'Vejo ele em todos os passageiros', diz vítima de ataque sexual em ônibus

Com medo de outro abuso, mulher passou a andar acompanhada do marido

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  • Bruno Wendel

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 12:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Sem previsão por enquanto para comprar um carro, aliada à necessidade de voltar ao trabalho, Sônia (nome fictício) voltou a andar de ônibus nesta segunda-feira (27). “Ontem (segunda) foi a primeira vez que peguei o transporte. Entro no ônibus e vejo ele em todos os homens”, declarou Sônia, na manhã desta terça-feira (28).

Ela sofreu importunação sexual dentro do ônibus da empresa Integra Plataforma, linha Paripe/Rodoviária, quando passava pela Avenida San Martin, na última sexta-feira (24). “Foi uma coisa tão rápida, que a gente não percebe. Quando olhei, ele estava com mão na bermuda, como se estivesse apertando algo. A mesma sujeira que estava na roupa dele estava nas minhas costas, abaixo da cintura”, contou ela ao CORREIO.  

Milton Ferreira dos Santos, 50 anos, foi detido pela Guarda Civil Municipal acusado de praticar ato libidinoso. O agressor foi solto após uma audiência de custódia. O CORREIO não conseguiu contato com Milton. Ela lamentou a decisão da Justiça.  “Estou com medo porque ele está solto. Medo de pegar ônibus e encontrar com ele. Não tenho como comprar um carro e preciso trabalhar para ajudar meu marido nas despesas de casa. Por isso, tive que voltar a trabalhar. Desde ontem, meu marido está vindo me buscar no trabalho e vamos juntos no coletivo, porque o horário que saio [do trabalho], o ônibus já está cheio”, relatou a vítima. Ela disse que além da presença do marido, passou adotou outras medidas. “Quando o ônibus está vazio, sento perto do motorista. Quando cheio, fico no local reservado para cadeirante. Dá para se ter uma visão panorâmica do interior do ônibus. Jamais fico de costas”, relatou. 

O ataque aconteceu no momento em que o coletivo estava cheio. “Quando o ônibus está vazio, a gente tem medo de assalto, quando está cheio, a gente acreditava que estava segura. Mas o que vi na sexta não foi isso. Mesmo lotado fui vítima de um crime. O medo vai prevalecer sempre no ônibus cheio e vazio”, disse ela. 

Após ter sido descoberto, o agressor chegou a ser agredido por passageiros. “Queriam linchar, mas eu não queria que ele pagasse com a vida. Um homem chegou a dar três socos nele, foi quando comecei a passar mal e pararam de bater nele. Nesse momento, passava uma viatura da Guarda Municipal, que foi acionada por outros passageiros”, contou a vítima. 

Mãe de um adolescente de 13 anos, Sônia disse que o filho ficou revoltado com o ocorrido. “Ele ficou muito magoado, raivoso com tudo isso. Mas o tranquilizei e aproveitei para pedir para ele tomar cuidado para não encostar nas pessoas, principalmente se for mulher. Isso por que nós mulheres andamos com medo e pode também acontecer um equívoco, que não foi o meu caso, e acontecer uma reação inesperada, das pessoas partirem para a agressão e um inocente acabar morto”, relatou. 

Sônia aproveitou para destacar a importância da denúncia. “Não podemos deixar situações como essa passar despercebida. Não temos que ter vergonha. Temos que denunciar”, declarou.

O agressor acabou detido por agentes da Guarda Civil Municipal (GCM) que saíam da sede do órgão, também na San Martin. Vítima e agressor foram encaminhadas para a Central de Flagrantes, na Avenida ACM, onde prestaram depoimento.