Zitinho na presença de vô Jovino

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  • Paulo Leandro

Publicado em 7 de dezembro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Raulzitinho é o mascotinho vascaíno mais lindo da história do nosso ‘fútil-ball’. Claro que aqui vai aquela super-dose de sempre, pois crônica esportiva, sem o tempero do drama e do exagero, vira equação de segundo grau.

O facto vivo, acrescido da imaginação, foi furo de reportagem da itimorata folha digital itirucuonline.com: meu sobrinho-neto, um dos 155 mil sócios, foi recebido pelos amigos do Almirante, antes do jogo contra o Bahia, pela Série A.

Não duvido da presença amorosa do vovô Jovino, cuja despedida desta dimensão de dor deu-se vestido no manto da listra diagonal. Transmitir a herança de nosso clube do coração, mesmo quando este nos falha subitamente, é o que ainda há de mais humano. Vou pegar a ponga no grande René: se quando dormimos, pensamos no sonho como realidade, quem nos garante que, em vigília, também não estamos em um tipo de sonho? 

Por isso, duvido mais que o amigo do ‘Cogito Ergo Sum’: a ausência pode ser um engano. A amiga heideggeriana vai dizer que a existência está na temporalidade, entre o nascimento e a morte. Arrisco-me a perder de novo Contemporânea I se insistir na dúvida. Por ora, vamos ficar com a poesia: o vovô vive no netinho via amor ao Vasco. O conceito de sujeito da modernidade fixou-se como documento de RG: a herança clubística, sagrada e imanente, não se deve contrariar. 

Não seria surpresa se nosso presidente Jair Bolsonaro e sua equipe de bravos assessores instituísse a necessidade de informar, na carteira de identidade, ao qual clube pertence cada brasileiro. 

Muito mais relevante que os números, a foto, os carimbos, o polegar, etc. etc. é esta relação, a um tempo vulgar e divina, mundana e supra-mundana, ser e ente, entre a pessoa que é e o clube ao qual doou seu sentido. 

A jardineirinha do Vitória do meu neto já está comprada pela tia Ci, para ser sua verdadeira pele, logo ao sair da maternidade, bem como toda minha prole ouviu, logo depois do próprio choro, ao vir à luz, o hino do Decano. 

Os setores de melhor convívio do nosso mundo têm tradição de menosprezar o futebol, que sequer é considerado cultura pela Lei Orgânica. Fazem questão de colocar o Bretão no colo dos adeptos da violência como solução final da Suástica. 

Ignorância não é, pois são craques em filosofia. Como podem tratar a menor nosso traço de hífen mais poderoso? Só a bola é capaz de gerar diálogos entre desconhecidos pela simples razão de um deles estar vestido na camisa de um time. 

Que Raulzitinho e meu neto Bem possam desfrutar do convívio amistoso proporcionado pelo futebol, agora, alinhado com o antifascismo em várias torcidas uniformizadas e clubes de cidadania, como nosso Bahia vem revelando-se, pautando até The Guardian. 

Canto à divindade que os exemplos negativos, como o dos atleticanos violentos, capazes de espancar uma idosa de 86 anos, torcedora-símbolo do Cruzeiro, desçam logo ao submundo, e lá permaneçam. 

Assim como vovô Jovino aparentemente já não é, mas bate seu sagrado e eterno baba nos Campos Elyseos, estes violentos que aparentemente ainda são, podem já estar extintos sem saber.

A pessoa racista, misógina, arrogante, presunçosa - principalmente se for “professor” -, está chutando pela linha de fundo a chance de fazer algum sentido o ser-do-bem-no-mundo.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.