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Na véspera do Natal, saiba o que a indústria química espera do velhinho barbudo

Futuro de atividade econômica que é fundamental para a economia baiana depende da sanção presidencial

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 21 de dezembro de 2025 às 05:00

Camaçari abriga o maior polo petroquímico integrado da América Latina, responsável por 9% do PIB da Bahia Crédito: Agência BAPress / Divulgação COFIC

A indústria que moldou a realidade socioeconômica da Bahia na segunda metade do século XX e nos primeiros anos do XXI passa por um processo acentuado de transformação. A petroquímica caminha para trocar os combustíveis fósseis como a sua principal matéria-prima por produtos de fontes renováveis. Além disso, a atividade enfrenta renhida concorrência de empresas estrangeiras, turbinadas por pesados subsídios de seus países, ou pela oferta de enormes volumes de matérias-primas baratas. É nesse contexto que a petroquímica brasileira chega ao final de 2025 esperando por uma assinatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto de lei que cria o Presiq, programa que tem potencial de ajudar a reposicionar a indústria química brasileira no mercado internacional.

Com o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), já aprovado pelo Congresso Nacional, o segmento responsável por 11% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro espera reverter uma curva negativa que vem se repetindo nos últimos anos e voltar a impulsionar o desenvolvimento brasileiro. Em duas frentes de atuação, o programa vai conceder créditos sobre insumos utilizados e em novos investimentos industriais, estimulando o surgimento de novos projetos. Atualmente, a indústria química opera com uma média de utilização da capacidade instalada em torno de 60%, quando o ideal seria de pelo menos 80%. Isso se dá porque a produção nacional não consegue fazer frente aos preços dos produtos importados, nas condições atuais.

Com o programa, as estimativas da indústria química é que as unidades industriais ampliem o uso da capacidade instalada para uma média de 95% até 2029, o que trará dois efeitos positivos para o país. O primeiro é o aumento na arrecadação de R$ 65,5 bilhões, e o segundo é a necessidade de novos investimentos, o que significa mais oportunidades para geração de empregos e renda.

Os números do segmento demonstram que o Brasil é um país com vocação para a indústria química. Os dados mais recentes divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) indicam que por aqui se produzem os produtos químicos mais limpos do planeta, com 82,9% da energia utilizada proveniente de fontes renováveis. Além disso, a produção emite metade da quantidade de CO2 para cada tonelada em comparação com outros lugares do mundo.

Petroquímica é o carro-chefe do Polo Industrial de Camaçari por Divulgação

Do ponto de vista econômico, a atividade é a sexta maior do mundo, internamente é a primeira em arrecadação de tributos federais, com 13,4% de participação no total e é responsável por mais de 2 milhões de empregos diretos e indiretos. No ano passado, registrou um faturamento líquido de quase US$ 159 bilhões, o que equivale a cerca de R$ 840 bilhões. Além do impacto direto, cada um R$ 1 milhão investido em aumentos de produção geram um acréscimo de R$ 960 mil no PIB do país, 15 novos postos de trabalho e um adicional de R$ 560 mil na arrecadação.

Desenvolvimento

Aqui na Bahia, onde o desenvolvimento da indústria de transformação e o da petroquímica se confundem, um olhar mais aguçado para o Polo Industrial Camaçari explica porque todos os baianos deveriam torcer para Lula pegar a caneta e sancionar o Presiq. Por aqui, a petroquímica é responsável por cerca de 5 mil empregos diretos, de acordo com dados do Observatório da Indústria, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). “Pode até parecer muito pouco, mas na indústria existe um fator de encadeamento maior do que outros segmentos”, destaca o economista Carlos Danilo Peres, lembrando ainda que a atividade está na base de outras cadeias produtivas. Os cálculos do Observatório indicam que os 5 mil empregos diretos fomentam outros 65 mil postos de trabalho no decorrer de cadeias produtivas.

Outro aspecto importante está na média salarial dos trabalhadores, destaca Danilo Peres. De acordo com os dados do Observatório, a atividade paga em média R$ 13 mil brutos, o que representa três vezes a média da indústria em geral e seis vezes e meia o salário médio no comércio. Em termos de massa salarial, o impacto direto é de R$ 900 milhões por ano, chegando a R$ 3 bilhões, quando se consideram os postos indiretos. O impacto no PIB do estado é de R$ 36 bilhões, com uma participação de 9%.

“A Bahia precisa estar muito atenta aos desafios enfrentados pela petroquímica, porque não é um processo simples montar o parque industrial que temos aqui e o estado não pode perder essa receita”, avalia.

Para o economista Paulo Gala, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o desenvolvimento do Brasil passa pelo aumento no valor agregado da sua produção. Em outras palavras, é preciso transformar cada vez mais as commodities em produtos com mais valor, papel que as indústrias química e petroquímica podem exercer. “Não existe melhora na qualidade de vida, de bem-estar, de salário sem aumento de valor adicionado. O caso da Bahia é um é um exemplo claro disso, a implantação do polo industrial, do polo petroquímico, foi este vetor de desenvolvimento”, lembra.

Para o economista, o futuro da petroquímica passa por uma transição para matérias-primas renováveis. Ele destaca as vantagens competitivas que o Brasil e a Bahia, particularmente, possuem. “Estamos falando de um país, com a Bahia inserida neste contexto, que tem vocação para produção de biomassa, biocombustíveis, como biodiesel, como o SAF (combustível para aviação), para o etanol, que é base para o plástico verde. Temos tudo para caminhar da química do presente para a química sustentável, que é o futuro”, aponta. “É uma oportunidade maravilhosa para o Brasil, porque resolve a questão do valor adicionado, da industrialização, e resolve a questão da transição ambiental energética”, avalia.

Tudo bem, mas a esta altura é possível que os leitores estejam se perguntando porque o poder público deveria subsidiar este movimento. Paulo Gala lembra que os mais diversos países do mundo têm apoiado a sua indústria química, desde a China socialista aos Estados Unidos capitalistas, liderados pelo presidente Donald Trump. “A Europa acabou de lançar um mega plano de estímulo ao setor químico”, complementa, avisando que a Arábia Saudita Oriente Médio caminha para o fortalecimento da sua própria indústria, que será alimentada por uma das maiores reservas petrolíferas do mundo.

“O governo brasileiro é parte dessa história. A gente não vai conseguir chegar em lugar nenhum sem a participação dele”, acredita. Gala acredita que a discussão a respeito dos subsídios deve se dar com a avaliação do retorno dos mesmos para a sociedade.

Concorrência acirrada

Não existe uma metáfora mais assertiva do que dizer que a indústria química brasileira está sangrando. Mês após mês no decorrer dos últimos anos, foram renovados recordes negativos de ociosidade em fábricas – muitas fecharam as portas –, ao mesmo tempo em que o percentual de importação também cresceu de forma avassaladora. Com uma ociosidade variando entre 35% e 40%, a indústria está no pior patamar desde 1990, quando o acompanhamento começou a ser feito. Os efeitos mais diretos deste cenário são projetos de expansão parados, além do fechamento de unidades, temporariamente ou mesmo em caráter definitivo.

No ano passado, a Fortal, do Grupo Formitex, que tem operações em Candeias, na Bahia, anunciou a paralisação de suas atividades, alegando a concorrência desleal dos produtos importados no mercado nacional. Outro caso emblemático é o da Fafen, fabricante de fertilizantes da Petrobras e uma das unidades mais antigas do Polo de Camaçari, que já foi posta em hibernação, arrendada e posteriormente retornou para o controle da estatal, com a perspectiva de voltar a operar no início de 2026. Mas a realidade é que no país do agronegócio é mais barato comprar fertilizantes no exterior do que por aqui. Quase tudo vem de fora.

André Passos, presidente da Abiquim, acredita que é muito perigoso para o país aceitar se tornar um mero importador dos produtos químicos e petroquímicos. “Somos uma indústria de complexidade média para alta, existe muita ciência no que fazemos, isto é um patrimônio do país. Quando tivemos a pandemia, por exemplo, o mundo percebeu o quanto é importante ter uma indústria farmacêutica forte, além da importância dos insumos químicos e petroquímicos. Tudo isso é a indústria química”, diz.

“Perder setores como o nosso significa ter dificuldades de crescer economicamente e se desenvolver como país”, avisa.

Para ele, atualmente, o principal desafio está no acesso à matéria-prima a custos competitivos. Em todo o mundo, a indústria está se voltando cada vez mais para o uso do gás natural e menos para a nafta, um subproduto do petróleo. Ainda que permita a fabricação de uma quantidade menor de substâncias, o gás é altamente competitivo em termos de custos. Foi ele o responsável pelo renascimento da indústria petroquímica norte-americana, mais precisamente nos últimos quinze anos. Os americanos dominaram a tecnologia de exploração do shale gas e, a partir dele, produzir etano e eteno. “O mundo inteiro passou a construir novas unidades adaptadas para utilizar gás”, diz.

O movimento de migração para o gás também é uma realidade na indústria brasileira, incluindo-se aí o complexo petroquímico em Camaçari. Uma das unidades da Braskem na Bahia já iniciou um processo de migração para o gás.

Segundo André Passos, o desafio é que a maior parte das estruturas de produção petroquímicas no país são baseadas em nafta. Ele acredita que o futuro da atividade passa por definições de Estado, da atividade como essencial para o país, com a garantia de matéria-prima competitiva, seja ela a nafta ou com investimentos para o aproveitamento do etano no pré-sal, que atualmente não é aproveitado economicamente. “Tem que ter uma política pública, tem que ter uma orientação de Estado de que esse produto é fundamental para o desenvolvimento industrial, portanto, desenvolvimento econômico e social brasileiro”, acredita.

É neste contexto que a petroquímica aguarda uma definição do velhinho barbudo, que não é o Papai Noel, a respeito da assinatura do Presiq – é o primeiro passo para um feliz 2026 na indústria química brasileira.