Ufba apresenta proposta de semestre suplementar, com aulas online

Projeto ainda passará por aprovação do Conselho Universitário

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  • Giuliana Mancini

Publicado em 15 de julho de 2020 às 15:01

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO

A Universidade Federal da Bahia (Ufba) pode não retomar as atividades presenciais em 2020. E, na contrapartida, a instituição deverá oferecer um semestre acadêmico suplementar, com aulas remotas online, seja com componentes curriculares como complementares de ensino, pesquisa e extensão. A proposta foi elaborada pela Administração Central e apresentada ao Conselho Universitário da Ufba, que decidirá pela aprovação - ou não - do plano.

Segundo o projeto, retomar as aulas presenciais seria inviável já que, para a "plena realização da pesquisa, do ensino e da extensão, cerne da vida universitária, pressupõe a reunião e a circulação de grande quantidade de pessoas em espaços restritos, ritmo regular e fluxo intenso" - algo contraindicado neste momento, por causa da pandemia do novo coronavírus.Dessa forma, a proposta pressupõe que haja o semestre suplementar, com atividades adaptadas ou especialmente concebidas para o formato online. Incluindo, inclusive, aulas ministradas conjuntamente por vários docentes. A ideia é que os estudantes possam aderir ou se desligar caso queiram, bem como fazer a integralização de carga horária curricular posteriormente."A expectativa é de que essa ação mobilize todo o corpo docente e técnico-administrativo da UFBA, respeitadas as diferentes condições de trabalho em regime home office, acesso à internet e familiaridade com tecnologias e recursos de gestão pública e educação a distância. Com isso, procura-se garantir tanto a qualidade do processo de ensino e aprendizagem, própria de uma universidade federal, quanto condições adequadas para o trabalho docente e técnico, sem sobrecarga e desgaste laboral indevidos, no cenário adverso da pandemia", diz a minuta da proposta.

Segundo o reitor da Ufba, João Carlos Salles, o projeto já foi submetido ao Conselho Universitário. "Na semana que vem, devemos ter um retorno. O reitor não decide nada sozinho, ele decide com a universidade", afirma.

O documento da universidade está de acordo, em certos pontos, com uma carta assinada pela representação estudantil no Conselho Universitário no último dia 6.

"A gente é contra aulas presenciais ou semipresenciais e também contra o modo de Ensino a Distãncia (EAD). O que nós flexibilizamos na carta é a criação de um semestre suplementar, com atividades remotas - o que não caracterizaria um modelo EAD. Seria um semestre completamente atípico, então não entraria em um semestre letivo complementar, normal. Por exemplo, a gente estava no 2020.1. A gente não voltaria ao 2020.1, mas faria esse semestre suplementar como 2020.3", explica Rafaella Rios, estudante de história, conselheira no Conselho Universitário (CONSUNI) e representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufba.Segundo ela, porém, há uma discussão extremamente importante. "Colocamos em evidência na carta, como ponto principal, sobre as condições de acesso. Deixamos evidente que só será possível, só avaliamos como positiva a realização de um semestre suplementar, se todos os estudantes da Ufba tiverem acesso à internet e equipamentos eletrônicos. E um dos nossos pontos propostos é a distribuição, empréstimo da Ufba, de notebooks ou tablets para aqueles estudantes que não tenham equipamentos eletrônicos, assim como distribuição de pacotes de dados, para aqueles que não têm acesso à internet", comenta Rafaella.Na proposta da Ufba, estão previstas ações para ampliar a capacitação em tecnologias digitais de professores, técnicos e terceirizados. Quanto aos alunos, o projeto lembra que nem todos possuem condições adequadas de estudo, equipamentos e acesso à internet nos locais onde moram.

"Vamos trabalhar para que esses estudantes disponham de algum tipo de acesso. Se for aprovada a proposta, vamos procurar alternativas para eles. Uma das possibilidades é que os alunos possam acessar os laboratórios da Ufba, se as condições sanitárias permitirem. Vamos aguardar para definir", comenta o reitor.

Ainda de acordo com o projeto, caso os estudantes não consigam reunir condições mínimas de acompanhamento dos cursos, eles poderão retomar o semestre presencial, que continua suspenso, sem qualquer penalidade.

Para a estudante de Letras Eliza Braz, esse ponto é essencial. "Sou a favor se tivermos a opção de escolher se queremos aderir, ou não, ao semestre. Justamente pelas pessoas que não têm como acompanhar as aulas online. Se for obrigatório esse semestre remoto, sou contra", garante.

Aluno de Ciências Contábeis, Isac Miranda acredita que a ideia é "um meio-termo possível"."No meu caso, ter classes remotas é tranquilo. Mas minha namorada, por exemplo, está no fim da faculdade de Medicina Veterinária e quase todas as aulas teriam que ser presenciais. Porém, entendo que não tem uma solução uniforme, que sirva para todos. Pensando nisso, gostei. Tem tudo para funcionar - principalmente por não ter penalidade para quem não tem acesso à tecnologia - ou mesmo quem não tem local para estudar. Nesse momento, não faz sentido voltar às atividades presenciais, não sem uma vacina ou com poucos leitos de UTI disponíveis", opina Isac.O Sindicato dos Professores das Instituições Federais de Ensino Superior da Bahia (Apub) também vê o documento com bons olhos. "Nós recebemos a proposta com alívio. Que bom que a Ufba se manifestou e apontou uma retomada, não só do ensino, como de pesquisa e extensão. Acolhemos a ideia com boa expectativa", diz presidente da entidade, Raquel Nery.

Segundo ela, já estavam sendo feitas reuniões entre a Apub e professores e já era esperado que o documento fosse elaborado.

"Sabemos que o ano de 2020 foi afetado definitivamente pela pandemia. E que, atualmente, não é possível retornar com as aulas presenciais. Claro, sabemos que há riscos - e estamos atentos a isso. Por exemplo, a inclusão digital. Muitos docentes precisarão passar por qualificação e treinamento. As condições de trabalho também não são garantidas. Do lado dos estudantes, também é preciso que haja inclusão social. Teremos que aguardar o período de matrículas para saber se terá adesão e evasão e, então, o que vão necessitar. Ainda não tem como saber de várias coisas, só o tempo dirá. Mas não oferecer nada é mais excludente, seria muito pior", completa Raquel.