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Wendel de Novais
Publicado em 6 de agosto de 2025 às 05:30
A sigla do Terceiro Comando Puro (TCP) nas balaustradas do calçadão do Farol da Barra, em Salvador, não surpreendeu os moradores do bairro por conta do tráfico. Para eles, a prática não é novidade. O que assustou quem mora no local foi a ousadia do grupo criminoso para estampar as suas iniciais em um dos maiores cartões-postais da capital, onde caminham milhares de turistas todos os dias. >
Questionado pela reportagem, um morador explica que, antes, as pichações se limitavam a espaços menos frequentados. “Facção aqui não é novidade, apesar de não ter ouvido falar dessa aí. Já ouvi muito falar do BDM porque aqui, além de ponto turístico, é um ponto de tráfico, infelizmente. Agora, as pichações ficavam nas ruas internas e não no calçadão”, conta ele, sem se identificar. Na tarde dessa terça, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP) informou que as pichações tinham sido apagadas e que o Disque Denúncia está priorizando informações sobre o caso.>
Facção marcou iniciais em balaustradas na Barra
O Bonde do Maluco (BDM), citado pela fonte, tem se aliado com o TCP desde que o grupo carioca chegou na Bahia pelo Recôncavo e, depois, em Salvador para uma disputa por território com o Comando Vermelho (CV) nos bairros de Mussurunga e Vila Verde. O TCP é, inclusive, a segunda maior facção do Rio de Janeiro, onde se originou. Aqui, no entanto, ainda não é tão conhecido. >
Uma outra moradora, que prefere não se identificar por medo, se surpreendeu ao saber o significado das letras que já viu pichadas nas balaustradas diversas vezes. “Eu caminho aqui no calçadão sempre, mas não sabia o que era. A gente está exposto ao crime aqui na Barra. Direto tem furto e o tráfico não está para brincadeira. Os bandidos aqui não têm mais medo de nada”, conta ela. >
Procurada pela reportagem, uma fonte policial, que terá cargo e nomes preservados nesta matéria, confirma que o grupo está no local, mas pontua que as ações são combatidas. “No caso dessas pichações, assim como em outros lugares, elas são apagadas, mas o tráfico faz de novo. Apesar disso, a Barra está longe de ser uma área de conflitos armados, por exemplo, como vemos em outros pontos”, pondera.>
Para o cofundador da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, Dudu Ribeiro, a chegada de uma nova facção no bairro faz com que os conflitos motivados pela disputa de territórios se intensifique pela necessidade de uma reconfiguração das forças que já atuam naquele espaço. "É necessário perceber que todas essas formas de organização são resultado direto de uma lógica de guerra assumida pelo Estado. Para desmontar essas ações, é necessário que se faça um processo de desmonte da própria lógica de guerra", afirma.>
Dudu aponta para a escalada da presença de facções em bairros nobres e turísticos como a Barra como uma consequência da violência presente em toda a capital baiana. "O cenário de violência acirrada pela guerra às drogas, historicamente, se concentra nos bairros negros e periféricos, que são os bairros violentados nessa cidade. A violência que chega em bairros chamados nobres é residual nesse sentido", explica.>
A Polícia Militar da Bahia (PM-BA) e a Polícia Civil (PC) foram procuradas pela reportagem para responder sobre a situação. O espaço está aberto para o posicionamento das instituições.>