Vinhos de Altitude de Santa Catarina conquistam selo de indicação geográfica

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  • Paula Theotonio

Publicado em 3 de julho de 2021 às 10:00

- Atualizado há um ano

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Os produtores de vinhos finos tranquilos, nobres, licorosos, espumantes naturais, moscatéis e brandies elaborados em 29 municípios de Santa Catarina já poderão solicitar, a partir de 2022, o selo da mais nova indicação geográfica de procedência (IP) do Brasil.

A concessão da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina, requerida oficialmente em 2020,  pela associação Vinhos de Altitude — Produtores e Associados, foi aprovada na última  terça-feira (29) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). 

Segundo Everson Suzin, diretor técnico da entidade representativa, sócio-diretor da Vinícola Suzin e presidente do Sindicato das Indústrias do Vinho de Santa Catarina (Sindivinho), os produtores celebram um trabalho de muitos anos que fortalecerá a produção de vinhos perante o consumidor.  (Foto: Divulgação) “A demarcação valida nossa região, traz reconhecimento ao nosso trabalho e dá segurança ao consumidor. Nós teremos um trabalho muito sério pela frente para garantir que os critérios para utilização do selo sejam atendidos, dando credibilidade à nossa produção”, conta Everson.Esta conquista é resultado de um trabalho conjunto da Vinhos de Altitude — Produtores e Associados, Sebrae, Embrapa, Secretaria de Agricultura do Estado (SAR), Prefeitura de São Joaquim, Universidade Federal de Santa Catarina e Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), através do Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram).

Os detalhes da IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina A área geográfica da IP  abrange cerca de 20% do território catarinense. As cidades integrantes são Água Doce, Anitápolis, Arroio Trinta, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Brunópolis, Caçador, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Curitibanos, Fraiburgo, Frei Rogério, Iomerê, Lages, Macieira, Painel, Pinheiro Preto, Rancho Queimado, Rio das Antas, Salto Veloso, São Joaquim, São José do Cerrito, Tangará, Treze Tílias, Urubici, Urupema, Vargem Bonita e Videira. Atualmente mais de 50% das propriedades se concentram em São Joaquim.

Ao todo, são quase 300 hectares de vinhedos plantados a pelo menos 900 metros acima do nível do mar, produzindo cerca de 1 milhão de garrafas por ano. São terrenos com boa amplitude térmica, com dias ensolarados e noites frias e úmidas. Nessa altitude há maior incidência de luz e radiação, além de menor disponibilidade de oxigênio; condições que tendem a gerar uvas com maior acidez, cor e boa maturação.

Porém, nem toda produção do território poderá receber o selo IP Vinhos de Altitude de Santa Catarina. Entre as regras para uso, estão a produtividade máxima de 7.000 litros de vinho por hectare, elaboração do produto dentro da demarcação, indicação de safra contendo no mínimo 85% de vinho do ano mencionado e aprovação do produto em avaliação sensorial às cegas.

A chaptalização, técnica polêmica e que consiste na adição de açúcar durante a fermentação da bebida para aumentar seu teor alcoólico, comum em regiões frias e chuvosas, é permitida até o limite máximo de um grau e meio ou 25g/L de açúcar, em casos bem específicos. Os níveis mínimos de graduação alcoólica também são regulamentados, bem como o uso de barris de carvalho.

Além disso, estão aprovadas para produção certificada as variedades finas (Vitis vinifera) Aglianico, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Chardonnay, Garganega, Gewurztraminer, Grechetto, Malbec, Marselan, Merlot, Montepulciano, Moscato Bianco, Moscato Giallo, Nero d’Avola, Petit Verdot, Pignolo, Pinot Noir, Rebo, Refosco dal Peduncolo Rosso, Ribolla Gialla, Rondinella, Sangiovese, Sauvignon Blanc, Semillon, Syrah, Touriga Nacional e Vermentino.

De acordo com Everson Suzin, não houve interesse em restringir as variedades a princípio. “O intuito é fazer uma seleção mais à frente, quando estivermos estruturando uma Denominação de Origem. Hoje, temos bastante equilíbrio na aceitação de uvas italianas e francesas, principalmente entre tintas. Mas já apontamos a Sauvignon Blanc como uma das que resultam nos melhores vinhos brancos da região”, declara.

Com essas e outras regras, o empresário acredita que nem toda safra será amplamente aprovada para uso do selo. “Construímos um regramento bem criterioso. Talvez até mantenhamos a média de 20% do total em toda a região. Pelo menos na Suzin, se tudo correr bem, a gente vai ter nosso primeiro vinho com selo em dois anos”, complementa.

Indicação Geográfica:  Procedência a Denominação de Origem

A região do Douro,  em Portugal, foi a primeira a receber um selo de Denominação de Origem de vinhos no mundo, decretado pelo Marquês de Pombal em 1756. A intenção era proteger o Vinho do Porto e sua história. Esta regulamentação passou a ser adotada para controlar a produção em diversas outras regiões do mundo e é responsável, por exemplo, pelo fato de que todo Champagne é um espumante — mas nem todo espumante pode ser chamado de Champagne.  Já no Brasil este tipo de certificação é recente e é regulamentada pelo Inpi, que já concedeu 93 registros em todo o território nacional. Com a IP Vinhedos de Altitude de Santa Catarina, chega a oito número de regiões demarcadas para vinhos no país. Destas, sete possuem Indicação de Procedência e uma possui Denominação de Origem (DO). Enquanto a IP é abrangente, atestando características geológicas, fisiográficos e/ou humanas, a DO vai além e prova ainda qualidade, estilo e sabor.

 A primeira IP do Brasil foi concedida em 2002 ao Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul; e essa mesma região conquistou, em 2012, uma DO em área mais restrita. Foi, também, a primeira DO brasileira.  Para utilizarem este selo, as vinícolas localizadas na DO Vale dos Vinhedos — uma área de 72,45 km² nos municípios de Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul — atendem a rigorosas especificações. Entre elas, o uso obrigatório de determinadas uvas, como Chardonnay para brancos e Merlot para tintos; envelhecimento mandatório em carvalho para os vinhos tranquilos, entre outras orientações.

 As demais são:

IP Farroupilha (Afavin/RS), com foco em vinhos finos elaborados com uvas da família Moscato (moscatel espumante, vinho fino tranquilo, frisante, licoroso, mistela e brandy).

IP Monte Belo  (Aprobelo/RS), que certifica determinados espumantes finos, espumantes moscatéis, vinhos finos tranquilos e secos brancos e tintos.

IP Altos Montes (Apromontes/RS), demarcação com vinhedos acima de 850 me- tros de altitude, tem como produtos os espumantes finos brancos e rosados, o espumante moscatel e os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos secos.

IP Pinto Bandeira  (Asprovinho/RS), região com clima ameno e ciclos longos de maturação nas videiras, produz espumantes finos, espumantes moscatéis, vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos secos.

IP Vales da Uva Goethe (Progoethe/SC), a primeira IP de Santa Catarina certifica vinhos brancos, vinho leves brancos (seco, suave ou demi-sec), o espumante (brut ou demi-sec) e o vinho licoroso elaborado com a uva híbrida Goethe, tradicionalmente cultivada na região desde o início do século XX.

IP Campanha Gaúcha (Vinhos da Campanha Gaúcha), delimitação localizada no bioma Pampa e que tem como produtos os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos e os espumantes naturais.

Em estruturação, estão a do Altos de Pinto Bandeira, com foco em espumante finos elaborados com uvas das variedades Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico cultivadas em espaldeira; e a IP Vale do São Francisco, que agrega os estados de Pernambuco e Bahia e terá como produtos certificados os vinhos finos tranquilos brancos, rosados e tintos; o espumante fino e o espumante moscatel. A indicação geográfica nordestina será a primeira do mundo de vinhos tropicais, onde a videira é submetida a mais de um ciclo vegetativo. Os critérios especificados no estudo enviando ao Inpi ainda não podem ser oficialmente divulgados até o registro no órgão, mas sabe-se que poderão utilizar o selo todos os vinhos finos e espumantes de cerca de 20 uvas finas (Vitis vinifera), produzidos dentro da Região Integrada de Desenvolvimento Petrolina-Juazeiro (Ride).

Trata-se de uma área de aproximadamente 35 mil quilômetros quadrados, distribuída nos municípios de Petrolina, Lagoa Grande, Santa Maria da Boa Vista e Orocó (PE) e Juazeiro, Sobradinho, Curaçá e Casa Nova (BA). Atualmente, a maioria das vinícolas associadas ao Vinhovasf têm produtos com qualidade e aptos a utilizarem o selo, bastando passar pelas análises físico-químicas e sensoriais do Conselho Regulador. Vitivinícola Santa Maria (Rio Sol), Vinícola do Vale do São Francisco (Botticelli) e Adega Bianchetti Tedesco (Bianchetti) em Pernambuco; e Miolo Wine Group (Terranova) e Vinum Sancti Benedictus (VSB) na Bahia já poderão submeter seus produtos aos testes. A expectativa é que a IP seja aprovada até o final de 2021, trazendo maior reconhecimento nacional e internacional, aumentando o potencial competitivo dos vinhos da região.

Vinhos para conhecer

Há muito  o que provar da mais nova IP brasileira de vinhos. Recentemente degustei o interessantíssimo Villagio Conti Arancione (R$ 95 no Seu Vinho em Casa), um vinho laranja das uvas italianas Ribolla Gialla, Grechetto, Vermentino e a grega Malvasia de Candia. Também saboreei o fantástico Suzin Espumante Brut Rosé, com sua perlage fina e persistente, aromas de frutas vermelhas, toque de pêssego, cremosidade e excelente acidez. Mas parei por aí e precisei pedir ajuda a quem entende. 

Considerada uma embaixadora dos vinhos do planalto catarinense, a sommelière profissional e criadora de conteúdo Ana Cristina Mokdeci (@davinha_aovinho) fez uma seleção caprichada de alguns rótulos ícones da região. 

“São vinhos que considero de qualidade e me tocam o coração de forma bastante pessoal. Selecionei mais vinhos brancos, pois eles se destacam na produção do estado. Uma marca que não incluí na lista, mas que todos devemos ficar de olho, é a Quinta da Neve — que mudou recentemente de direção e promete muitas novidades”, revela Mokdeci. 

Confira:

1 - Villaggio Conti Ribolla Gialla 2020: Traz notas de damasco seco, pêssego, abacaxi, amêndoas e baunilha. Na boca repete os aromas, com bastante estrutura e equilíbrio. R$ 99 na Alvino Expert.  (Foto: Divulgação) 2 - Thera Sauvignon Blanc 2020:  Possui notas de maracujá e ervas frescas com toque mineral, típico da região. Fresco, suculento e frutado.  R$ 119 no site da marca.   (Foto: Divulgação) 3 - Leone di Venezia Oro Vecchio: Elaborado com Gewurztraminer, Grechetto e Vermentino, este vinho laranja tem notas exuberantes de frutas secas, especiarias e ervas finas. No paladar apresenta boa estrutura, taninos finos e acidez equilibrada. R$ 80 no site da vinícola.  (Foto: Divulgação) 4 - Vinhedos do Monte Agudo Chardonnay Unoaked: Um vinho alegre e bastante jovem. A carambola, o mel e a compota de pêra dominam as notas aromáticas. R$ 96 no Cave Nacional.   (Foto: Divulgação) 5 - Villa Francioni VF Rosé: É conhecido como o Rosé da Madonna! Elaborado com as uvas Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Merlot, Malbec, Sangiovese, Syrah, Petit Verdot e Pinot Noir. R$ 95,90 na Vinho Santo.  (Foto: Divulgação) 6 - Villaggio Bassetti Ana Cristina Pinot Noir:  Frutado, macio e aveludado. R$ 139 no site da vinícola.   (Foto: Divulgação) 7 - Serra do Sol Fortunata Raggio: Um interessantíssimo blend de Merlot e Montepulciano elaborado pela Roberta Zilli, no município de Urubici. R$ 110 no Alvino Expert. (Foto: Divulgação)