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Dos supermercados aos shoppings, conheça a saga dos Paes Mendonça

Um dos grupos empresariais mais tradicionais do Nordeste chega aos 90 anos

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 18 de maio de 2025 às 05:00

João Carlos Paes Mendonça é presidente do grupo, do conselho de administração e estrategista do JCPM Crédito: Divulgação

Pedro teve a ideia de oferecer uma caneca com água para os viajantes que passavam pela sua mercearia em Ribeirópolis, um povoado na Serra do Machado, em Sergipe. Aquele local provavelmente não seria o escolhido para um negócio de varejo com base nas ferramentas modernas de marketing que hoje guiam as grandes redes na escolha da melhor localização. Foi a inovação do pioneiro da família Paes Mendonça, de saciar a sede como um algo mais no negócio, que fez daquele local o berço do Grupo JCPM – hoje um dos maiores conglomerados empresariais do Nordeste, que tem na sua sigla as iniciais do filho de Pedro: João Carlos Paes Mendonça.

João Carlos Paes Mendonça será um dos palestrantes do Fórum ESG, que acontece nos dias 3 e 4 de junho.

Na última segunda-feira (dia 12), a mercearia de Pedro Paes Mendonça ganhou vida novamente, para o espanto generalizado de quem estava na festa de celebração dos 90 anos do grupo. Além do balcão, com as lamparinas para iluminar as noites em 1935, estava ali a projeção holográfica do próprio Pedro, com a voz recriada por inteligência artificial, dando conselhos aos filhos e netos em relação ao futuro. “Uma caneca de água nos trouxe até aqui”, destacou a projeção com um realismo impressionante. Era apenas o início de uma ode ao empreendedorismo sertanejo que marca a história dos Paes Mendonça, que partiram da Serra do Machado para conquistar os principais mercados nordestinos.

Aqui na Bahia, o mais conhecido representante da família foi Mamede Paes Mendonça, irmão de Pedro e tio de João Carlos. Muitos anos antes do “ali, pertinho do Bompreço”, já existia o “se precisar de alguma coisa, vai no Paes Mendonça”, rede que chegou a ter 86 lojas somente na capital baiana. Em Feira de Santana, as unidades que ficavam perto da rodoviária e a do bairro do Sobradinho eram garantia de encontrar com facilidade produtos normalmente vistos nas grandes capitais.

Mamede foi o primeiro Paes Mendonça a empreender na Bahia Crédito: Arquivo CORREIO

Na década de 90, a rede vendeu as 59 lojas que ainda lhe restavam para um grupo de investidores, que criou a Unimar, encerrando a trajetória da marca no estado. O sobrenome Paes Mendonça, entretanto, seguiu vivo no varejo supermercadista por mais tempo, com a marca Bompreço, de Pedro e João Carlos. Hoje, o Grupo JCPM mantém dois dos principais shoppings centers da capital baiana, o Salvador e o Salvador Norte.

A Rede Paes Mendonça chegou a ter 87 lojas em Salvador Crédito: Arquivo CORREIO

A emoção de ver a imagem do pai projetada fez o seu João Carlos quebrar rapidamente o protocolo. Tinha um discurso escrito, mas olhou para o Teatro RioMar, dentro do shopping de mesmo nome construído por ele, respirou e disse, sem muito sucesso ao tentar conter a emoção: “é duro minha gente, receber a indicação do meu pai do que fazer. Ele voltou para nos dizer o que fazer”.

“Esta é uma noite para celebrar os encontros de uma família forte e guerreira”, destacou João Carlos, já lendo o discurso. Segundo ele, o pai , que por toda a sua vida tinha se dedicado ao campo, não imaginava que estava plantando a semente de um gigantesco grupo empresarial. Mais cedo, numa conversa informal com jornalistas, o empresário atribuiu à capacidade de inovação o sucesso empresarial da família. Neste sentido, se o pai teve a ideia de oferecer água aos passantes, João Carlos, com o Bompreço, foi o responsável por colocar no mercado o cartão de crédito Hipercard e o Bomclube, um dos primeiros cartões fidelidade no ramo supermercadista do Brasil.

Nem é preciso que seu João Carlos argumente muito para provar a capacidade de inovação do Grupo JCPM. Num país em que apenas 0,01% das empresas chegam ao primeiro século de atividade, sobreviver por 90 anos, driblando planos econômicos e a insegurança jurídica, que são marcas do Brasil, demonstram que há algo diferente na empresa. E foi justamente esta certeza que fez o empresário de 86 anos encerrar as suas palavras em Recife convidando os presentes para a celebração do centenário do JCPM.

Gratidão é uma palavra muito presente no discurso e nas ações do empresário. O tio Mamede foi lembrado na história do grupo por ter ajudado, junto com outros empresários locais, Pedro e João Carlos a reconstruírem um armazém que foi incendiado em 1949. A solidariedade se sobrepôs à lógica concorrencial e gerou uma gratidão que ultrapassou décadas.

O incêndio é contado no primeiro capítulo do livro ‘JCPM – O grupo e a trajetória de João Carlos Paes Mendonça, o empresário que gosta de gente, de trabalho e de mudar a vida das pessoas’. Seu Pedro precisou conter o filho, na época com 20 anos, para evitar que ele tentasse enfrentar as labaredas. “Se entrar, você morre”. A biografia, escrita pelo jornalista Saulo Moreira, faz questão de registrar os nomes de quem estendeu a mão no momento crítico. Mamede e Euclides, irmãos de Pedro, o concorrente Gentil Barbosa, além de amigos da família, como Antônio e Manoel Andrade, estão entre os que se fizeram presentes. Antônio avisou à sua tesouraria que todos os recursos pedidos por João deveriam ser providenciados.

Há dois capítulos que merecem ser lidos com muita atenção. O número 6 conta a história do Bompreço, do seu nascimento nos anos 70, passando pela conquista do Nordeste, até o final da saga nos anos 2000. No 10º, o recomeço do grupo traz o retorno de seu João Carlos a Salvador. Destaques para a história da compra do terreno em que seria construído o Hiper Bompreço na Avenida ACM e, anos mais tarde, do Salvador Shopping, na Avenida Tancredo Neves, com um investimento de R$ 300 milhões na época – quase R$ 1 bilhão em valores atualizados. Alguns anos depois, foi a vez do Salvador Norte, com investimento de R$ 200 milhões (cerca de R$ 516 milhões em números atuais).

O advogado João Paulo Cavalcante Filho, responsável pelo prefácio do livro, diz que a obra conta “a história improvável de um menino que trocou sua infância pela aventura (quase insana) de conquistar o mundo”. E não há nada de exagero nestas palavras. João Carlos gosta de repetir que começou a trabalhar aos 9 anos e fez questão de comprovar isso durante a comemoração pelos 90 anos do grupo. Ao entregar uma placa comemorativa para Isaias de Assis Oliveira, 89 anos, fez questão de registrar: “este daqui é a única prova viva de que eu comecei a trabalhar com 9 anos, porque ele começou com 11 na mesma época que eu. Todas as outras testemunhas já estão em um outro plano”.

Idade para se aposentar ele já tem, mas parar não está nos planos do presidente do grupo, do conselho de administração e o principal estrategista do JCPM. “Espero viver até os 100 anos para continuar discutindo estratégia e expandir o trabalho de compromisso com as pessoas e as novas gerações”, projeta.

Apesar do protagonismo empresarial, seu João diz não gostar muito de aparecer. Diante de quase 20 jornalistas, ele, que é dono do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, avisa o diretor Laurindo Ferreira que na edição da última terça-feira (dia 13) estavam liberadas fotos dele e da esposa, Auxiliadora. “Eu acho o trabalho dos cronistas sociais uma coisa formidável, mas não gosto de aparecer lá”, riu. “Estou a 35 anos perdendo dinheiro com jornal”, diz.

Num momento de autocrítica, seu João afirma que um dos seus principais erros na atividade empresarial foi entrar em mercados em que não tinha conexão. Talvez por isso tenha concentrado suas atividades em Pernambuco, Ceará, Sergipe, sua terra natal, e Bahia. Em todos estes mercados, o empresário destaca, sem precisar de pesca, os investimentos já realizados e os planos para o futuro.

Em Salvador, ele enfatizou o trabalho social desenvolvido pelo Instituto JCPM nos bairros de Pernambués e São Cristóvão. Em Salvador, os institutos formam todos os anos entre 3,5 mil e 4 mil jovens em cursos de formação profissional ou de preparação para o Enem.

Na área empresarial, anunciou uma expansão de 10 mil metros quadrados no Salvador Norte. Além de ampliar o espaço para estacionamentos, o aumento servirá para abrigar a primeira unidade do Mix Mateus na capital baiana e de mais duas mega lojas, cujas bandeiras não foram anunciadas por ele. “Um aumento de 10 mil metros não é pouca coisa. Aquela área (o bairro de São Cristóvão), é simples, economicamente não é tão forte, mas um dia será”, acredita.

Apesar do olhar para o futuro e da enorme capacidade de inovação, o empresário guarda pelo menos uma semelhança com empresários mais tradicionais: não gosta de trabalhar com níveis elevados de alavancagem em seus negócios. Em resumo, não gosta de pagar juros elevados. “Me perguntam muito sobre as condições da economia. Eu tenho um amigo reclamando muito dos juros. Quem reclama de juros altos é quem está tomando crédito. Para mim está baixo, porque eu estou investindo”, diz.

O cuidado em relação à busca de crédito, explica, se dá pelo perfil do negócio de shopping, que João Carlos acredita ser de risco. “Somos alugadores de espaços. Estamos entre as quatro maiores empresas deste tipo no Brasil e entendemos que quem fatura neste negócio são os lojistas e não nós. As nossas receitas crescem o IGP-M (índice de referência para reajustes de aluguéis no país)”, afirma.

Para o empresário, a indústria de shoppings precisa acompanhar as mudanças nos hábitos dos consumidores, mas ele não vê o negócio como ameaçado pelo avanço do e-commerce ou das ferramentas digitais. “Não se pode negar que o avanço do e-commerce é uma bronca para os negócios, com produtos chineses entrando em todos os mercados. Mas tem uma coisa que o shopping é capaz de oferecer: o calor. O consumidor quer tocar, sentir o cheiro, e o e-commerce é frio”, compara.

“Nós pensamos os nossos shoppings como espaços para as pessoas conviverem. Estamos crescendo em serviços, lazer e restaurantes”, explica.

O IV ESG Fórum BAHIA é um projeto realizado pelo Correio, com patrocínio da Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, PetroReconcavo, Plano Brasil Saúde, Salvador Bahia Airport e Unipar, com apoio institucional do Alô Alô Bahia e da Prefeitura Municipal de Salvador, apoio da Claro, Salvador Shopping e Sebrae, e parceria do Hiperideal, TD Produções, Uranus2 e Zum Brazil Eventos.