Vereadores devem avaliar projeto que regulamenta aplicativos de transporte neste mês

Taxistas fizeram carreata para protestar contra demora da apreciação do projeto

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 12 de agosto de 2019 às 19:46

- Atualizado há um ano

Foram quase quatro horas de carreata e outras quatro de protesto. Na manhã desta segunda-feira (12), cerca de 400 taxistas fizeram uma manifestação com o objetivo de agilizar a votação do projeto de regulamentação de aplicativos de transportes, que tramita na Câmara Municipal de Salvador desde agosto de 2018. Após o ato, o presidente da CMS, Geraldo Júnior (SD) se comprometeu a colocar o projeto em votação em, no máximo, 15 dias.

O trajeto dos taxistas incluiu a Avenida Paralela, Avenida Antônio Carlos Magalhães, Bonocô, Dique do Tororó, Campo Grande, até chegar à Praça Municipal, no Centro Histórico. De acordo com a Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador), não houve obstrução de via e, por conta disso, não foram registradas retenções no trânsito durante o percurso.

O secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, explicou que o projeto de lei encaminhado pelo prefeito regulamenta os aplicativos e possui um artigo que trata da idade média dos táxis, saindo de cinco anos para oito anos. A regulamentação iria auxiliar em uma igualdade maior entre os taxistas e os motoristas por aplicativos.

Morador do Pau Miúdo, o aposentado Valdeque Pereira Gomes, 59 anos, optou por trabalhar como taxista em 2014, quando achou que o que ganharia dirigindo pela cidade seria o suficiente para complementar a renda e sustentar a casa. Mas, o que ele não imaginava é que, após a chegada dos aplicativos de transportes, das 12 corridas que fazia por dia, em seu ponto fixo em Nazaré, agora só consegue fazer no máximo quatro.

“Eu comprei um carro novo assim que me aposentei e comecei a rodar de taxi, achei que conseguiria melhorar a renda dentro de casa. Até que deu, por um tempo. Depois desses aplicativos, a realidade mudou. Tenho duas filhas, estou com dificuldade para pagar a faculdade e escola para elas, também me separei da minha antiga esposa, as coisas mudaram muito. Nós perdemos muitos clientes por conta disso tudo”, afirmou.

Valdeque e cerca de outros 400 taxistas realizaram uma carreata em protesto na manhã desta segunda-feira (12) que iniciou às 8h30 no Centro Administrativo da Bahia e chegou na Câmara Municipal de Salvador às 12h, permanecendo no local até às 16h. Valdeque se juntou a outros colegas taxistas para protestar em frente à Câmara Municipal (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) De acordo com o presidente da Associação Geral dos Taxistas (Agetaxi), Denis Paim, a categoria busca uma concorrência mais leal com os aplicativos de transportes, através da regulamentação e redução do número de veículos para os mesmos moldes dos táxis, que são cerca de 7.300 taxistas aptos a transportarem passageiros.

“Não é justo ter mais de 40 mil motoristas de aplicativos contra 7.296 taxistas na cidade, que estão sofrendo com a concorrência totalmente desleal. Estamos cobrando da Câmara para que eles botem o projeto em votação. Nós perdemos 60% do nosso ganho, temos motoristas que já saíram do taxi, alguns foram rodar com aplicativos, mas viram que não dava e desistiram. Alguns precisaram colocar seus carros em leilões. Passamos por uma dificuldade muito grande. Não queremos ser prejudicados e nem prejudicar ninguém, queremos uma paridade justa”, afirmou.

José Augusto Lopes, 58, trabalha como taxista há 34 anos, e afirma que antes, conseguia fazer entre 18 a 25 corridas por dia, que dava um ganho de cerca de R$ 300 a R$ 550. No entanto, após a ascensão dos aplicativos, nos melhores dias consegue fazer R$ 50, mas o normal, segundo ele, é ficar na fila e voltar pra casa sem nenhuma corrida. José Augusto aguarda o desenrolar da situação dos taxitas com os aplicativos de transportes (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) “Entrei na praça em 1984, quando os taxis ainda eram amarelos. Sempre dei sugestões para equacionar e padronizar todos os serviços de taxis durante esses anos. O que nós queremos são direitos iguais para ambos. Para transportar passageiros eu precisei estar em conformidade com as leis. Já os app’s, não estão. Hoje em dia não consigo fazer nem sequer R$ 50 por dia de corrida, isso é injusto demais”, lamentou.

Já o porta-voz da Comissão dos taxistas da Bahia na Câmara Municipal, João Adorno, afirmou que a categoria não defende o fim dos motoristas de aplicativos, apenas a igualdade entre as categorias. Segundo ele, o estado de mobilização irá continuar até que o projeto seja colocado em votação pela Câmara.

“Não somos contra os aplicativos, mas queremos conseguir um alinhamento entre as categorias. Nós defendemos um equilíbrio entre a quantidade de motoristas de aplicativos igualmente a todos os moldais de transportes da cidade. Eles estão afetando todas as categorias, não só aos taxistas. Vamos continuar buscando e correndo atrás. Queremos que a nossa categoria seja respeitada”, afirmou.

Em nota, a assessoria do presidente da Câmara Municipal de Salvador, Geraldo Júnior, informou que o vereador recebeu o grupo de taxistas e se comprometeu a dar atenção e amplo diálogo sobre o projeto de Regulamentação de Transporte por Aplicativo, além de garantir que será votado nos próximos 15 dias, após promover o debate e dialogar com todas as categorias envolvidas.

“Hoje, estarei chamando os vereadores envolvidos diretamente neste projeto que não abro mão de levar a votação daqui a 15 dias. É preciso paridade e igualdade de direitos entre os aplicativos com os taxistas. Sou a favor da regulamentação, mas não posso esquecer dos taxistas. Iremos construir um projeto que não deixe as 8 mil famílias de taxistas à margem da sociedade”, diz a nota.

Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier