Tiago Sant'Ana volta a debater masculinidades negras em nova exposição

“Estrelas Flamejantes em Manhã de Sol” é inspirada em trecho de texto de escritor americano James Baldwin

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 10 de maio de 2022 às 06:00

. Crédito: Foto: Divulgação
. por Pintura: Tiago Sant'Ana

Tiago Sant'Ana é um artista visual. O impacto daquilo que sai da visão e passa para a cabeça e coração são partes fundamentais do trabalho do baiano de Santo Antônio de Jesus. Pode-se dizer que ele é um artista da performance, mas a pandemia o levou para um outro caminho, mais íntimo, e que ele gostou de experimentar: a pintura. "Precisava só de tempo, tinta, tela ou papel", conta com voz de quem sorri e soube aproveitar que tinha todos esses recursos à sua disposição e vai expor pinturas pela primeira vez.

A exposição Estrelas Flamejantes em Manhã de Sol é inspirada num trecho do escritor negro James Baldwin (1924-1987) e abre no próximo dia 12 de maio, às 19h, na Alban Galeria. São 20 obras inéditas, especialmente produzidas para a ocasião, que tem ensaio crítico assinado por Marcelo Campos, curador-chefe do MAR - Museu de Arte do Rio e professor da UERJ.

O texto que inspira o projeto é datado dos anos 1960, quando Baldwin teceu ma comparação entre a mobilidade social do homem negro da diáspora e elementos celestes. Tendo esse ponto de partida, Tiago Sant’Ana traça uma metáfora em que céu, lua, luz e sombra dão visualidade a um conjunto de trabalhos onde a masculinidade negra assume uma posição central.

Essa masculinidade negra é tema recorrente do trabalho de Tiago, que acredita ser necessário construir uma nova imagem de homens negros. Mais afetuosa, leve, humana.

"Ao longo da história da arte o homem negro foi representado de maneira muito fixa. Ou hipersexualização ou com a questão da força, virilidade, sempre por pessoas brancas, de maneira muito exótica. Pensei em retratar o homem negro de outra maneira, com um rosto nítido, não estereotipado e em outras situações que não da sexualização, trabalho ou esforço físico. É com uma ternura, complexidade, até porque são pessoas que são amigos meus", disse em entrevista por telefone ao CORREIO.

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O conjunto principal de pinturas – em acrílica sobre tela e aquarela sobre papel - trazem uma associação do sol com uma posição poder e da lua como uma alegoria para pensar em ciclos de vida e amadurecimento. Essa imagem se torna proeminente em trabalhos como Sete Luas, em que, com olhar distante, como um sonhador, um homem é circundado pelo satélite natural da Terra em diferentes fases.

“Nesta exposição, eu criei uma série de imagens de poder. Seja um poder pelo dado energético dos próprios astros que figuram nas telas, seja porque esses homens retratados possuem uma complexidade e uma posição altiva frente à audiência. Eles têm um rosto nítido apresentado, possuem tensão e particularidades”, comenta o artista.

Na obra de mais de 2 metros de altura e que dá título à mostra, Sant’Ana traz um homem vestido com um terno à frente de um céu dramatizado por meio de cortinas. O personagem carrega na mão uma máscara de ouro e possui os pés descalços sob um chão de ladrilhos.

"Eu sempre tive estudos e me dediquei a estudar a história da arte, mas nunca me considerei o pintor. Já tinha investigado performance, vídeo, fotografia, escultura, mas nunca tinha pintado. No começo da pandemia, estava em casa impossibilitado de outras linguagens porque exigem maior logística e comecei a pintar. Mas aí não parei mais. O ritmo foi se tornando cada dia mais intenso", recorda.

Tiago Sant’Ana tem alcançado destaque nacional e internacional, ganhando prêmios como o Soros Arts Fellowship da Open Society Foundation e a Bolsa ZUM do Instituto Moreira Salles. 

Recentemente, suas obras passaram a integrar o acervo do Denver Art Museum, nos Estados Unidos, e do MASP, em São Paulo. Atualmente, o artista está em cartaz em diversas exposições, como “The silence of tired tongues”, na Framer Framed, em Amsterdam. Ele também tem obras expostas em Salvador, na mostra Encruzilhada, que está em cartaz no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM).

SERVIÇO

Mostra: Estrelas Flamejantes em Manhã de Sol

Onde: Alban Galeria, Rua R. Senta Púa, 53, Ondina

Abertura: quinta-feira (12), às 19h30

Visitação gratuita: até o dia 01 de julho, das 10h às 19h, de segunda a sexta; e de 10h às 13h, aos sábados