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Thais Borges
Publicado em 10 de outubro de 2025 às 10:13
O Ministério da Educação (MEC) suspendeu, por 120 dias, o edital que criaria novos cursos de Medicina em todo o país. Mais de dois anos depois, o chamamento público de 4 de outubro de 2023 deveria ter o resultado preliminar divulgado nesta sexta-feira (10), mas foi adiado pela quarta vez. >
Apesar da previsão de resultados, a atualização publicada nesta sexta foi da portaria que suspende o processo, no Diário Oficial da União (DOU). O documento é assinado pelo ministro Camilo Santana. No último resultado divulgado, 36 futuras instituições baianas concorriam a novas graduações médicas. >
Ao CORREIO, o MEC informou que a decisão tem “caráter técnico e temporário” e é decorrente da necessidade de avaliar os impactos da expansão de vagas de Medicina em razão da conclusão de processos administrativos determinados por decisões judiciais. Em todo o país, cursos de Medicina têm sido autorizados por decisão judicial nos últimos anos. Além disso, graduações tradicionais como a da Universidade Federal da Bahia (Ufba) também enfrentam decisões judiciais para criação de vagas para estudantes. >
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No caso do edital de novos cursos, não é a primeira vez que há postergação. Após dois anos, faculdades e universidades acompanharam pelo menos quatro mudanças no calendário do edital. Inicialmente, a primeira versão do chamamento anunciava que a homologação do resultado final seria no dia 23 de agosto de 2024. >
Em novembro de 2023, o edital foi novamente adiado e a homologação ficou para 23 de setembro de 2024 - o que não ocorreu. Em dezembro de 2023, mais um atraso: outra publicação no DOU alterou a data para 23 de dezembro de 2024. >
Já em julho do ano passado, o edital foi modificado e a data final passou a ser 30 de maio de 2025. Em junho deste ano, contudo, o cronograma passou a apontar as datas de 10 de outubro para a divulgação do resultado preliminar e 30 de março de 2026 para a divulgação do julgamento de recursos e a homologação do resultado final. >
Critérios>
Segundo a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (Seres/MEC), o Edital nº 1/2023 foi elaborado com base em estudos que projetaram, para o período de dez anos, a aproximação do Brasil aos índices médios de médicos por habitante observados em países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Assim, a previsão era de criar 5.700 novas vagas. >
No entanto, houve um período de “moratória” para criação de cursos de Medicina (2018-2022) no país. Por cinco anos, a União recebeu mais de 360 decisões judiciais que determinavam que o MEC processasse pedidos de autorização de cursos ou que ampliasse vagas. Assim, chegaram a cerca de 60 mil vagas potenciais. >
“Posteriormente, a decisão do Supremo Tribunal Federal na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 81, publicada após o lançamento do Edital, determinou o prosseguimento de processos que haviam sido suspensos na fase inicial”, diz a nota do MEC.>
O órgão federal informou que, mesmo após a aplicação dos critérios da Lei nº 12.871/2013 (Lei dos Mais Médicos) — que exige a comprovação de necessidade social e de campos de prática adequados —, esses processos levaram a 4.400 novas vagas em cursos de Medicina. A Seres considera que esse número alterou “substancialmente” o cenário que havia fundamentado a publicação do edital de 2023. >
“Diante desse novo contexto, a Seres/MEC entende que é imprescindível avaliar os efeitos da judicialização sobre a rede de serviços de saúde e sobre a disponibilidade de campos de prática necessários para a formação médica de qualidade. A suspensão busca, portanto, preservar os objetivos da Lei dos Mais Médicos, garantindo que a expansão da formação médica ocorra de forma planejada, equilibrada e compatível com a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS)”, acrescentam.>
De acordo com o MEC, é essencial avaliar o impacto da expansão recente dos cursos médicos regulados pelos sistemas estaduais e distrital, que não estão sujeitos às mesmas diretrizes federais. No período de suspensão, o MEC e o Ministério da Saúde devem promover estudos técnicos atualizados sobre a infraestrutura pública disponível para a oferta de cursos de Medicina e sobre a adequação das metas de expansão e distribuição de vagas em âmbito nacional. “O MEC reafirma seu compromisso com a qualidade da formação médica, a sustentabilidade da expansão da oferta e o fortalecimento do SUS”, completam. >
Entenda o caso>
Em outubro de 2023, o MEC e o Ministério da Saúde anunciaram o edital para 5,7 mil vagas em novos cursos de Medicina, a partir do que é exigido pela Lei do Mais Médicos. Na época, foram identificados 1.719 municípios em todo o país que se encaixavam nos critérios de demanda. Entre os requisitos para uma cidade receber o curso, havia a exigência de um hospital com pelo menos 80 leitos e ter uma média inferior a 2,5 médicos por mil habitantes.>
O município também deveria ter capacidade para abrigar um curso de Medicina com pelo menos 60 vagas e não poderia estar incluído no plano de expansão de cursos de Medicina nas universidades federais.>
Em fevereiro, o MEC divulgou que a Bahia tinha 33 candidaturas de faculdades e universidades aprovadas na etapa de análise de admissibilidade e capacidade econômico-financeira da mantenedora. Outros três foram adicionados após o julgamento de recursos - chegando, assim, aos 36. Os cursos ficariam distribuídos em 12 regiões de saúde do estado - sendo que nenhum estaria localizado em Salvador.>
Uma das instituições habilitadas foi a Faculdade Católica de Medicina da Bahia, que deve ser instalada em Camaçari. A mantenedora é a Associação Universitária e Cultural da Bahia, instituição filantrópica responsável pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal). A universidade, que não tem fins lucrativos, é uma das mais tradicionais e antigas do estado, tendo sido fundada em 1961.>
Além de Camaçari, que tem outras quatro concorrentes além da Católica, há possibilidade de novos cursos em cidades como Cariranha, Jequié, Maragogipe, Mucuri e Paripiranga. Conheça a lista completa aqui. >
Confira a nota do MEC na íntegra>
"A Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior do Ministério da Educação (Seres/MEC) informa a suspensão por 120 dias dos prazos previstos no Edital nº 1/2023, que trata da seleção de propostas apresentadas por mantenedoras privadas de Instituições de Ensino Superior (IES) do Sistema Federal de Ensino para autorização de funcionamento de cursos de Medicina. A decisão tem caráter técnico e temporário, e decorre da necessidade de avaliar os impactos da recente expansão de cursos e vagas de Medicina em razão da conclusão de processos administrativos determinados por decisões judiciais.
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O Edital nº 1/2023 foi elaborado com base em estudos que projetaram, para o período de dez anos, a aproximação do Brasil aos índices médios de médicos por habitante observados em países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), prevendo a criação de 5.700 novas vagas. Durante a chamada “moratória” para criação de cursos de Medicina (2018-2022), a União recebeu mais de 360 decisões judiciais determinando ao Ministério da Educação o processamento de pedidos de autorização de cursos ou ampliação de vagas, totalizando aproximadamente 60 mil novas vagas potenciais. Posteriormente, a decisão do Supremo Tribunal Federal na Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) nº 81, publicada após o lançamento do Edital, determinou o prosseguimento de processos que haviam sido suspensos na fase inicial.>
Mesmo com a aplicação dos critérios da Lei nº 12.871/2013 (Lei dos Mais Médicos) — que exige a comprovação de necessidade social e de campos de prática adequados —, a conclusão desses processos resultou na criação de 4.400 novas vagas em cursos de Medicina. Esse dado alterou substancialmente o cenário que havia fundamentado a publicação do Edital nº 1/2023.>
Diante desse novo contexto, a Seres/MEC entende que é imprescindível avaliar os efeitos da judicialização sobre a rede de serviços de saúde e sobre a disponibilidade de campos de prática necessários para a formação médica de qualidade. A suspensão busca, portanto, preservar os objetivos da Lei dos Mais Médicos, garantindo que a expansão da formação médica ocorra de forma planejada, equilibrada e compatível com a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS).>
O Ministério da Educação também considera essencial avaliar o impacto da expansão recente dos cursos de Medicina regulados pelos sistemas estaduais e distrital, que não estão sujeitos às mesmas diretrizes federais. Durante o período de suspensão, o MEC, em colaboração com o Ministério da Saúde, realizará estudos técnicos atualizados sobre a infraestrutura pública disponível para a oferta de cursos de Medicina e sobre a adequação das metas de expansão e distribuição de vagas em âmbito nacional.>
O MEC reafirma seu compromisso com a qualidade da formação médica, a sustentabilidade da expansão da oferta e o fortalecimento do SUS, pilares da política pública estabelecida pela Lei nº 12.871/2013".>