Traficantes paraguaios intimidaram policiais na invasão de esconderijo de Zé de Lessa

Chácara onde criminoso baiano foi morto fica na divisa com Paraguai

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 11:49

- Atualizado há um ano

Policiais do Mato Grosso do Sul foram recebidos a tiros quando invadiram a chácara onde estava escondido o baiano José Francisco Lumes, o Zé de Lessa. Ele é apontado pela Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) como o bandido mais procurado do estado, e foi morto na manhã de quarta-feira (4).

Os tiros também partiram de traficantes do Paraguai - o local do confronto é divisa com o Brasil e ocupada por outros foragidos da Justiça.

“Foi muito tiro trocado”, afirmou o delegado Fábio Peró, titular da Delegacia de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras). “Vieram tiros tanto dos criminosos que estavam na chácara quanto de traficantes do Paraguai, pois lá é divisa com o Brasil, muitos foragidos da Justiça ficam naquela região e também nos atacaram”. (Foto: Divulgação) Fundador e líder da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), de maior atuação na Bahia, ele era o ás de ouros do Baralho do Crime da SSP, um arquivo que reúne os principais criminosos do estado. A SSP-BA destacou que Zé de Lessa tinha envolvimento com ataques a bancos, assaltos a carros-forte, sequestro e tráfico de drogas. 

O ataque ocorreu numa área rural do estado do Mato Grosso do Sul. Zé de Lessa e mais três comparsas foram mortos após policiais terem descoberto seu esconderijo.

Há um ano que Zé de Lessa estava na chácara que fica numa área de fronteira com o Paraguai, muito frequentada por traficantes, entre as cidades de Aral Moreira e Coronel Sapucaia, no sul do Mato Grosso do Sul.

Os policiais chegaram nas primeiras horas da manhã até o local após Zé de Lessa e seu bando tentarem explodir um carro-forte da empresa Brink’s na manhã de segunda-feira (2).

Chácara simples A chácara tem estrutura simples, com paredes de bloco sem reboco, telhados de zinco na frente, de chão batido ao redor e próximo a ela há mais dois casebres de madeira. Dentro dela havia poucos móveis, todos simples, sem luxo algum.

Após a troca de tiros, Zé de Lessa foi encontrado com duas escopetas calibre 12 e uma pistola 9 mm perto dele. Os outros bandidos não foram identificados. (Foto: Divulgação) Na casa morava também uma índia cujo nome a polícia não informou. Ela era mulher de Zé de Lessa e disse em depoimento que eles estavam na chácara há mais de um ano. A mulher, basicamente, era responsável por fazer a comida dos bandidos e cuidar da casa. Ela foi liberada após prestar depoimento.

Durante a troca de tiros, um bandido conseguiu fugir pelo matagal, mas acabou sendo localizado pelo Grupo de Patrulhamento Aéreo da Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul.

O bandido, também não identificado, estava com fuzis e uma metralhadora ponto 50, que, segundo a polícia, tem capacidade de perfurar carros-fortes e helicópteros. Segundo o delegado Fábio Peró, o criminoso foi perseguido tanto por via aérea quando por equipes que estavam em terra. “Quando nos aproximamos, fomos recebidos à bala e ele atirou inclusive no helicóptero”, disse.

Próximo ao local onde o bandido estava, a polícia encontrou diversas armas de grosso calibre, como dois fuzis 556, um fuzil AK46 calibre 762, duas escopetas calibre 12 e uma pistola 9 milímetros, além de farta munição para essas armas e coletes a prova de bala. O bandido morreu no local. O armamento, segundo a polícia, foi usado na ação criminosa de segunda-feira passada contra o carro-forte da Brink’s.

'Graças a deus' O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, comentou a operação que terminou com a morte do traficante José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, afirmando que "graças a Deus" a polícia do Mato Grosso do Sul o tirou de circulação. Zé de Lessa, que é apontado pela pasta como o bandido mais procurado do estado, foi morto pela Polícia Militar ao lado de outros três homens em uma chácara entre as cidades de Aral Moreira e Coronel Sapucaia.

"Estávamos há alguns anos trocando informações com a Polícia Federal e inclusive com a Polícia do Paraguai. Sabíamos que ele estava lá, trazendo droga para abastecer o BDM (Bonde do Maluco) aqui no nosso estado e que, por algumas oportunidades nós tivemos quase próximos de pegá-lo, mas graças a Deus a polícia do Mato Grosso do Sul nessa ação conseguiu tirar ele de circulação", celebrou Barbosa, em áudio enviado ao CORREIO.

Ele continua, dizendo que é um "alívio" saber da morte e que agora a polícia baiana vai verificar se há informações sobre a passagem de Zé da Lessa no MS que indique alguma nova criminalidade na Bahia. "Para nós é um alívio e agora é trabalhar em cima das informações que eles detém lá. Já pedimos para a inteligência (da SSP-BA)  averiguar o que tinha com ele, quem estava andando com ele para ver se tem a informação de prática de outros crimes aqui no estado", explica.

O secretário está na Aústria, onde participa de viagem institucional para compra de novos armamentos. 

Vida no crime Zé de Lessa começou na vida do crime fazendo assalto a instituições financeiras. Foi preso algumas vezes e a última vez que saiu da prisão foi para terminar de cumprir a pena no regime domiciliar. Desde então, foi morar na cidade de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde começou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia.

Ele criou o BDM dentro da cadeia e logo sua facção passou a ganhar destaque. Tornou-se o principal rival da facção Katiara, comandada por Roceirinho, e passou a disputar pontos de droga com o rival. Ele tem entre seus principias comparsas alguns parentes.