Ufba divulgará análise de invertebrados de três áreas atingidas por óleo

Instituto de Biologia apresentará estudo que classificou como o maior até agora sobre os impactos em ecossistemas marinhos

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  • Hilza Cordeiro

Publicado em 21 de novembro de 2019 às 18:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Ribeiro / JC Imagem / Estadão Conteúdo

As regiões litorâneas de Praia do Forte, Guarajuba e Itacimirim, que foram atingidas pelo derramamento de petróleo, são monitoradas desde 1995 pelo Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ibio-Ufba). O departamento promete divulgar, ainda na próxima semana, o que descreveu como o maior volume de dados sobre o impacto do material contaminante no ecossistema de animais invertebrados dessas três áreas.

A fauna analisada no estudo a ser apresentado inclui informações sobre o estado de recifes de corais, estrelas do mar, siris, caranguejos, anêmonas e outros. “Sei como essa região era antes do acidente e como está agora. A situação é grave”, antecipa ao CORREIO o pesquisador Francisco Kelmo, diretor do Ibio. Segundo o biólogo, a maioria dos animais são sésseis, ou seja, que não têm mobilidade própria e que não são capazes de fugir da mancha de óleo. 

15 pesquisadores da Ufba apresentam pesquisas

O auditório do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia (Igeo-Ufba) não comportou todos os curiosos que foram ao local, nesta quinta-feira (21), para o I Seminário sobre o Derramamento de Petróleo no Litoral Brasileiro. No evento aberto à comunidade, a instituição reuniu 15 dos seus pesquisadores envolvidos na elucidação dos impactos causados pelo óleo. 

Foram tratados os riscos aos ecossistemas, os processos e tecnologias de remediação, questões de toxicidade, aspectos socioeconômicos e a origem e composição do petróleo.

Oceanógrafa química, a pesquisadora Vanessa Hatje apresentou algumas das ações dos grupos de trabalho do Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA) e entre uma delas está a navegação do cruzeiro oceanográfico Vital de Oliveira, que estava na costa da Bahia até esta quarta-feira (20) e segue pelo litoral do Nordeste, em direção à Maceió, coletando amostras em regiões atingidas pelo óleo. 

Para Hatje, muitas iniciativas da questão do óleo estão ocorrendo de forma dispersa e isolada, o que dificulta a ação dos pesquisadores, envolvidos ou não nos grupos de trabalho que estão tentando avaliar a fonte e impactos do derramamento. “A gente não sabe exatamente quem está fazendo o quê e onde, o que dificulta a tomada de decisão para atuar de maneira mais eficaz”, discursou.

Especialista em recifes de corais, a geóloga marinha Zelinda Leão destacou sua preocupação com esse ecossistema, definido como a maior estrutura do planeta formada por seres vivos. “Todo mundo viu o óleo nas praias, nos mangues, mas nos recifes, que estão submersos, poucas pessoas viram”, sinalizou. 

Segundo ela, os recifes de corais da Bahia possuem formação que data de cerca de 7 mil anos atrás e que é possível encontrá-los em Abrolhos, Ilha de Itaparica, Ilhas de Tinharé e Boipeba, Praia do Forte, Itacimirim, Guarajuba, Arembepe e Cabrália, em Porto Seguro.

A pesquisadora acrescentou que Abrolhos é a parte mais rica de corais de todo o Brasil e de todo o Oceano Atlântico Sul e que é lá que está um coral-cérebro chamado de Mussismilia Braziliensis, que só existe na costa da Bahia e do Espírito Santo. Zelinda citou ainda o experimento do projeto Coral Vivo, que testou óleo em cima dos corais e constatou que eles morreram em apenas 24h após o contato contínuo. 

Estiveram presentes os cientistas Olívia Oliveira, Janini Pereira, Vanessa Hatje, Francisco Kelmo, Francisco Barros, Zelinda Leão, Ícaro Moreira, Zenis Rocha, Silvana Mattedi, Rita Fernandes, Marco Antônio Rego, Neuza Miranda, Guiomar Germani, Miguel Acioly e Paulo Pena.