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Larissa Almeida
Publicado em 8 de julho de 2025 às 06:00
Aos 88 anos, a aposentada Roselita Nunes ainda vive resquícios de uma rotina que só era possível antes dos anos 2000: só consome notícias pelo TV ou jornais físicos, sabe das horas através do relógio e conversa com pessoas que estão distantes apenas pelo ‘telefone retrô’. Tudo isso é possível porque ela não usa o celular e se tornou uma defensora incansável das ligações feitas pelas linhas de telefonia fixa. >
“Tenho 88 anos, quase não saio, para que eu quero celular? As coisas de banco minha filha quem faz. Celular tem tudo da nossa vida. Já tive há mais de 10 anos, fui roubada e não gostei. Celular na mão de idoso é perigo, jovem é mais fácil de se defender”, declara. >
Mesmo com a praticidade que um dispositivo que vive na palma da mão pode proporcionar, Roselita afirma que, na família, todos já sabem da sua preferência e não a incomodam: têm o telefone dela salvo na agenda, assim como ela anota, manualmente, o de todos os parentes. >
O caso de Roselita é um dos raros ainda encontrados em Salvador. Isso porque, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a capital baiana teve uma queda de 40% no número de linhas de telefonia fixa nos últimos cinco anos. Em 2019, existiam 552.588 números de telefones fixos na cidade, quantidade que caiu para 343.002 em 2024. >
Entre os motivos para a queda da telefonia fixa, está o aumento e preferência do uso da telefonia móvel – 3,9 milhões de contratações somente em Salvador, segundo a Anatel – e os altos custos para a manutenção do serviço, que era feito através de cabeamento – quase sempre, por meio de fios de cobre – que são mais onerosos do que a fibra óptica, meio pelo qual é fornecido o serviço de internet e telefone móvel. >
Na casa da comunicadora Yasmim Oliveira, 23 anos, o telefone fixo há anos funciona com um defeito e não realiza chamadas – só recebe –, mas segue ocupando espaço na casa por insistência do pai. “Ele serve apenas para receber chamada. Meu pai não cancela para o caso de haver alguma emergência com a minha avó. Antes da memória dela ficar debilitada, esse era um dos números que ela sabia de cor. Além disso, é mais um jeito de falarem com a gente”, diz. >
Já na casa da diarista Neide Sacramento, 55 anos, o telefone é mais como uma relíquia. “Eu nem utilizo muito. De vez em quando, uso para ligar para lugares que utilizam número fixo. O telefone fica mais de canto dentro de casa, mas sempre toca. Quando a gente atende, às vezes a ligação cai ou é alguma mensagem. É raro ter alguém ligando”, relata. >