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De Lázaro Ramos a Carla Akotirene, intelectuais e artistas negros se manifestaram sobre a acusação de assédio contra o ex-ministro
Da Redação
Publicado em 7 de setembro de 2024 às 08:40
Personalidades, intelectuais e artistas negros se manifestaram sobre a demissão do agora ex-ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, devido a acusações de assédio sexual. Almeida foi demitido pelo presidente Lula, na noite da última sexta-feira (6).
Entre as vítimas, estaria a também ministra Anielle Franco, titular da pasta da Igualdade Racial que falou pela primeira vez sobre o ocorrido na sexta-feira, logo após o anúncio da demissão. Em nota, Anielle pediu respeito à privacidade e disse que ajudará nas investigações abertas contra Almeida. Também defendeu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e disse que "o enfrentamento a toda e qualquer prática de violência é um compromisso permanente deste governo".
O ator Lázaro Ramos publicou um texto em seu perfil no Instagram e disse que “retrocedemos alguns anos”. Lázaro afirmou que trata-se de um “capítulo triste e devastador na luta pelo direito das mulheres, na luta antirracista, no campo político e na luta dos direitos humanos”.
Colega de Esplanada, a ministra da Cultura e cantora Margareth Menezes publicou uma foto com Anielle Franco e prestou solidariedade a ela. “Como mulheres negras em espaços de poder, sabemos o peso das estruturas que tentam silenciar nossas vozes. Mas não nos calaremos”, escreveu.
A pesquisadora, professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e influencer Bárbara Carine, publicou um vídeo de análise sobre o contexto.
“Não posso permitir a naturalização dos comentários da minha página de que ‘é tudo homem’. Se não há a naturalização do acesso ao benefício do masculino universal, não pode haver a universalização no tratamento, no entendimento da sua desgraça. O patriarcado ocidental está posto, homens negros são criados imersos nesse contexto de opressão estrutural sem serem seus principais beneficiários e sem serem aqueles que o originaram", afirmou.
Já a pesquisadora e escritora Carla Akotirene disse não conseguir medir a dor de ver personalidades negras antirracistas envolvidas nessa situação, referindo-se a Silvio Almeida e Anielle Franco.
“Por que sequestram de maneira tão vil as nossas reputações? Ora, em administração pública tanto os gestores negros, como gestoras negras têm sido considerades pelas branquitudes figuras fracas do ponto de vista técnico, deslumbradas com o cargo e acusados agora, de assédio sexual”, escreveu.
A presidente da Funarte, Maria Marighella, também usou as redes sociais para lamentar o episódio. "Neste dia triste, escuta e proteção às vítimas".
Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva disse que as últimas horas foram dolorosas para quem defende os direitos humanos. Ela também postou uma foto com Anielle Franco.
"Minha solidariedade e apoio à ministra Anielle e também às demais mulheres que se juntaram às denúncias de assédio. Desejo-lhes a escuta e o acolhimento tão fundamentais nesses momentos de dor. Só elas podem expressar a profundidade do desconforto que importunações sexuais representam em suas vidas. O ex-ministro Silvio Almeida certamente terá garantido o seu mais amplo direito de defesa. Mas esse acontecimento traumático trouxe um importante ensinamento ao país. Mostrou que, embora o assédio, o desrespeito e outras violências contra as mulheres ainda façam parte de nosso cotidiano, esses comportamentos são definitivamente inaceitáveis e, cada vez mais, haverá denúncias e reação moral, institucional e legal contra eles", escreveu.
A jornalista e atriz baiana Tia Má destacou a coragem e a importância de denunciar os casos de assédio e da não culpabilização das vítimas. "Toda pessoa que já foi vítima de assédio…teve dúvidas se iria denunciar ou não. A pessoa se questiona, acha que é melhor se calar. O silêncio colabora para que casos de assédios moral e sexual se multipliquem! Que a gente nunca tenha dúvida que denunciar é sempre o correto a ser feito!", afirmou.
Tia Má acrescentou a dificuldade inicial em processar o choque do ocorrido. "Pessoas que admiramos, que temos como referência, podem agir de forma diferente do que imaginamos." Ela também expressou o desejo de que "tudo ocorra dentro do rigor da lei e que tudo seja devidamente comprovado."
A influenciadora Gabi de Pretas expressou que o caso despertou uma tristeza profunda, não apenas pela decepção, mas pelas perdas significativas que o ocorrido representa para as comunidades marginalizadas e na luta dos pelos direitos humanos no Brasil.
"Todas as mulheres devem ser respeitadas e suas denúncias levadas a sério, mas não esqueçamos o direito da presunção da inocência e do contraditório", escreveu o advogado criminalista Marinho Soares.
Fundadora e diretora executiva do Instituto Identidades do Brasil, Luana Génot, defendeu em seu pronunciamento que não se deve tolerar retrocessos, prezando pelo avanço das pautas raciais, de gênero e dos direitos humanos no país. Ela ressaltou ainda a importância do acolhimento às vítimas em casos de assédio e destacou a necessidade de respeitar a apuração dos fatos. "A justiça que queremos não é a do tribunal virtual que, inclusive, por vezes, culpabiliza as vítimas e torce para que ambos os lados e pautas historicamente vulnerabilizadas, como a igualdade racial e os direitos humanos, saiam enfraquecidos", escreveu.
"O que acontece hoje traz uma dor que atravessa, machuca e é decepcionante para as mulheres, para a luta contra o racismo e para a política", declarou Taís Araújo. A atriz prestou solidariedade a Anielle Franco e a todas as vítimas de assédio, pedindo por justiça e punição rigorosa. Taís descreveu o momento como uma derrota e um retrocesso em um processo de luta que ocorre há muitos anos. "Hoje, todos e todas nós perdemos", concluiu.
A deputada Olivia Santana (PCdoB) se manifestou em um primeiro post expressando a dor causada pela gravidade dos acontecimentos e pedindo cautela e respeito às investigações. "O momento exige responsabilidade e compromisso com a verdade e a elucidação dos fatos", escreveu. Em uma segunda publicação, compartilhou uma foto com Anielle Franco e, em sua legenda, deixou uma mensagem de apoio à ministra e às vítimas. "É natural que a tristeza nos tome, diante de fatos que representam uma gravíssima ruptura ética e uma enorme perda política. Vamos atravessar mais essa tormenta e tirar lições", finalizou.
"É uma dor imensa para o povo preto. Perdemos nós, perde o Brasil. Mas não deixemos que esta perda destrua o projeto sólido e verdadeiro de emancipação", escreveu a ex-deputada estadual de São Paulo e artista plástica Erica Malunguinho.
A atriz Camila Pitanga expressou seu apoio a Anielle Franco e a todas as mulheres que denunciam assédio, destacando a criminalidade dos atos e que esses não deve ser ignorado ou minimizado. Ela afirmou que é essencial "não aceitar que vozes sejam descredibilizadas ou silenciadas". Pitanga também alertou para que o caso não seja usado para dividir ou enfraquecer as pautas de direitos das pessoas negras, reforçando que as investigações devem ser realizadas com a celeridade e o respeito necessários.
"Tomei posse no governo federal ao lado da ministra Anielle Franco como uma forma simbólica de mostrar que chegamos juntas nesse espaço de poder, e para juntas também lutarmos por um Brasil mais justo. Manifesto meu apoio à minha querida amiga. Que todas as denúncias sejam investigadas dentro do rigor da lei e respeitando o devido processo legal, sem condenações prévias, e com a celeridade que denúncias como essa precisam ter na nossa sociedade, o que não poderia ser diferente no setor público", escreveu a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.
A jornalista e apresentadora Rita Batista também se manifestou sobre o caso, relatando o sentimento de devastação ao se deparar com denúncias de violência contra um agente que sempre demonstrou combatê-las. Rita defendeu a importância de não descredibilizar as vítimas de assédio e afirmou acreditar "na Justiça, na luz da Verdade".
A deputada Erika Hilton (PSOL) expressou em suas redes sociais solidariedade à Ministra Anielle Franco e às outras vítimas de assédio, destacando a importância de uma investigação "célere e séria, comprometida com a garantia dos direitos das vítimas". Ela pontuou que o direito de defesa do ex-Ministro Silvio Almeida deve ser preservado e também alertou contra o uso das denúncias para "revanchismo político ou retóricas racistas", expressando tristeza pelo ocorrido.
Em seu perfil no Instagram, o Instituto Marielle Franco emitiu nota oficial em apoio a Ministra e co-fundadora da organização. "Anielle Franco não será interrompida! O Instituto Marielle Franco manifesta sua solidariedade a nossa querida co-fundadora, ex-diretora executiva e atual ministra da igualdade racial, Anielle Franco, e rechaça com veemência toda e qualquer violência política que atravesse os seus caminhos", descreve a legenda da publicação.
A União de Negras e Negros pela Igualdade (UNEGRO) também emitiu nota em seu perfil institucional. A organização declarou profunda preocupação com as denúncias de assédio sexual envolvendo o ex-Ministro dos Direitos Humanos e a Ministra da Igualdade Racial e destacou que, embora reconheçam a necessidade de uma investigação "rigorosa e imparcial dos fatos", é crucial que o direito ao contraditório e à ampla defesa sejam respeitados. A UNEGRO criticou ainda a tentativa de transformar a denúncia em um ataque reacionário às representações negras e apelou para que a sociedade não enfraqueça a pauta racial.
"Senti um soco na boca do estômago", descreveu Luana Xavier sobre a descoberta das acusações de assédio. A atriz publicou um texto em seu Instagram refletindo sobre o impacto do ocorrido na comunidade negra e a importância do fortalecimento durante esse processo: "Um de nós, ao ser atingido, o sangue respinga para nossos irmãos e irmãs", pontuou. Ela finalizou o texto prestando apoio à amiga Anielle Franco: "Meu coração está com você", escreveu.
A cantora Anelis Assumpção também se pronunciou sobre acusações: "A patologia da masculinidade está posta desde a construção patriarcal. É comum abusos virem da parte de quem supostamente deveria cuidar", declarou. Ela expressou o impacto emocional profundo do caso, mencionando suas próprias experiências de abuso e concluiu o texto apelando para que as mulheres negras brasileiras se unam e se fortaleçam.
"Um dia muito triste o de hoje! A população preta perde em muitos âmbitos. Assédio moral e assédio sexual são inadmissíveis. Mulheres e meninas negras são diariamente abusadas e assediadas. [...] Eu acredito na mudança, na cura e numa sociedade verdadeiramente justa e segura para todes, sobretudo para nós, mulheres negras. Toda denúncia, é um ato de coragem. Que sigamos firmes e fortes!", declarou a atriz Jéssica Ellen em texto no seu perfil do Instagram.
Entenda o ocorrido
O caso veio a público na última quinta-feira (05), divulgado pelo portal Metrópoles que expôs uma acusação feita à Mee Too Brasil, organização sem fins lucrativos que presta apoio a vítimas de violência sexual, alegando que Almeida teria cometido assédio sexual no ano passado. Entre as vítimas, estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Em nota, a Me Too Brasil confirmou a acusação contra Silvio Almeida.
"A organização de defesa das mulheres vítimas de violência sexual, Me Too Brasil, confirma, com o consentimento das vítimas, que recebeu denúncias de assédio sexual contra o ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos. Elas foram atendidas por meio dos canais de atendimento da organização e receberam acolhimento psicológico e jurídico", dizia trecho do pronunciamento.
Ainda na quinta-feira, o ex-ministro se manifestou negando as acusações e reiterando suas lutas pela cidadania. "Repudio com absoluta veemência as mentiras que estão sendo assacadas contra mim. Repudio tais acusações com a força do amor e do respeito que tenho pela minha esposa e pela minha amada filha de 1 ano de idade, em meio à luta que travo, diariamente, em favor dos direitos humanos e da cidadania neste país", disse Almeida.
Na noite de sexta-feira (06), o Palácio do Planalto emitiu um comunicado confirmando as acusações e anunciou a demissão de Silvio Almeida do cargo que ocupava desde janeiro de 2023 no Ministério dos Direitos Humanos. As investigações do próprio governo apontaram, pelo menos, quatro denúncias de assédio sexual contra Almeida. “O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo, considerando a natureza das acusações de assédio sexual", informou o Planalto.
A Comissão de Ética da Presidência da República abriu um procedimento de apuração sobre o caso na quinta-feira (05) e, após reunião, ficou acordado que Almeida teria 10 dias para apresentar defesa. O ex-ministro também foi chamado para "prestar esclarecimentos ao controlador-geral da União, Vinícius Carvalho, e ao advogado-geral da União, Jorge Messias, por conta das denúncias publicadas pela imprensa contra ele". A Polícia Federal também informou a abertura de um inquérito para apurar o caso.