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Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 09:20
- Atualizado há 2 anos
Um ano após o rompimento da barragem de rejeito de minério de ferro da Vale, em Brumadinho (MG), o Rio Paraopeba, atingido pela onda de lama, ainda não se recuperou. Com a "morte" decretada depois de ter recebido a enxurrada de rejeitos, o rio não foi capaz de depurar os contaminantes ao longo do ano. A água continua imprópria e sem condições de uso em toda a sua extensão abaixo de Brumadinho e a expectativa é que o problema ainda leve muitos anos para se resolver.>
Essas são as principais conclusões de uma análise feita por pesquisadores da Fundação SOS Mata Atlântica, que refez, entre os dias 8 e 17 deste mês, a mesma expedição que tinha sido feita no ano passado, uma semana após a tragédia.>
Na ocasião, uma parte do trabalho foi acompanhada pelo jornal O Estado de S. Paulo. A reportagem testemunhou o tempo todo uma imagem marrom-avermelhada, densa, que em nada se parecia com um rio que pudesse suportar alguma vida.>
A equipe do SOS Mata Atlântica voltou a presenciar cenário muito parecido, principalmente no Baixo Paraopeba. Os pesquisadores percorreram cerca de 2 mil quilômetros por estradas, passando por 21 cidades, para analisar a qualidade em 23 pontos dos 356 quilômetros do rio. "De certa forma, a qualidade da água do rio piorou. Houve deslocamento das concentrações de metais pesados para o Baixo Paraopeba, na altura de Pompéu, Juatuba e no reservatório de Retiro Baixo. Os rejeitos estão ficando ali. Vimos uma curva inversa de comprometimento", afirma Malu Ribeiro, coordenadora do projeto.>
Segundo ela, alguns pontos, que logo após a tragédia estavam ruins, este ano apareceram como péssimos. E poucos tiveram melhora. Conforme o relatório, em 11 pontos, a presença de rejeitos e contaminantes não permite a presença de vida aquática Nos 23 analisados, nenhum apresentou qualidade da água boa ou ótima. Estão em desconformidade com a legislação para consumo."O ecossistema da bacia foi alterado. Aves, mergulhões, por exemplo, a gente não viu. Em alguns pontos, o oxigênio na água estava em nível adequado à vida aquática, mas a vida não voltou porque os metais pesados estão muito intensos", diz Malu.Outro indicador medido foi o número de colônias de bactérias que têm capacidade de decompor matéria orgânica. "Elas foram encontradas em nível bem baixo. Sua presença indica a saúde do rio. O que indica que, mesmo com a volta do oxigênio, a vida não voltou", explica.>
A análise detectou a presença de ferro, manganês e cobre em níveis muito acima dos limites máximos fixados na legislação. Para o cobre, a concentração foi 44 vezes superior; para o manganês, 14 vezes superior. Para o ferro, que não deveria existir num rio de classe 2, como é o Paraopeba, a concentração encontrada chegou a 15 vezes a estabelecida pela legislação.>
Obras A Vale tem feito uma série de obras em Brumadinho para tentar remediar o problema. Foi criada uma estação de tratamento no encontro do Córrego Ferro-Carvão com o Paraopeba - justamente por onde a lama atingiu o rio - e estão sendo feitas dragagens para a retirada do rejeito do leito.>
Um dos pontos avaliados pela SOS foi este local. Segundo Malu, ali a turbidez diminuiu, chegando ao limite legal, mas os níveis de metais pesados, não. Houve leve melhora no indicador total, passando de péssimo, no ano passado, para ruim agora.>
Por meio de nota, a Vale disse que, após o desastre, ao longo do ano, analisou 40 mil amostras e afirmou que "os resultados obtidos até o momento não apontam efeitos tóxicos nas amostras" por causa da presença de rejeito. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.>