Vacinação da 4ª dose contra a covid-19 para idosos movimenta postos em Salvador

Especialista explica que vacina deve se tornar sazonal para grupos de risco

Publicado em 31 de março de 2022 às 18:20

. Crédito: Marina Silva/CORREIO
Lúcia comemora 4ª dose por Marina Silva/CORREIO

Toda vez que a vacinação para o seu público está liberada, não tem conversa. Lúcia Fontenelle, 81 anos, vai logo cedo garantir mais uma dose de proteção contra a covid-19. Nesta quinta-feira (31), quando se iniciou a aplicação da vacina em 4ª dose para pessoas com 80 anos ou mais, não foi diferente. Logo às 7h30, ela já estava na fila do posto de saúde Ramiro de Azevedo, no Campo da Pólvora, em Nazaré.

E nem durou muito para que ela garantisse a vacina no braço. Pouco tempo após o início da imunização, às 8h, ela já estava contente com mais uma etapa cumprida. "Estava tudo muito tranquilo, sabe? Foi rapidinho pra conseguir. Aproveitei o primeiro dia, como sempre faço, para ficar mais protegida. A vacina, o álcool em gel e a máscara são os meios para que a gente possa caminhar mais sossegado. Deles não abro mão", garante a aposentada.

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Sem parar Dona Lúcia vê as etapas de imunização como essenciais para continuar viva em um cenário ainda pandêmico. Ela afirma que voltará para a fila do Ramiro de Azevedo para se proteger contra covid-19 todas as vezes que forem necessárias. "Eu vou estar lá. Todas as vezes que eles recomendarem a vacinação, vou pegar minha fila bonitinha e tomar mais doses. Se tiver quinta, sexta e sétima dose, tô lá cedinho com um sorriso no rosto", garantiu. 

Quem pretende fazer o mesmo é Madalena Vaz, 80, que esteve na fila do drive-thru do 5° Centro de Saúde, nos Barris, nesta quinta-feira. Sem pensar duas vezes, ela falou que é fundamental se imunizar. "É tão importante que estamos aqui já no primeiro dia. E toda vez é assim, quando libera, nós sempre chegamos para tomar mais uma dose da vacina", diz. 

Outro a fazer o mesmo, no drive-thru da Fonte Nova, foi o aposentado Crisogono de Almeida, 96. Ao conversar com a reportagem, ele fez questão de ressaltar que vai se vacinar sempre quando for chamado. "Tomei todas as doses certinhas dentro do prazo de vacinação, logo no início. Faço isso com a da covid-19 e todas as outras vacinas. Se liberar mais vezes, claro que vou estar sempre tomando e atualizando a vacinação", fala Crisogono. Quantas mais? Ainda não é possível dizer quantas doses mais serão necessárias para Crisogono, Madalena e Lúcia. Responsável por gerir e indicar a vacinação que é operacionalizada por governos e municípios, o Ministério da Saúde (MS) foi questionado, mas disse que ainda não há informações sobre outras doses. Ainda segundo a pasta, a necessidade ou não de aplicação de novas doses de reforço é divulgada através de nota técnica.

Coordenadora de imunização da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), Vânia Rebouças explica que é cedo para dizer se teremos mais reforços contra a covid-19 após a quarta aplicação. "Ainda estamos avaliando a resposta imune. O que se tem na literatura é que vale a pena fazer o segundo reforço [4ª dose]. Sobre os mais jovens, ainda é cedo para dizer se eles vão até tomar a 4ª dose, quanto mais outras", conta ela, que confirmou a probabilidade de aplicação da 4ª dose para os idosos em geral (pessoas com 60 anos ou mais).  Idosos em geral devem tomar a 4ª dose (Foto: Marina Silva/CORREIO) Médico infectologista da S.O.S Vida, Matheus Todt projeta que o mais provável é a conversão da vacina da covid-19 em um imunizante sazonal para grupos de risco, assim como é com a gripe. "É pouco provável que vacinas de reforço sejam tomadas mais de uma vez ao ano. A vacina deve ser sazonal como a influenza. Inclusive, direcionada para grupos de risco como idosos e imunossuprimidos, que podem desenvolver formas graves", prevê ele, que ressalta a possibilidade de que isso mude caso estudos comprovem que outros grupos devem também se vacinar.

Pandemia até quando? Além do número de doses a serem tomadas, a regressão de pandemia para endemia é outro assunto em evidência no momento. Ainda segundo Todt, a definição desse status tem muito mais a ver com política e as decisões governamentais de combate à doença. "Estamos vivendo uma transição de um cenário descontrolado de doença  que se espalha para algo controlado. Agora, o ponto de ruptura de pandemia para endemia é quando os países decretarem. Epidemiologicamente, não há como precisar isso", indica.

O médico infectologista explica ainda que não existe um número definido e nem um índice da covid-19 que possa ser usado para dizer se é ou não uma pandemia. "Não existe um parâmetro e a regressão para endemia é algo mais político do que epidemiológico. Se eu tenho doença em todo lugar, é pandemia. Se tem em todo lugar, mas se mostra estável, seria uma endemia", completa Todt, afirmando que quem decide se a situação é estável são os governantes.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo