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Da Redação
Publicado em 22 de junho de 2019 às 05:04
- Atualizado há 2 anos
Depois de crescimento sucessivo nos índices de ocupação hoteleira e no fluxo de visitantes em Salvador, os dois últimos meses reacenderam o alerta de perigo entre empresários e lideranças dos segmentos que compõem a cadeia de turismo. A súbita crise que pulverizou a Avianca interrompeu a trajetória ascendente que o setor havia iniciado de maneira ainda tímida desde 2013, mas que ganhou impulso na alta temporada 2018/2019, e evidenciou falhas nas estratégias pensadas para revigorar o aeroporto da capital, principal porta de entrada para turistas de outros países e estados.>
A de maior impacto tem a ver com a demora do governo do estado em atender à grande demanda das companhias áreas: a redução do ICMS que incide sobre a querosene de aviação. Embora a alíquota tenha sido, em maio de 2017, diminuída de 18% para 12% na Bahia, o índice está acima do que é praticada em Pernambuco e Ceará, seus dois maiores concorrentes no cobiçado mercado turístico do Nordeste. Nos dois estados, esse percentual é, respectivamente, de 7% e 9%.>
Um ano antes de o governo baiano reduzir o tributo, a Azul, que nunca escondeu preferência por Salvador, não viu avanço no pleito fiscal junto à Bahia e decidiu instalar seu hub na capital pernambucana, que tomou a liderança no ranking de aeroportos mais movimentados do Nordeste. >
Em 2018, foi a vez da GOL implantar seu hub em Fortaleza, operado em parceria com a Air France-KLM. Assim, a capital cearense galopa com velocidade para ultrapassar Salvador e se tornar, até o fim de 2019, o segundo maior terminal aeroportuário nordestino em movimentação de passageiros. >
A derrota na disputa travada em torno dos dois grandes centros de conexão de voos fez com que o aeroporto de Salvador tivesse a Avianca como pilar de sustentação no mercado aéreo. Até sua derrocada financeira, a companhia de origem colombiana detinha quase um terço do tráfego de passageiros. Fechou 2018, por exemplo, com fatia de 27%. >
Deu no que deu. O declínio da Avianca provocou perdas de linhas e elevou abruptamente o preço das passagens. Com tarifas de voos domésticos muitas vezes mais altas que as de rotas internacionais, tornou-se bem mais atraente e acessível para turistas de outras regiões viajar para fora do Brasil ou escolher destinos mais em conta.>
A sucessão de erros pôs em risco todo o trabalho de revitalização turística implementada pela prefeitura de Salvador a partir de 2013. A bem da verdade, a administração municipal fez o dever de casa que lhe cabia. Investiu alto na requalificação da orla e na reforma de equipamentos turísticos, montou um cardápio variado de eventos, como os festivais da Virada, da Cidade e da Primavera.>
Em compasso simultâneo, a prefeitura também aportou recursos para promover a cidade em polos emissores de visitantes, como São Paulo, e fez parcerias para captar grandes congressos nacionais e internacionais, medidas fundamentais para impulsionar o setor nas épocas de baixa estação. Ao mesmo tempo, deu início à construção do novo Centro de Convenções, demanda maior do trade turísticos.>
Mas sem passagens de preço mais competitivos e a recomposição de linhas áreas perdidas, todo trabalho fica sob ameaça. A esperança pode vir com a abertura total do mercado para companhias estrangeiras e da sensibilidade do governo do estado em rever sua política tributária sobre o combustível de aviação. Só assim Salvador poderá escapar da água fria que lhe caiu sobre a cabeça quando subia gradualmente a escada para recuperar o turismo.>