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Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2020 às 08:15
- Atualizado há 2 anos
A rapidez da transmissão da Covid-19, combinada com a (suposta) baixa taxa de imunidade adquirida, significa que a maioria das pessoas tem um risco considerável de contrair ou espalhar o vírus, de modo que a testagem em massa teria um objetivo legítimo de saúde pública. Mais importante, vincular os testes ao afrouxamento das restrições a tornaria um componente integrante de uma estratégia para restaurar as liberdades civis.>
Considere, por exemplo, uma política na qual as pessoas que procuram retornar ao trabalho, escola ou atividades sociais sejam submetidas a testes para detecção de infecção (RT-PCR) e anticorpos. Testes positivos para infecção desencadeariam o auto-isolamento. Testes negativos atestariam a liberdade de movimento por um período definido - digamos, 2 ou 3 semanas - após o qual testes negativos adicionais renovariam a certificação. Se os anticorpos gerados pela Covid-19 forem capazes de gerar proteção a longo prazo contra a reinfecção e a transmissão - o que é plausível, mas ainda não estabelecido - um teste sorológico IgG positivo justificaria a certificação a longo prazo.>
No entanto, as limitações nesta abordagem são claras. Seriam necessárias grandes quantidades de testes e equipamentos de proteção individual, nenhum dos quais existe atualmente. Adquirir e transmitir infecções dentro de locais de testagem ainda seria um risco; as pessoas também podem ter resultados negativos no estágio inicial da infecção o que obrigaria a retestagens periódicas.>
Uma política de extensão de privilégios para pessoas com imunidade adquirida (liberar para o trabalho quem testou IgG positivo), paradoxalmente pode representar incentivo para que os profissionais mais jovens ou em maior vulnerabilidade econômica se deixem infectar deliberadamente.>
Ressalta-se ainda, que a maioria dos testes rápidos disponíveis é baseada na detecção de anticorpos. Como as pessoas que se infectam pelo novo coronavírus só desenvolvem anticorpos em média após 7 dias de início dos sintomas, esse tipo de teste não é o ideal para investigar pessoas na fase inicial da doença, quando os sintomas se apresentam.>
Diante desse cenário, as medidas de achatamento da curva de crescimento deverão continuar focadas nos pilares fundamentais: higiene das mãos, distanciamento social e principalmente, o uso de máscaras. Estudos revelam que a máscara caseira reduziu em até 78% a eliminação de microrganismos no ambiente, além de limitar o contato das mãos com boca e nariz, através de uma barreira física>
Essas e outras imperfeições nas abordagens centradas nos testes em massa fazem com que, no presente momento, um programa abrangente de testagem, certificação e retestagem esteja além dos limites da capacidade do nosso sistema de saúde.>
Fábio Vilas-Boas é doutor em Ciências e Secretário Estadual da Saúde>