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Da Redação
Publicado em 13 de julho de 2020 às 08:33
- Atualizado há 2 anos
Danilo de la Torre nunca pensou em votar em Donald Trump, mas também não se animava com o democrata Joe Biden. A resposta errática do governo à pandemia faz com que o estudante de engenharia agora tenha certeza em quem votar. "Biden, porque é a única opção." Morador de Miami, de 20 anos, de origem cubana, De la Torre é o típico eleitor da Flórida que democratas e republicanos buscam.>
O Estado se tornou o novo epicentro do coronavírus nos EUA e bateu a marca de mais de 15 mil casos de coronavírus registrados em 24 horas ontem. Até agora, o maior número de infecções diárias era de 12 mil, em Nova York.>
Em abril, com a situação sob controle, o governador republicano da Flórida, Ron DeSantis, aliado de Trump, foi um dos primeiros a anunciar a reabertura da economia, seguindo a pressão do presidente. As atividades foram retomadas mais de um mês antes da adotada em Nova York, local do país mais atingido pelo vírus>
"Tem sido assustador. Não temos liderança em nenhum nível", afirma De la Torre, que vive no condado de Miami-Dade. Há pelo menos uma semana, as autoridades locais impuseram toque de recolher para tentar controlar a pandemia. Engajado no ativismo climático, De la Torre dizia, em março, que Biden não abordava a crise ambiental com seriedade. Agora, a prioridade é outra. "Vendo a atual resposta ao coronavírus, não quero um segundo mandato de Trump", afirma.>
A taxa de desemprego no Estado foi de 14% em abril e o sistema de auxílio emergencial local está sobrecarregado. A mãe do jovem, que é enfermeira, avisou em casa que no hospital onde trabalha não há mais leitos de UTI. Pelo menos outros 50 hospitais do Estado estão na mesma situação. Mesmo assim, o governador DeSantis afirmou que as escolas reabrirão em agosto.>
Há quase 25 anos, quem vence na Flórida leva a eleição presidencial. O Estado oscila entre republicanos e democratas, sempre com margens mínimas. Trump derrotou Hillary Clinton, em 2016, e ganhou os 29 delegados estaduais no Colégio Eleitoral. Agora, porém, o presidente está atrás de Biden nas pesquisas - o democrata tem 6,3 pontos porcentuais de vantagem, segundo a média de sondagens do site FiveThirtyEight.>
Para vencer no Estado, a campanha de Biden aposta no voto latino e jovem. Os latinos representam 16,4% do eleitorado da Flórida, a maior proporção já registrada. Entre 2016 e 2018, o crescimento nos registros de hispânicos foi três vezes maior do que o restante do eleitorado.>
Em todo o país, o número de latinos aptos a votar passou de 7%, em 2000, para 13% e eles devem formar o maior bloco entre as minorias pela primeira vez. No Arizona, em Nevada e no Texas o voto dos latinos também pode ser determinante.>
Na sexta-feira, 10, Trump embarcou para a Flórida, onde discursou para exilados venezuelanos. No discurso, prometeu "lutar pela Venezuela" e se promoveu como um líder duro com o tráfico de drogas. Antes de embarcar, o presidente assinou um decreto criando um comitê para melhorar o acesso dos americanos de origem latina a oportunidades econômicas e acadêmicas.>
A retórica antissocialista, vitoriosa em 2016, ainda tem forte apelo em Miami, entre exilados cubanos e venezuelanos. Mas a estratégia da Casa Branca para derrubar o regime de Nicolás Maduro não surtiu efeito e o ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton revelou em seu livro, lançado na semana passada, que Trump gostaria de se encontrar pessoalmente com o chavista - o que pegou mal entre os latinos mais conservadores.>
Já Biden chamou de "distração" a viagem de Trump. O democrata tem explorado o fato de a reabertura da economia ter levado ao aumento de casos de covid-19, que afeta mais latinos e negros, expostos na linha de frente de supermercados e serviços de entrega. "Está claro que a resposta de Trump foi dada à custa das famílias da Flórida", afirmou Biden.>
Com o fracasso da resposta federal e estadual à crise, mesmo líderes conservadoras do Estado buscam distância de Trump. O prefeito de Miami, Francis Suárez, recusou-se a dizer se votará no republicano. Descendente de cubanos, ele é republicano desde os 18 anos e considerado um líder importante entre os latinos do sul do Estado.>
"A pandemia mostrou o quanto Trump é ruim como líder e os eleitores da Flórida estão sentindo os efeitos disso", afirma a diretora de comunicação do comitê democrata da Flórida, Luisana Pérez Fernández. A campanha de Biden aposta também na insatisfação dos mais velhos com o fato de Trump ter insistido na reabertura - os idosos representam mais de 20% do total de habitantes da Flórida.>
"A comunidade latina foi mais afetada pela pandemia. Venezuelanos e cubanos sofrem com as mudanças nas regras de imigração. Os porto-riquenhos sofrem com o bloqueio de recursos para a reconstrução após o furacão Maria", diz Luisana. Mesmo assim, os latinos não são um bloco monolítico. Em março, uma pesquisa do canal Telemundo apontou que só 27% dos cubanos votariam em Biden. Entre os porto-riquenhos, o número salta para 81%. "Os latinos decidirão essa eleição. E a Flórida será o exemplo disso", completa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. >