Vendedores relatam queda de até 90% nas vendas de peixe por causa do óleo

Comerciantes do Mercado do Peixe de Água de Meninos argumentam que produtos são pescados nas regiões Sul e Norte

  • Foto do(a) author(a) Gabriel Moura
  • Gabriel Moura

Publicado em 18 de outubro de 2019 às 21:17

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gabriel Moura / CORREIO

As sextas-feiras costumam ser movimentadas no Mercado do Peixe de Água de Meninos, com os baianos comprando seus pescados para garantir o almoço do fim de semana. Entretanto, com o receio dos clientes por conta do óleo que atinge praias dos Nordeste, o fluxo de compradores no local diminuiu e os vendedores relataram queda de até 90% nas vendas.

“Eu costumo vender R$ 3 mil por dia, em média. Hoje eu tive que ralar muito para conseguir ganhar R$ 300. Amanhã eu nem vou pegar mercadoria porque não adianta, não vende”, lamenta o vendedor Edvanilton Conceição da Hora, 38. O baixo fluxo fica evidente logo ao chegar no local. Em 50 minutos, a reportagem contou apenas dez clientes que se dividiam entre os mais de 60 boxes do Mercado do Peixe.

Todos os vendedores ouvidos pela reportagem apontam as manchas de óleo que apareceram nas praias do Nordeste como causa para o baixo número de clientes. Entretanto, de acordo com eles, a preocupação dos consumidores é sem motivo, já que praticamente toda a mercadoria vendida no local vem de estados da região Sul e Norte, sem ligação com os vazamentos.“É importante deixar claro isso. Todo peixe que eu vendo vem de fora, de barcos que pescam em alto mar. Só hoje mesmo três clientes me ligaram perguntando se os peixes estavam poluídos e eu tive que explicar isso. Infelizmente, mesmo com eu esclarecendo, alguns deixavam de vir por medo”, relata o vendedor Emanuel Santos, 27 anos, que registrou queda de quase 40% nas vendas.Os poucos clientes que foram até o local, entretanto, não demonstravam preocupação com o estado do item. “Eu compro aqui há muitos anos, sempre na mesma banca. Sei de toda a origem e procedência e não tenho medo não. Esse marisco aqui mesmo vem de um criadouro artificial lá em Alagoas. Não tem nada a ver com o óleo”, conta o comerciante Ângelo Santos Silva, 54. Ângelo exibe o marisco comprado (Foto: Gabriel Moura / CORREIO) Crise entre os pescadores Se os vendedores que comercializam peixes que vêm de fora estão tendo queda nas vendas, o problema é ainda maior entre os pescadores que dependem das águas que estão sujas de óleo para tirar o seu sustento. O presidente da Colônia de Pescadores do Rio Vermelho, Marcos Antônio Chaves, o Branco, contou ao CORREIO que os trabalhadores até tentaram ir para o mar, mas o resultado da pesca foi pífio. Ele e outros colegas cobraram respostas mais rápidas das autoridades e criticaram a falta de informação sobre o problema.“Uma embarcação de 10 metros e que pega, em média, 80kg de peixe, voltou do mar, hoje, com 5kg. Encontraram muito óleo. No Porto da Barra, eu vi uns 15 barcos que foram retirados do mar e emborcados para que os pescadores conseguissem raspar a borra do petróleo que ficou presa no fundo da embarcação. A situação está complicada”, disse.Na Associação de Pescadores do Jardim dos Namorados, os trabalhadores decidiram não entrar no mar. Segundo o presidente da entidade, Sinho Soares, a quantidade de óleo recolhida em Salvador nos últimos dias - 71 toneladas desde a quinta-feira (10) - assustou os trabalhadores.“Hoje, ninguém saiu para o mar. Desde a semana passada a gente já vinha sentindo os efeitos desse óleo, mas nos últimos dias a situação ficou pior. A gente depende do mar para viver, para pagar as contas, e esse é um bom período para a pesca”, disse. Praia da Pedra do Sal amanheceu coberta pelo petróleo (Foto: Guardiões do Litoral/ Divulgação) Todos os pescadores ouvidos pela reportagem disseram que a primavera é um período bom para a pesca porque, com o mar menos agitado e ventos mais brandos que no inverno, a água fica mais clara e os cardumes se aproximam mais da costa. Isso possibilita também a diversidade dos tipos de pesca, além da maior variedade de espécies de peixes.   Em Salvador foram recolhidas 71 toneladas de petróleo (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A Bahia Pesca informou que visitou sete localidades do Litoral Norte da Bahia na quinta-feira (17) para conversar com os trabalhadores. O órgão estima que 13.375 pescadores e marisqueiras vivem nos municípios de Camaçari, Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandaíra, Lauro de Freitas, Salvador e Mata de São João. O levantamento é para saber quantos tiveram as atividades suspensas ou prejudicadas por causa das manchas de óleo.