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Maysa Polcri
Publicado em 3 de setembro de 2025 às 18:18
Uma auditoria interna realizada pela SulAmérica revelou supostas fraudes em pedidos de reembolso apresentados por beneficiários de duas clínicas oftalmológicas de Salvador. O esquema envolve, segundo a seguradora, atendimentos fictícios e a emissão de comprovantes de transações financeiras falsas. O prejuízo seria superior a R$ 600 mil. >
O Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) permitiu, em julho deste ano, que a SulAmérica negue reembolsos em situações ligadas às empresas investigadas e quando houver indícios de simulação de pagamento. A solicitação foi feita pela seguradora para evitar reembolsos indevidos às clínicas investigadas.>
A SulAmérica afirma ainda que as empresas abriram Notificações de Intermediação Preliminar (NIP), através da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para forçar reembolsos indevidos. O instrumento é utilizado para mediar conflitos entre clientes e operadoras de saúde. >
Apesar de considerar que ainda faltam provas definitivas para determinar que houve fraude, o desembargador Raimundo Sérgio Sales Cafezeiro atuou na contenção financeira provisória, permitindo a negativa de reembolso. >
"Conforme pontuado na decisão agravada, ao menos neste momento processual, cuja cognição é sumária, não se revela crível concluir acerca de atividades fraudulentas", pontuou. As empresas negam que tenham tido conduta fraudulenta. >
A SulAmérica afirma que foram 5,5 mil solicitações de reembolso apresentadas por beneficiários atendidos na André Príncipe Oftalmologia e na Clínica de Olhos Príncipe Oliveira, ambas localizadas em Salvador, entre janeiro de 2022 e outubro de 2024. O valor total dos pagamentos é de R$ 23 milhões, referentes a 983 beneficiários. "Ao analisar uma parcela dos pedidos de reembolso, a investigação revelou prejuízo superior a R$ 600 mil", diz a empresa. O rombo, no entanto, pode ser ainda maior.>
Ao entrar em contato com os supostos beneficiários dos serviços prestados pela clínica, os clientes disseram desconhecer comprovantes de pagamentos emitidos por duas instituições financeiras citadas na investigação, a Iugu Instituição de Pagamento e a Facilicred Sociedade de Crédito ao Microempreendedor. >
Outro indício de suposta fraude citado pela empresa seriam 80 solicitações de reembolso por meio de boletos bancários. Em 68 destas, verificou-se que o pagador do boleto é o próprio prestador André Príncipe Oftalmologia. "Portanto, de acordo com a auditoria, o prestador realizava o pagamento do boleto em proveito próprio, com a finalidade de gerar um comprovante para as solicitações de reembolso", diz a SulAmérica, em nota. A suspeita é que os prestadores emitem notas fiscais fracionadas para maximizar os valores a serem ressarcidos. >
As empresas acumulam mais de sete mil seguidores nas redes sociais, realizam cirurgias e possuem serviço de home care, com atendimento em domicílio. O responsável técnico é o médico oftalmologista André Príncipe. Ele é formado pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e possui 21 anos de atuação profissional. Ele também se apresenta como membro da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo e possui cadastro ativo no Conselho Regional de Medicina (CRM).>
Procuradas, as clínicas André Príncipe Oftalmologia e Clínica de Olhos Príncipe Oliveira emitiram nota conjunta em que negam as acusações de fraude e reafirmam seu compromisso com os pacientes. "Com nove anos de atuação na área de saúde, a André Príncipe Oftalmologia de Referência é uma instituição reconhecida e consolidada no mercado baiano justamente pela excelência, ética e integridade em sua atuação", diz o comunicado. >
"A clínica recebeu com grande surpresa a notícia de supostas irregularidades que vêm sendo divulgadas pela SulAmérica, mas está absolutamente certa e tranquila de que os fatos serão devidamente esclarecidos, reafirmando o seu compromisso com a sociedade e os seus pacientes", completa. >