Um tributo  à verdade

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • D
  • Da Redação

Publicado em 12 de outubro de 2021 às 05:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Em maio de 2017, pouco antes de subir ao palco para moderar um painel no Fórum de Internet de Estocolmo, na Suécia, percebi um desequilíbrio flagrante dos participantes, que se preparavam para uma ladainha contra o jornalismo e os meios de comunicação. Na plateia, havia encontrado uma antiga conhecida de congressos e reuniões internacionais de editores que fazia brilhar qualquer evento com sua capacidade de exposição e, mais do que isso, com sua defesa apaixonada do jornalismo diante de pressões vindas de todos os matizes ideológicos.

Advoguei então com a direção do fórum que a agora Prêmio Nobel da Paz Maria Ressa, desconhecida e incógnita naquele ambiente hostil, fosse incluída de última hora no painel. Maria encarou a animosidade da plateia e narrou seus percalços nas redes que culminavam sua trajetória, de repórter da CNN na Ásia a publisher do site Rappler, crítico ao presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.

Mais uma vez, a pequena Maria mostrou-se uma gigante. Como fizera dois meses antes em Paris, em uma cúpula da Unesco da qual participamos para discutir o impacto da erosão do jornalismo na estabilidade mundial, ela descreveu como as redes haviam se tornado armas para catapultar a candidatura do extremista Duterte à presidência e como ela passara a ser atacada sem tréguas por sua voz crítica. No próximo 11 de dezembro, se for autorizada a sair das Filipinas, Maria ingressará com o outro vencedor do Nobel da Paz, Dmitry Muratov, no imponente salão da prefeitura de Oslo para receber oficialmente o prêmio e discursar para uma plateia mundial, seguramente com o mesmo brilho de sempre.  

Maria e Dmitry são os primeiros vencedores do Nobel por exercerem plenamente o jornalismo, uma atividade tão machucada por crescentes dificuldades econômicas, intimidações e tentativas de descrédito em tantos lugares da Terra. Embora com trajetórias em países tão distintos, os dois vencedores são seres de uma mesma espécie. São jornalistas puro-sangue de veículos de comunicação que sofrem ataques orientados por populistas e radicais que se valem das redes para tentar desmanchar a barreira de contenção do jornalismo à realidade paralela inflada por eles. Assim como Maria o fez no painel de Estocolmo, o Nobel ao jornalismo ajuda a restabelecer o equilíbrio ao tornar claro que a liberdade de imprensa e o exercício da atividade sem intimidações não são exigências dos jornalistas. São pré-condições para que as sociedades vivam em democracias e com paz duradoura.

 No fundo um tributo à verdade, poucas vezes um Nobel da Paz pareceu tão justo, apropriado e necessário para a estabilidade e a sanidade mundiais. 

Marcelo Rech é presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ)