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Nelson Cadena
Publicado em 28 de maio de 2020 às 05:00
- Atualizado há um ano
Nada como a boa concorrência. A inauguração da Rádio Comercial em 1933 foi um divisor de águas na radiodifusão baiana; pela mesma época surgia outra emissora, a Rádio Club. As duas novas, PRs__ terminologia que indicava o prefixo__ vieram para tirar do conforto a Rádio Sociedade da Bahia, inaugurada oficialmente em 1924 e de fato em 1925 quando entrou em operação para o público e estruturou uma grade de programação; contava com subsídio garantido do governo para sua sobrevivência, no montante de 40 contos de reis, através do decreto 3.755 de 31/10/24. Era um bom dinheiro. O correspondente a dois terços do valor do subsídio para a Escola Politécnica da Bahia.
Naqueles idos, a Rádio Sociedade funcionava no Passeio Público, tinha deixado de ser uma sociedade para ser propriedade de Armando Carneiro da Rocha (secretário da prefeitura) o engenheiro que construiu o prédio de A Tarde. A Rádio Comercial funcionava no 1º andar de um sobrado da Avenida Sete, em São Pedro, pertencia oficialmente ao pernambucano J. A Pereira de Lyra que tinha escritório no mesmo local; a Rádio Clube, por sua vez, se instalou, primeiro na Avenida Sete, após na Rua da Palma e em seguida na Rua da Mangueira, onde permaneceu mais tempo. Pertencia ao capitão do exército Volney de Barros Castro, um sulista, redator dos textos de exaltação ao Brasil irradiados pela emissora.
A concorrência proporcionou oportunidades de trabalho a cantores e músicos baianos; melhorou a qualidade da programação; segmentou públicos; atraiu patrocinadores e também, profissionais do rádio mais experientes que vieram de outros estados: Gilberto Martins e Leo Villar, dentre os notáveis. Um dos públicos de segmentação foi a colônia galega na Bahia. A Rádio Comercial irradiava “A Hora Espanhola”, programa dedicado aos cafés, bares e pastelarias, apresentado às 22,30 horas por Alberto Ravier; a Rádio Club apresentava “A Voz da Espanha” com Nemésio Martinez às 21 horas.
Nessa linha de segmentação, a Sociedade lançou “’Tico-Tico” voltado para o público infantil e um humorístico com Zê Trindade; a Club “A hora maliciosa”, humorístico dedicado as mulheres e “suas amiguinhas” e as conferências pontuais com temática de direito, ciências, literatura, evangélicas da Igreja Baptista e outras de acadêmicos como a do jovem Jorge Calmon, 19 anos, presidente da comissão da Casa do Estudante da Bahia, em 1934; a Rádio Comercial apresentava o “Programa dos Municípios” e o “Programa dos bairros”, dentre outros.
Pelas três emissoras andou Dorival Caymmi cantando marchas e sambas e formando duplas de sucesso. A Rádio Comercial apostava, na busca de audiência, no “Esplendido Programa” com direção de Humberto Porto (o célebre autor da música Jardineira em parceria com Benedito Lacerda) e o programa da Confederação Brasileira de Radiodifusão, coordenado por Roquete Pinto, pioneiro do rádio no Brasil, irradiado por várias PRs. A Rádio Club atraiu para a Bahia Gilberto Martins, anos depois contratado pela Tupy, Rádio Nacional e pela Standard Propaganda onde fez fama como jinglista e adaptou o clássico cubano, “Em busca da Felicidade”, primeira radionovela do país.
O maior sucesso da Rádio Comercial, enquanto durou, foi o ‘Programa da Cidade”__ em parceria com o jornal O Imparcial__ que consistia em um mix de notícias; crônicas de Dermeval Costalima, um dos pioneiro da televisão no Brasil); humor; música (Caymmi coordenava um grupo de chorinho); poesia; solos de piano e clarinete... Mais tarde o programa passou a ser feito em parceria com a rádio Club. Em 1937, na vigência do Estado Novo, as duas rádios por motivos diversos tiveram a sua concessão cassada. A Sociedade ficou sem concorrência até 1944 quando surge a Rádio Excelsior.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras