As bandas passam, mas Big Brother resiste: conheça principal produtor do rock na Bahia

Aos 52 anos, produtor é o principal nome do rock baiano das últimas décadas

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  • Doris Miranda

Publicado em 29 de março de 2024 às 11:00

O produtor Rogério Big Brother
O produtor Rogério Big Brother Crédito: Tainá Dayube

As bandas passam, mas o produtor Big Brother, 52, resiste como o principal nome do rock baiano das últimas décadas. Conhece todo mundo, sabe quem tem trabalho consistente, lança discos, produz shows, alimenta a rede da roqueiragem que liga a Bahia a outros pontos do país. Big tem mil e uma utilidades. E o mais bacana: viveu momentos históricos, mas não se prende ao passado. “Vivo intensamente o agora”, diz, sem saber o nível de sabedoria que repassa nessa máxima. Dono da loja @bigbazar_discos, continua lançando bandas novas e montando banquinha de discos em shows.

Você está no rock há quantos anos? O que o atraiu?

Meados dos longínquos anos 80 um jovem roqueiro, que não sabia dançar fricote, nem deboche, nem tititi, muito menos lambada, se via perdido. Mas, lá na Rua Primeira Travessa do Gama, nº 7, Caminho de Areia, logo chegariam informações, através de uma revista que o pai assinava, sobre um tal de Rock in Rio, e ele começa a identificar aquelas imagens como as de um álbum de figurinhas que colecionou. Começou a pintar suas camisas com os nomes das bandas do festival e logo veio conhecer outros deslocados iguais a ele. Conheceu o punk através de uns, o heavy metal por outros, e foi encontrando seu lugar no mundo caótico ao seu redor. O tempo passa, o colégio acaba e o rock prossegue. Tentou ser vocalista, passou por algumas bandas, mas o que incomodava era a falta de opções de lazer. Desse jeito, começou a se arriscar em pequenos shows e teve uma ótima escola na loja/selo Bazar Musical Records e depois nas lojas Pounding Metal, Punks Not Dead, Coringa, Maniac, Kaya e Bazar Musical.

Você já passou por várias ondas. Alguma característica específica que só tem aqui?

A cena de Salvador é única. As bandas baianas sempre tiverem a incrível capacidade de se reinventar; cada vez que uma acabava, seus músicos montavam mais três. Agora, a maior característica do rock baiano é que a Bahia não o conhece.

Muita gente já atuou na produção de bandas e shows por aqui. Você, no entanto, resiste.

Eu fui tomando gosto pelos bastidores até ir parar na Uivo Produções e no Festival Garage Rock (10 edições). Entre erros e acertos, dei meu meu primeiro passo além do alcance com o festival Canta Rock Pelourinho, em 1994, que foi também o primeiro grande prejuízo - e isso a gente nunca esquece. Diz uma lenda urbana que se um dia você teve que vender um carro para pagar o prejuízo de uma produção, e não desistiu, você não vai desistir nunca. Bem, nunca consegui comprar um carro mesmo, então, está tudo certo. Mas, foi com o punk e o heavy metal que aprendi a fazer eu mesmo as coisas. Se não gostava da programação de um festival eu fazia o meu. Assim, surgiu o festival bigbands, hoje em sua 15º edição. Foi assim também que fundei a bigbross records, hoje no coletivo Trinca de Selos, para gravar as bandas que gostava.

Durante anos, existiu a ideia de que Salvador não tem espaço para outros gêneros musicais, além da axé music e do pagode. Acha que as pessoas entenderam que cada gênero tem seu espaço e tamanho?

Salvador é a cidade menos curiosa do mundo, a cidade do ‘ouvi falar’. Brinco que o Brasil só soube que tinha rock em Salvador com a chegada da internet. Falando sério, a cena soteropolitana é altamente produtiva, respeitada no Brasil e mundo afora. Vivem me dizendo que o rock morreu, mas se você me perguntar eu te mostro pelo menos quatro shows de rock em Salvador; no inetrior, a mesma pegada. O rock só está morrendo para você que morreu pra ele. Eu nunca vou dizer ‘no meu tempo que era bom’, eu vivo o dia de hoje, intensamente.

Nos anos 90, rolou um boom de bandas, shows, álbuns e atenção da mídia. Por que isso não se repetiu?

Os anos 90 ficou nos anos 90 e não tenho saudosismo. Quem está vivo e atuante, como eu, sabe que a cena baiana fervilha. Sejam curiosos.

A pergunta óbvia: acha que, pra fazer sucesso, precisa sair de Salvador?

Se vc não consegue colocar 50 pagantes de R$ 20 num pequeno pub, vai sair daqui pra que? Tem artistas que farão sucesso só em sua rua ou só na sua cidade; outros, só na internet. Mas, esses que só têm público virtual, costumam sumir rápido.

Liste as bandas baianas que estão no seu top 10.

Aphorism, Erasy, Headhunter DC, Mystifier, Malefactor, Maglore, Vivendo do Ócio, Maev, Rubra, Dalmatans X, Ivan Motosserra, Retrofoguetes, Sufocation of Souls, Jacau, Escarniun, Búfalos Vermelhos e Orquestra de Elefantes, Injúria, Caloi 10, Tangolomangos, Jardim Soma, Behavior, Lugubra, Kalmia. Poderia listar umas 50. Então, novos companheiros e companheiras, jovens há mais tempo que eu: nosso tempo será sempre o agora e tudo isso nunca foi um sonho. Rock pra frente.