Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Wendel de Novais
Publicado em 8 de outubro de 2025 às 10:51
Um casal de Salvador foi condenado a pagar R$ 50 mil por danos morais, além do reconhecimento do vínculo empregatício, por ‘adotar’ uma criança de seis anos no interior da Bahia e a colocarem em uma situação de trabalho doméstico infantil. A vítima, que hoje tem 31 anos, foi levada da cidade de Lamarão, no centro-norte da Bahia, sob a justificativa de se tornar uma ‘filha de criação’ do casal. >
De acordo com o Tribunal Regional do Trabalho da Bahia (TRT-BA), a ida da criança para Salvador era temporária, mas se tornou definitiva. “Segundo os patrões, a mãe biológica entregou a criança alegando passar por dificuldades financeiras extremas. A princípio, a menina teria ido ajudar o homem da casa, que havia sofrido um acidente, mas acabou permanecendo de forma definitiva no local”, detalhou o Tribunal. >
Em 2003, o casal conseguiu a guarda da menina, o que a ‘consolidou’ como uma empregada doméstica da casa. “Ela passou a executar tarefas domésticas com frequência, sendo orientada por outras empregadas da residência. O trabalho começava cedo: acordava às 4h para preparar o café da manhã da família e seguia com os afazeres até o fim do dia”, descreveu o TRT. >
A criança só ficava livre dos afazeres quando precisa estudar. A formação, no entanto, foi interrompida quando a vítima completou 15 anos e foi obrigada a interromper os estudos para cuidar do neto do casal. Ela só conseguiu concluir o ensino médio aos 24 anos, por meio do supletivo. Em 2020, após questionar sua condição na casa, foi expulsa. >
Na Justiça, o casal afirmou que tratava a menina como filha e que ela recebia educação, carinho e até um curso técnico de enfermagem pago por eles. Disseram ainda que seu comportamento teria mudado após ela começar um relacionamento amoroso. >
As alegações, porém, foram desmentidas por testemunhas ouvidas no processo. Uma delas, amiga da dona da casa por mais de 15 anos, sequer sabia o nome da jovem. Já o homem que cresceu como seu "irmão" foi quem tomou a iniciativa de expulsá-la, tratando sua permanência sem trabalhar como um incômodo. >