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  • Kátia Borges

Publicado em 14 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Não tenho amigos famosos. Sempre gostei daqueles que não são campeões em nada. Creio que, em parte, inspirada pela frase de Jack Kerouac sobre os loucos. Aqueles que queimam, fabulosos fogos de artifício, explodindo como constelações no centro da Cidade da Bahia. A primeira capital do país, a melhor da América do Sul. Floresta barroca, onde conhecemos o som do estalar de cada graveto.

Como as ruas devem soar para aqueles que se perdem, líamos em Benjamin, o Walter, nosso parceiro e mestre. Tenho amigos bêbados famosos, embora nesse quesito todos prefiram o anonimato. Ao menos, em silêncio, após o bar, após cantar alguma música de Belchior, lá pelas tantas. Fizemos história juntos na época do Café Teatro, descolando os selos das garrafas, colando seus rótulos nas mesas.

Esses, sim, os melhores. Meus amigos não morreram de overdose de sonhos por pura falta de tempo (e, claro, muita sorte), foram para a vida, construindo os seus amores, filhos e projetos. Estão espalhados pelos quatro cantos do planeta, e é como se nossa amizade tivesse tentáculos. Outros foram embora cedo, muito cedo. Os que ficaram sabem que tudo é pose, e riem de quem se leva muito a sério.

Que coisa besta, esse desgaste por sucesso, dizem, e estão certos. Esse passado é nosso, a vida quando tudo era vertigem de cinema. E dormíamos juntos depois das festas, enrolados em cobertas, na mais completa beatitude. Sei que sabem de mim, quando me encontram, ainda que passe muito tempo. E eu conheço o que eles gostam, o que não gostam. E se fingem que estão certos, mesmo no erro.

É para isso que serve essa máquina, o tempo? Outro dia, falamos sobre as dores e delícias de virar adultos. Certas coisas não têm jeito mesmo. Você atravessa a infância, sobrevive à adolescência, e aí pensa que finalmente está imune. Mas que nada! Coisa pequena, coisa grande, coisa qualquer (que tudo que não vence a morte é ninharia). E lá está você, pasmo, a mesma perplexidade da juventude.

Estou pensando em Nina Simone, que sonhava em ser pianista clássica. Não há uma razão específica, talvez não deseje revelar. Já fui tão confessional como sou tola. Deve ser o cansaço, um dia duro de trabalho. As pessoas andam tão empertigadas. Biscoitos finos aos montes. Há de saber quem comerá tantos e tantos potes. Passarinho voa porque é leve, disse-me o mestre Antonio Torres.