Uma ladeira, um mar… Uma igreja

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  • Da Redação

Publicado em 3 de abril de 2021 às 16:00

- Atualizado há um ano

Salvador é uma cidade de encantos e magias, com muitas histórias pitorescas, porém verdadeiras. Certa feita, nós vimos uma pessoa muito famosa publicar em seu Instagram: “Será que é verdade que a Igreja da Conceição da Praia veio projetada de Portugal, com pedras numeradas? Vou fingir que acredito”. Meu caro rapaz, veio sim!  

A história da Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia está registrada em seus documentos, localizados em seu interior, na Biblioteca Monsenhor Manoel de Aquino Barbosa, e que compõem a maior fonte de pesquisa deles.

A Igreja da Conceição da Praia é a segunda construída no Brasil e a primeira na cidade do Salvador, data de 1549. Originalmente, era uma pequena capela, feita de taipa e coberta de palha, levantada logo na chegada de Tomé de Sousa quando da fundação da nossa Cidade. Após a primeira não ter sobrevivido ao tempo pela proximidade com o mar (com muita ventania) e pela fragilidade do material utilizado em sua construção, uma segunda foi erguida ao final do século XVI, provavelmente em 1587. Era uma pequena ermida, a uma certa distância da capela primitiva, e foi elevada à Matriz em 1623, por Dom Marcos Teixeira. 

A Cidade continuava a crescer e em pleno século XVIII a Freguesia da Conceição da Praia já era nobre e opulenta. A igrejinha tornou-se pequena para acomodar toda a população que a ela queria frequentar, assim, em 1736, a Mesa Administrativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento (proprietária da igreja) decidiu demolir a segunda capela para edificar um templo digno do “culto de Deus”, além de, obviamente, servir de status social para os aristocratas e senhores de engenhos, ricos comerciantes e funcionários da Coroa portuguesa, que a sustentavam. Os mantenedores queriam que essa opulência fosse vista pelo povo e percebida pela Santa Sé: um templo à altura deles e que os representasse. Foi autorizada a primeira remessa de pedras de Lioz, vindas de Lisboa, porém apenas em 1739 chegou o primeiro lote, o qual serviu para fazer a fundação e os alicerces.

Há documentos que dão notícias de que ela foi finalizada em 1820 e outros de que foi em 1849, ou seja, aproximadamente, essa construção levou 100 anos para ser concluída, após muito trabalho e com um altíssimo custo, com uma assustadora dívida de 993:966$489 nasceu o mais suntuoso templo da Cidade à época.

São muitas curiosidades sobre a Igreja da Conceição, como, por exemplo, o fato de em 1633, o Padre Antônio Vieira ter pregado um dos seus mais famosos sermões, o Sermão da Quarta Dominga da Quaresma; na construção do terceiro templo (e atual) trabalharam mulheres; em 1808, os sinos da Igreja da Conceição da Praia tocaram, saudando a chegada da Família Real; em 1837, durante a Sabinada, a casa de um ex-tesoureiro da Irmandade do Santíssimo Sacramento, Antônio Pinto Leite, foi incendiada e lá se encontrava o Livro do Patrimônio da dita Irmandade, perdendo, assim, uma importante parte de sua história. 

Em 2011, foi iniciado o processo de restauração da documentação manuscrita da Igreja da Conceição da Praia, coordenado por Vanilda Mazzoni e Alícia Lose. Já foram recuperados mais de 200 documentos, transcritos e publicados em dois livros, tudo sob a responsabilidade do Ateliê de Conservação e Restauração Memória e Arte.  E no final dessa história, a Bahia é quem agradece todo esforço para recuperar a sua história.

Vanilda Salignac de Sousa Mazzoni e Alícia Duhá Lose são mestres e doutoras em Letras. Vanilda tem pós-doutorado em Letras e Artes e em História da Escrita, é pesquisadora da Biblioteca Nacional e é fundadora do ateliê de conservação e restauração de manuscritos históricos e livros antigos Memória e Arte. Alícia tem pós-doutorado em Filologia e Paleografia e é professora da Universidade Federal da BahiaOpiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores