Um lamento por partes

por Victor Uchôa

  • D
  • Da Redação

Publicado em 24 de fevereiro de 2018 às 08:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Angeluci Figueiredo

Quem escreve uma coluna semanal sabe que, às vezes, o passar dos dias faz um fato perecer. Mas como o Ba-Vi segue em carne viva, vou a ele, por partes.

O pressuposto: o meia tricolor Vinícius, sejamos francos, é apenas mais um dentre tantos jogadores medíocres que pouco resolvem em campo e arrumam outras maneiras de fazer média com a torcida. Uma das maneiras da moda é publicar merda nas redes sociais. Tem quem ache isso incrível.

A dança: após fazer uma postagem cretina na semana do clássico, Vinícius foi comemorar seu gol com uma coreografia infame defronte à torcida rubro-negra. Há quem veja nisso uma incrível coragem.

A reação: nenhuma ação ou fato descrito acima pode, em absoluto, servir para justificar a reação emocionalmente descompensada de alguns jogadores do Vitória, tão medíocres quanto Vinícius. Foram possuídos por uma combustão desmedida e um tanto quanto burra do ponto de vista esportivo (até aquele momento, ainda tratava-se de um jogo), pois, se fizesse por onde, o Vitória tinha todo o segundo tempo para vencer e, em última análise, quem precisava do resultado era o Bahia. Por uma suposta defesa da honra, alguns acharam a reação incrível.

O murro: perdura até agora uma celeuma sobre quem deu o primeiro soco, como se isso servisse para escalonar a imbecilidade de todos que deram socos, de lado a lado. Incrível.

A expulsão: não interessa se a ordem partiu de Mancini, do presidente ou do roupeiro, se a leitura labial é nítida ou inconclusiva. Interessa apenas o óbvio ululante (perdão, caro Nelson) de que Bruno Bispo foi orientado a forçar a própria expulsão para encerrar o jogo, o que é um inescapável vexame. Pior do que isso, só o Esporte Clube Vitória, enquanto instituição, na figura do seu presidente, querer alojar tal decisão sobre os ombros de um garoto que acaba de sair da divisão de base. Incrível patifaria.

O recurso: a indignidade fica ainda mais robusta quando o Vitória contesta o resultado previsto pelo regulamento. Tal atitude só reforça a suspeita (sem provas, reconheço) de que a desistência no meio da partida baseou-se no equivocado entendimento de que o empate seria mantido. Isto posto, nunca saberemos como terminaria o jogo se tivesse seguido até o fim. Goleada do Bahia? Talvez. O empate perduraria? Por que não? E um triunfo rubro-negro? No futebol tem de tudo. Optaram, porém, pela desistência. Essa mácula sim é incrível.

A tangente: não muda em nada todo o exposto acima, mas o presidente do Bahia, político recém-graduado, surfa na onda e, para tangenciar os fatos, chegou a afirmar que não sabia das provocações nas redes sociais e garantir que não houve pressão sobre o árbitro no intervalo. Incrível cara de pau. 

O paradoxo: tanto David, do Vitória, quanto Bellintani, do Bahia, se apresentam como dirigentes “modernos”. Incrível.

O não dito: pouco se falou do que alguns torcedores (?) do Bahia fizeram no Barradão, destruindo alambrado e equipamentos. Pelo visto, os imbecis de sempre (os marginais de arquibancada, não os tricolores autênticos) não fazem questão da torcida mista, o que seria até coerente para eles, pois não gostam de futebol, gostam mesmo é do seu bando. E há quem ache os bandos incríveis.  

O labirinto: a depender da sua trincheira, a pessoa finca pé e aplaude esse ou aquele fato pontuado acima. O que eu acho incrível é como entramos nesta rua (aparentemente) sem saída. E lamento.

Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados.