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Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2020 às 19:53
- Atualizado há 2 anos
A Capoeira está de luto. O Mestre de Capoeira, escritor e cineasta baiano Jair Moura morreu, aos 84 anos, na manhã desta quarta-feira (19), em Salvador. Um dos precursores nos Estudos da Capoeira no Brasil, ele foi vítima da covid-19.>
Jair Moura estava internado há uma semana no Hospital Santa Izabel, no bairro de Nazaré, de acordo com familiares. Ele deu entrada na unidade com complicações cardiovasculares e respiratórias, mas não resistiu. O corpo de Mestre Jair Moura foi enterrado nesta tarde, no Cemitério Bosque da Paz, localizado em Nova Brasília.>
Jair, que completaria 85 anos no próximo dia 27, tinha câncer de pele, o que afetou sua visão. No início deste ano, ele fez uma operação nos olhos, também no Santa Izabel. Desde então, estava morando na casa da filha, Jacir Moura, 44 anos, em Itapuã.>
Jair Fernandes Moura, o Mestre Jair Moura, nasceu em Salvador no dia 27 de agosto de 1936. Morou no Rio de Janeiro na década de 1980 e voltou à capital baiana nos anos 1990. Nas duas cidades, divulgou em jornais e revistas, diversos artigos que contribuíram decisivamente para incrementar os estudos relativos à Capoeira tanto em Salvador como no Rio.>
Pesquisador de Capoeira e documentarista, Jair é autor de vários livros sobre o assunto, inclusive sobre a vida do renomado Mestre Bimba, o criador da capoeira regional, de quem era discípulo desde o final dos anos 1950. Mestre Jair Moura foi um dos quatro únicos capoeiristas a receber diretamente das mãos do professor o Lenço Branco - que simboliza o título de Mestre na capoeira regional. Mestre Bimba - de camisa branca, na lateral - e Jair Moura, agachado "ao pé do berimbau" perto de Bimba, pronto para inciar o jogo. Foto tirada em 1956 em uma das apresentações no Rio de Janeiro (Foto: Acervo Jair Moura) "Mestre Jair foi, talvez, o cara que iniciou essa preservação do histórico da Capoeira. Ele sempre foi um cara observador e muito íntegro. Foi um dos caras mais bem considerados pelo meu pai. Eu considerava ele como um irmão mais velho. A gente conversava bastante e meu pai considerava muito ele. Ele era aluno de meu pai desde a década de 1950 e foi o último capoeirista a receber o Lenço Branco de meu pai. Além disso, ele publicou vários livros, textos e fez apanhados, não só de meu pai como da Capoeira Angola e regional. Com certeza, ele teve uma importância imensurável", disse, ao CORREIO, o Mestre Nenel, filho de Mestre Bimba.>
Jair Moura foi ainda responsável por vários registros fotográficos de Mestre Bimba e de outros capoeiristas baianos e cariocas.>
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Mestre Jair Moura também foi amigo de Glauber Rocha. Eles se encontravam sempre em frente ao Colégio Central da Bahia, localizado no bairro de Nazaré, onde o cineasta estudou. Era amigo de outro grande pesquisador de capoeira: o historiador Frederico José de Abreu (1947 - 2013), o Frede, que publicou diversos livros sobre a Capoeira do país e fundou o Instituto Jair Moura, que ganhou o nome em homenagema ao amigo e tinha um acervo com mais de 40 mil títulos, entre livros, recortes de jornais, revistas, CDs, fotos e vídeos.>
Jair trabalhou ainda no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), onde foi montador, diretor cinematográfico, escritor e ensaísta. Jair Moura ao lado do Mestre Daniel Coutinho no antigo Beco do Girassol, na Baixa dos Sapateiros, nos anos 1960 (Foto: Acervo Jair Moura) Jair Moura ao lado do Mestre Totonho de Maré, nos anos 1960 (Foto: Acervo Jair Moura) Foto tirada no Cais do Porto de Salvador, em 1968. Da esquerda para direita, José Izidoro de Carvalho (Gajé), Domingos André dos Santos (DiMola), Daniel Coutinho (Noronha), Antônio Laurindo das Neves (Totonho de Maré), no último pandeiro Manoel Olimpio de Souza (Índio). Agachados: João Grande, Jair Moura e João Pequeno. Cena do filme Dança de Guerra, de Jair Moura Obras Entre suas obras mais conhecidas estão o livro“Mestre Bimba: Uma Vida consagrada à Capoeiragem”, reunindo arquivos, histórias e anedotas em torno do criador da capoeira regional, com quem ele teve uma excelente relação, e “A Capoeiragem no Rio de Janeiro através dos séculos”, que mostra que o seu olhar sobre a capoeira não se restringia à Bahia.>
Também dirigiu o documentário Dança de Guerra (1968), com participação de Mestre Bimba, Mestre Tiburcinho, Mestre Totonho de Maré e Mestre Noronha e lançou o disco Dança de Guerra (1960), com a trila sonora do filme de mesmo nome.>
Mestre Jair Moura deixa um casal de filhos: Jacir Moura, 44 anos, e Moacir Moura, 42.>
Homenagens O Contramestre, pesquisador e editor do Portal Capoeira Luciano Milani lembrou que Jair dedicou sua vida a estudar Capoeira e divulgar a sua história através de filmes, livros e estudos, "sempre disponível a ajudar e divulgar o seu conhecimento". "Tive o prazer de participar, juntamente com Mestre Jair Moura e Frede Abreu, da banca de avaliações de projetos do Capoeira Viva, em 2007. Boas lembranças na troca de informações e bate-papo sobre nossa capoeiragem… Um Mestre com enorme conhecimento que deixa uma enorme contribuição cultural", escreveu.>
Em nota, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) lamentou o falecimento do Mestre Jair Moura e destacou o seu legado e a sua imensa contribuição para a preservação da história da capoeira e dos grandes mestres. Veja a nota na íntegra.>
A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia lamenta o falecimento do Mestre Jair Moura. Discípulo de Mestre Bimba desde o final dos anos 1950, tendo sido um dos 04 únicos agraciados a receber diretamente das mãos dele o Lenço Branco que simboliza o título de Mestre na capoeira regional, o escritor, historiador e cineasta foi um dos percussores nos estudos e pesquisas da capoeira no Brasil. Mestre Jair Moura difundiu a produção de conhecimento em torno da capoeira, realizando palestras por todo o Brasil, publicando livros, como “Mestre Bimba: Uma Vida consagrada à Capoeiragem”, reunindo arquivos, histórias e anedotas em torno do criador da capoeira regional, com quem ele teve uma excelente relação, e “A Capoeiragem no Rio de Janeiro através dos séculos”, que mostra que o seu olhar sobre a capoeira não se restringia à Bahia. Escreveu artigos para jornais e revistas que contribuíram decisivamente para incentivar os estudos da capoeira. Como cineasta, se destaca entre as produções na qual esteve envolvido “Dança de Guerra” (1968), um registro histórico singular, que traz performances e registros de mestres como João Pequeno, Bimba e João Grande. O acervo de imagens deste filme gerou também a exposição fotográfica “Camarada toma sentido! Capoeira tem fundamento”, que é permanentemente exposta no Forte de Santo Antônio Além do Carmo (Forte da Capoeira). Jair Moura foi também membro do Instituo Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), instituição hoje apoiada pelo Fundo de Cultura.>
A SecultBA reconhece a imensa contribuição de Jair Moura para a preservação da história da capoeira e dos grandes mestres, seu legado permanece e estimula outras gerações de pesquisadores, mestres e intelectuais. Nossa solidariedade aos amigos, aos entes queridos e à Capoeira que está de luto neste dia.>
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