Terra Afefé abre os caminhos para Margareth Menezes celebrar 35 anos de carreira

Parceria com Carlinhos Brown, música tem lançamento nesta sexta (11) e clipe sai no sábado (12)

Publicado em 11 de fevereiro de 2022 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Wallace Robert

Era 1987, quando uma jovem Margareth Menezes foi convidada por Djalma Oliveira para gravar o primeiro samba-reggae da história. Lançado naquele ano, Faraó foi gravada no estúdio WR, à época instalado na Rua Teixeira Leal, na Graça. Virou sucesso, com mais de 100 mil cópias vendidas, e revelando o talento de Maga. O que pouca gente sabe é que durante as gravações, dois gênios foram apresentados um ao outro. Depois dali, se tornaram amigos, parceiros e irmãos. Quis o destino que ali, naquele estúdio, também estivesse Carlinhos Brown.

A identificação entre os dois foi imediata e, ao longo desses 35 anos, a parceria rendeu frutos como Terra Afefé, single lançado pela dupla nesta sexta (11) e que terá clipe, dirigido pela premiada cineasta Joyce Prado, publicado no sábado (11). É o quarto trabalho conjunto de Margareth e Brown: antes, já tinham gravado Passe em Casa, dos Tribalistas; Nêgo Doce (Afropopbrasileiro/2001) e Amor Ainda (Naturalmente Acústico/2008). Além disso, Brown assina a letra de outro sucesso de Margareth, Dandalunda. Brown beija a mão da amiga Margareth (Foto: Raoni Libório/Acervo Carlinhos Brown) A nova Terra Aféfé, segundo a própria Maga, é uma ode à feminilidade ancestral, uma exaltação ao lugar da mulher na formação da humanidade e um chamado a Iansã, orixá dos ventos e tempestades. A cantora ainda diz que apesar de toda a força e conteúdo que a música carrega, o trabalho tem uma sonoridade leve, forte e dançante ao mesmo tempo.

A música nasceu de um vídeo que Margareth viu com um movimento de ventos que a chamou atenção. Prontamente, enviou para Carlinhos Brown - que também se encantou. O próprio Cacique foi quem batizou a música como Terra Afefé, que seria uma terra cheia de ventos. O curioso é que eles descobriram mais tarde que Terra Afefé é um lugar que existe: uma comunidade que fica em Ibicoara, na Chapada Diamantina."É uma música forte, que traz energia e tem essa inspiração toda. O respeito à manutenção de nossa floresta, fala dos povos indígenas, a necessidade que temos de preservar nossas reservas naturais e ambientais. É uma música com vários componentes, que me honra muito em cantar", afirma a cantora.Terra Afefé abre caminhos para o 2022 de Margareth. Purifica a caminhada, como ela mesma gosta de definir. Além dos 35 anos de carreira, o ano trará os 60 anos de Maga, que está trabalhando em várias frentes e afirma viver um momento especial em seu trabalho. Duas dessas frentes mais especiais passam por digitalizar toda a sua obra e também os trabalhos com a Fábrica Cultural, seu projeto social que lançou o programa Acelera Iaô, que vai fomentar afroempreendedores e levar formações em moda, artesanato, gastronomia, música e serviços criativos."É um novo momento da minha carreira. Ter o reconhecimento de todo esse trabalho ao longo de mais de três décadas me faz realmente feliz. É uma luta. Ser uma artista negra nesse país nós sabemos que não é fácil, nossa história mostra", avalia Margareth.Maga é correria, história, talento, negritude e carinho reunidos numa só mulher e a nova canção quer falar um pouco sobre isso. Ela confirma ser ciente disso  e quer celebrar tudo que já fez na carreira: desde ser a voz de um hino como Faraó até outros feitos, como abrir shows do Talking Heads em turnês ao redor do mundo, e criar o Bloco Os Mascarados, símbolo de diversidade no carnaval de Salvador.

Ainda que esteja ciente, Margareth diz que volta e meia se pega assustada com o tanto de coisa. “Tem horas que eu mesma me assombro, é muita coisa. A gente que passa, sabe como é que é fazer isso com erros e acertos. Tive muitos momentos em que me senti só, num deserto para atravessar. Mas, atravessamos e agora estamos aqui neste novo momento”, pondera.

Esse novo momento é motivo de expectativa para Margareth, que acredita muito na possibilidade de construir novas narrativas e comemora que a tecnologia deu oportunidade para que mais pessoas negras cheias de talento possam mostrar o que sabem por aí. Assim como era a jovem mulher que entrava no estúdio WR lá em 1987, e hoje é referência para mais de duas gerações da negritude nessa terra musical.