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Yan Inácio
Publicado em 22 de julho de 2025 às 07:00
A cantora Preta Gil, que morreu nesse domingo (20), aos 50 anos, após uma batalha de dois anos contra um câncer colorretal, foi uma voz marcante pela conscientização e humanização das pessoas com a doença, que ainda é um tabu. Ela ajudou, por exemplo, a desmistificar o uso da bolsa de colostomia e alertou os seguidores para a necessidade do diagnóstico precoce. >
O câncer colorretal é o terceiro mais comum entre os brasileiros, atrás apenas do câncer de pele e o de mama, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Desde que recebeu o diagnóstico, em fevereiro de 2023, a artista optou por compartilhar sua experiência com sinceridade. Em um vídeo publicado nas redes sociais logo após a descoberta da doença, afirmou: “Estou pronta para lutar”. >
Ao longo de quase dois anos de tratamento, ela manteve seus seguidores informados sobre os altos e baixos, com atualizações frequentes sobre internações, cirurgias e os desafios do tratamento oncológico. As falas públicas de Preta fizeram a coloproctologista Glícia Abreu observar um aumento na realização dos exames de colonoscopia em sua clínica. A técnica permite ao médico visualizar o interior do intestino grosso (cólon) e a parte final do intestino delgado com uma câmera.>
“Preta Gil teve essa coisa maravilhosa de ter exposto o plano dela e ter chamado a atenção a um câncer que é tão frequente, que é considerado o terceiro câncer mais frequente e que é tão pouco falado. Nós observamos que, como ela expõe muito o tratamento, o sofrimento, as pessoas ficam mais dispostas e abertas para a realização dos exames”, conta.>
Veja famosos que tiveram câncer colorretal
Mayara Maraux, coloproctologista do Hospital da Bahia, também destacou o papel da artista na divulgação do câncer colorretal. “À medida que há um alerta em relação a uma pessoa pública que teve um determinado diagnóstico e que venha a público chamar atenção sobre aquele diagnóstico, isso é de benefício público, porque a população em geral fica mais alerta aos possíveis sinais e sintomas daquela doença”.>
Alguns sintomas iniciais, que podem ser confundidos com complicações mais simples, podem ser pistas para um diagnóstico precoce. Sangue nas fezes, perda de peso repentina, alteração de ritmo intestinal, diarreia, prisão de ventre e anemia ferropriva são sinais de alarme, segundo Glícia Abreu. >
Preta Gil, inclusive, chegou a falar publicamente que se arrependeu de ter confundido os sintomas com “cansaço” e “stress”. “A gente vai banalizando tanta coisa. Muitas vezes é a doença se manifestando e a gente perde a oportunidade de começar um tratamento precoce", disse a filha de Gilberto Gil em publicação nas redes sociais em fevereiro deste ano.>
É indicado que qualquer pessoa acima de 45 anos faça esses exames, mesmo que não tenha sintomas, ou histórico familiar desse tipo de câncer. "O objetivo da colonoscopia é detectar os pólipos, que são lesões benignas, mas que têm potencial de se transformar em câncer e durante o próprio exame, nós retiramos essas lesões, livrando o paciente da chance desses pólipos se transformarem em câncer colorretal", detalha Mayara Maraux.>
Especialistas também apontam que os diagnósticos para esse tipo de tumor têm crescido entre pessoas com menos de 50 anos, como foi o caso de Preta, que descobriu o adenocarcinoma - tipo mais comum de câncer colorretal - em janeiro de 2023, aos 48 anos. O aumento pode estar relacionado ao estilo de vida dos jovens e adultos.>
“É comprovado que obesidade, sedentarismo, consumo de alimentos ultraprocessados, principalmente as carnes embutidas e defumadas, além do consumo de álcool e tabagismo, são os principais fatores de risco para o aumento do câncer colorretal na população jovem”, explica Mayara Maraux.>
Para evitar esse tipo de câncer, além dos exames preventivos, aderir a um estilo de vida mais saudável, com a prática de exercícios físicos e alimentação saudável podem ser uma alternativa, assim como adotar hábitos que protegem a mucosa do intestino. Então é bom evitar o consumo de carnes processadas, embutidas e defumadas, o consumo de álcool e o tabagismo, além disso, o consumo de fibra, segundo a médica, é apontado como o principal fator protetor contra o câncer colorretal.>