagens em versos musicais, destaco estes que nos ensinam como este mestre genial vê o mundo: “Pela Lente do amor vejo tudo crescer, vejo a vida mil vezes melhor... Sou capaz de entender os detalhes da alma de alguém... Que ainda posso enxergar mais além.”

Desse modo, o melhor é seguir vendo o mundo por uma lente complacente, que evidencie, com precisão, o justo e o ético nas suas disputas e concorrências; paciência e determinação, para cumprir as metas que estabeleceu e com as quais se comprometeu. Preparai-vos e disputai!

Sergio Bitencourt @serginho_bitencourt é ex-dono da mesa de pingue-pongue, na década de 1980, da rua Ubarana-Amaralina... que alucina a multidão.*